sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Fã de brasileiros, técnico do Shakhtar detona jogadores e Flu: 'Falta profissionalismo. Toda Europa reclama'

DENNIS GROMBKOWSKI/BONGARTS/GETTY IMAGES
Mircea Lucescu não poupou palavras para criticar profissionalismo de atletas e clubes do Brasil
Mircea Lucescu não poupou palavras para criticar profissionalismo de atletas e clubes do Brasil
O romeno Mircea Lucescu, técnico do Shakhtar Donetsk, nunca escondeu sua admiração pelos jogadores brasileiros, mas sua paciência parece ter se esgotado. Em entrevista ao site oficial do clube ucraniano, o treinador disparou contra o profissionalismo dos atletas do país e fez duras críticas ao Fluminense, que tenta repatriar o Wellington Nem.
"Afinal de contas, não existe só o talento, mas também os critérios morais pelos quais se avaliam as pessoas. Os treinadores fazem frequentemente críticas dirigidas aos jogadores brasileiros. Dizem que é difícil manter mais do que dois na mesma equipe. Não é nada fácil trabalhar com eles", disse o treinador, subindo o tom contra Bernard e Nem.
"O mesmo é válido para o Bernard: chegou um mês e meio atrasado depois da assinatura do contrato. Mas nós o entendemos: ele é jovem. Mas agora está de novo atrasado, eu lhe dei duas semanas para descansar depois da Copa, do mesmo jeito que dei ao Srna. Ele deveria ter vindo duas semanas depois, supostamente, no dia 27, 28 no máximo, e ele ainda não veio."
"O mesmo com o Nem. Dizem que o Fluminense quer ficar com ele. Mas foi o Fluminense que nos apresentou o Nem quando ele estava tendo problemas na virilha fazia 8 meses e não nos disseram nada sobre isso. E agora querem pegar ele de volta como agente livre. No ano passado nós pagamos um bom dinheiro pelo passe dele e o próprio Nem assinou um bom contrato para si. E acabou não jogando nunca, esteve sempre lesionado. Para falar a verdade, eu nem sei direito o nível de suas capacidades!", seguiu, sobre Wellington Nem.
GETTY
Nem trocou o Flu pelo Shakhtar por R$ 25 milhões
Nem trocou o Flu pelo Shakhtar por R$ 25 milhões
"E agora eles querem ele de volta, livre, e exercem pressão sobre o jogador para que ele fique no Fluminense. Desse jeito apenas complicam a situação para ele: a relação com a equipe técnica e os colegas de equipe. A impressão que dá é que nos tomam por tolos. Nos venderam o jogador e agora criam pressão para que, passado um ano, esse mesmo jogador regresse como agente livre! A mim não me surpreende o comportamento de alguns jogadores, quando a própria liderança do seu clube se comporta desse jeito! Enviam jogadores talentosos para a Europa sem se preocuparem com a educação de seu relacionamento profissional. Nem com as obrigações ditadas pelo contrato que eles próprios assinaram. No que diz respeito a isso eu me sinto, evidentemente, muito insatisfeito", encerrou.
Leia abaixo, na íntegra, a entrevista de Lucescu:
É difícil trabalhar com os brasileiros? 
É muito difícil trabalhar com eles. Eu gosto muito deles e aprecio demais o futebol brasileiro. Mas o seu profissionalismo deixa a desejar. Quando se assina um contrato, eles precisam entender que esse contrato deve ser respeitado. O Shakhtar subiu para um nível que não pode ter jogadores pouco profissionais. Porque do Shakhtar se exige unicamente que melhore os resultados. E eu chamo a atenção dos agentes dos nossos brasileiros que não é correto conspirarem para levar daqui os jogadores. Eles trabalham contra os seus jogadores! Os agentes, infelizmente, pensam em primeiro lugar em seus interesses profissionais e não pensam no fato de os brasileiros não serem só atletas, mas também seres humanos. Apenas seres humanos! Ao fazerem pressão sobre os jogadores, eles afetam as suas vidas e a vida de suas famílias. Afinal de contas, não existe só o talento, mas também os critérios morais pelos quais se avaliam as pessoas. Os treinadores fazem frequentemente críticas dirigidas aos jogadores brasileiros. Dizem que é difícil manter mais do que dois na mesma equipe. Não é nada fácil trabalhar com eles. Eles são tão talentosos, quanto confiantes em seus instintos para tomar decisões. E acabam tomando muitas vezes decisões sem pensar. Por isso é que nós, os que convivem com eles, temos a obrigação de ajudá-los a se comportarem profissionalmente.
FRANCK FIFE/AFP/GETTY IMAGES
Luiz Adriano foi um dos elogiados por Lucescu
Luiz Adriano foi um dos elogiados por Lucescu
Está dizendo que todos os clubes têm problemas com os jogadores brasileiros? 
Toda a Europa se queixa. Até mesmo o (Daniel) Alves, do Barcelona, disse certa vez que não conseguia fazer como o resto dos brasileiros, sair do clube sempre com algum conflito. "Eu respeito o meu clube, o contrato que assinei, respeito todo mundo em volta", foram as palavras de Alves. Muitas coisas são simplesmente inexplicáveis. Eles não têm, infelizmente, este tipo de educação: cumprir os seus contratos e executar as funções que lhes são designadas. Mas há exceções. Muito depende dos agentes. Do agente de Luiz Adriano, por exemplo, só posso dizer coisas boas. Mas tem pessoas que não têm princípios de vida e que apenas exploram os seus protegidos. Eu não estou falando apenas e especificamente dos nossos jogadores brasileiros, mas no geral, dos jogadores brasileiros que atuam na Europa. Tivemos alguns problemas com Matuzalém e com Elano. Mas nunca com Fernandinho, Jadson ou Brandão. Sim, nós gostamos muito deles, estamos junto deles, mas, do mesmo jeito que a gente cumpre os contratos assinados com eles, eles devem cumprir as condições com as quais assinaram o seu nome.
Isso vale também para Bernard? 
O mesmo é válido para o Bernard: ele chegou um mês e meio atrasado depois da assinatura do contrato. Mas nós o entendemos: ele é jovem. Mas agora está de novo atrasado, eu lhe dei duas semanas para descansar depois da Copa, do mesmo jeito que dei ao Srna. Ele deveria ter vindo duas semanas depois, supostamente, no dia 27, 28 no máximo, e ele ainda não veio. O mesmo com o Nem. Dizem que o Fluminense quer ficar com ele. Mas foi o Fluminense que nos apresentou o Nem quando ele estava tendo problemas na virilha fazia 8 meses e não nos disseram nada sobre isso. E agora querem pegar ele de volta como agente livre. No ano passado nós pagamos um bom dinheiro pelo passe dele e o próprio Nem assinou um bom contrato para si. E acabou não jogando nunca, esteve sempre lesionado. Para falar a verdade, eu nem sei direito o seu nível de suas capacidades! 
FLUMINENSE F.C.
Wellington Nem, à direita, entra em campo acompanhado de Fred e Bruno, de costas
Lucescu detonou comportamento do Flu com Nem
E agora eles querem ele de volta, livre, e exercem pressão sobre o jogador para que ele fique no Fluminense. Desse jeito apenas complicam a situação para ele: a relação com a equipe técnica e os colegas de equipe. A impressão que dá é que nos tomam por tolos. Nos venderam o jogador e agora criam pressão para que, passado um ano, esse mesmo jogador regresse como agente livre! A mim não me surpreende o comportamento de alguns jogadores, quando a própria liderança do seu clube se comporta desse jeito! Enviam jogadores talentosos para a Europa sem se preocuparem com a educação de seu relacionamento profissional. Nem com as obrigações ditadas pelo contrato que eles próprios assinaram. No que diz respeito a isso eu me sinto, evidentemente, muito insatisfeito. Ainda mais, porque amo demais os brasileiros e dou grande valor ao talento deles. No entanto, eles estão cercados por pessoas que não têm perfil elevado. Por isso eu vou fazer tudo o que estiver ao meu alcance para manter o nosso grupo. E vou tentar chegar até eles: afinal, todos estes anos que eles passaram no Shakhtar só lhes fizeram bem.
Como pretende convencê-los? 
Não nos esqueçamos como eles eram quando chegaram aqui. Douglas e Teixeira tinham 18 e 19 anos. Os outros - o Fernandinho e o Jadson... Onde estão eles agora, a que nível subiram. Garantiram para eles e seus familiares uma vida futura. Eu quero que eles entendam isso muito bem. Quero que eles não esqueçam que, além de direitos, eles têm também muitas responsabilidades. Isso é mais para os jogadores mais jovens, que são influenciáveis e que, sem conhecerem a situação, sem compreenderem muitas coisas, agem por instinto. Como treinador, eu fui colocado em uma situação difícil. Muitos dos que nos deixaram estavam praticamente apresentados a outros clubes europeus! Eles são jogadores de alto nível. Têm provavelmente um bom futuro pela frente. Mas aqueles que precisam destes jogadores devem abordar o clube civilizadamente e resolver corretamente todas as questões. A imprensa europeia escreve diariamente sobre um ou outro jogador. Eles são jovens, leem isso... Por isso gostaria que eles se sentissem em um ambiente mais calmo. Mas, pessoalmente, para mim vai ser muito difícil encontrar uma linguagem comum com os agentes que se aproveitam da situação e fazem pressão sobre os nossos jogadores.
GETTY
No atual elenco, Shakhtar Donetsk conta com 12 brasileiros
No atual elenco, Shakhtar conta com 12 brasileiros. Na foto, Douglas Costa e Alex Teixeira
Se algum jogador que tivesse saído 'à revelia' de um outro clube quisesse vir jogar para o senhor, você o aceitaria? Nunca! Eu não teria nunca confiança nesse jogador. Do mesmo jeito que os presidentes dos grandes clubes não vão nunca prestar atenção nesse tipo de jogadores e aos agentes que tentam levar os jogadores.


Mas, então, com o que contam eles? Que garantias lhes dão os treinadores que os prometem encaixar? Isso não é sequer tema de discussão porque os jogadores têm contratos, têm um preço de transferência. Ainda mais porque alguns deles apenas renovaram os contratos no ano passado, com um aumento em seus salários e assim por diante.