sexta-feira, 18 de julho de 2014

Muricy muda seu modelo de jogo, mas vai precisar revezar as estrelas para mantê-lo no São Paulo

OLHO TÁTICO
Na vitória sobre o Bahia, a consolidação de uma proposta ofensiva, baseada em movimentação e posse de bola.
Na vitória sobre o Bahia, a consolidação de uma proposta ofensiva, baseada em movimentação e posse de bola.
O São Paulo teve a melhor atuação coletiva no retorno do Brasileiro nos 2 a 0 sobre o Bahia na Fonte Nova pela décima rodada. Com mais de um mês para trabalhar, Muricy Ramalho consolidou mudanças que vinham ganhando forma bem antes da parada para a Copa - leia AQUI. Talvez o Mundial tenha ajudado os jogadores a compreender melhor.
O técnico vem alterando seu modelo de jogo. Ou suas idéias na montagem de uma equipe. Muricy prefere que seu time tenha a bola, mas antes não fazia tanta questão. Também era confortável jogar fechado, saindo em contragolpes, apostando na bola parada e, se tivesse um talento para desequilibrar, acionando até a exaustão - Conca no Fluminense e Neymar no Santos, os exemplos mais bem sucedidos. Para compensar a liberdade do craque, jogadores marcadores.
Agora a proposta é outra. Os conceitos privilegiam a técnica. Na equipe que entrou em campo em Salvador não há um atleta essencialmente marcador. Para compensar, todos precisam participar na recomposição. Pressionando quem está com a bola, aproximando os setores, fechando espaços para as possibilidades de passe ou, se houver necessidade, parar o jogo com faltas. Recurso legítimo para não ser surpreendido. Sem exageros, obviamente.
Ao atacar, valoriza a posse. Toca curto, inverte o lado da jogada com paciência. Movimentação constante na frente para desorganizar o rival e criar espaços. Bola no chão. 66% de posse no jogo. No campeonato é um dos cinco que mais ficam com a pelota e acertam passes. Mas ao contrário da edição passada do Brasileiro, essa posse vem junto com a objetividade. O tricolor paulista tem o segundo melhor ataque e é o quinto que mais acerta finalizações.
Ganso está mais móvel, participativo. Porque os companheiros aceleram o jogo e quase sempre há uma opção de passe. Souza cumpre todas as atribuições de um volante moderno. Marca e vai jogar, recua na linha dos zagueiros para ajudar na saída de bola. Aparece na frente para servir os companheiros.
OLHO TÁTICO
Movimentação de Souza contra o Bahia: volante moderno, que joga de uma intermediária a outra, ajuda na saída de bola e ainda aparece no ataque.
Movimentação de Souza contra o Bahia: volante moderno, que joga de uma intermediária a outra, ajuda na saída de bola e ainda aparece no ataque.
Tem a companhia de Maicon, que evolui com Muricy e procura se dedicar mais no combate. Douglas e Álvaro Pereira são laterais ofensivos, mas que apóiam alternadamente. Os atacantes ajudam dificultando a saída do adversário. Futebol coletivo, bonito de ver em alguns momentos, como na jogada do segundo gol. Primeiro oficial de Kardec pelo novo clube.
REPRODUÇÃO TV GLOBO
Flagrante do segundo gol do São Paulo: seis jogadores no ataque, três dentro da área, e Ganso servindo Souza que acha Kardec
Flagrante do segundo gol do São Paulo: seis jogadores no ataque, três dentro da área, e Ganso servindo Souza que acha Kardec
O ex-atacante do Palmeiras entrou muito bem. Sabe fazer o trabalho de pivô, mas também se mexe pelo ataque. Abre espaços, dá seqüência às jogadas, lê bem o jogo. Osvaldo e Ademilson são a velocidade pelos flancos, fundamentais para aprofundar as jogadas, aproveitar os espaços às costas da defesa.
A idéia é ótima, atual. Independe do sistema tático, que varia do 4-2-3-1 para o 4-3-3. Mas requer muita concentração e fôlego. Sem intensidade a marcação fica frouxa e não há controle de jogo. Depois dos 2 a 0 o São Paulo teve alguns problemas diante de um time frágil. Contra Cruzeiro ou Corinthians pode ser fatal.
Por isso será fundamental rodar o elenco, revezar. Cultura que ainda encontra resistência no futebol brasileiro. Para manter o modelo não basta voltar com Pato e estrear Kaká. Um quarteto ofensivo com a dupla e mais Kardec e Ganso pode ser bonito no papel. Na prática, a tendência é que perca rapidez e dinamismo.
Kaká pode iniciar como um dos três meias, porém mais aberto. Como atuou no final da Era Mano Menezes na seleção brasileira. Alternando com Ganso ou Pato no centro. Já que Luis Fabiano ficará um bom tempo fora por lesão, Kardec deve se fixar no centro do ataque. Muricy só não pode juntar todos. Porque Osvaldo, mesmo sendo bem mais limitado tecnicamente, é quem dá profundidade. Acelera para variar o trabalho com a bola e não sacrificar os laterais. Também marca mais. Não pode sair do time base.
OLHO TÁTICO
Uma possível formação do quarteto ofensivo são-paulino, com Kaká - Pato e Luis Fabiano esperam, mas também pode ser o contrário. Revezamento de peças.
Uma possível formação do quarteto ofensivo são-paulino, com Kaká - Pato e Luis Fabiano esperam, mas também pode ser o contrário. Revezamento de peças.
Revezar as estrelas em campo. "Turnover" como se diz na Inglaterra. Para Muricy Ramalho manter o funcionamento e aprimorar seu novo jeito de pensar futebol vai precisar da colaboração de todos. Correndo e priorizando o time. No campo ou no banco de reservas. Só assim o São Paulo continuará forte para lutar em igualdade com os principais concorrentes pelo sétimo título brasileiro.