segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

E o futebol sobrevive

A frase tem tom de piada, mas foi dita textualmente na quinta-feira pelo presidente do Náutico, Paulo Wanderley: "Tem uns jogadores aí que acham que o Bom Senso vai prevalecer no futebol brasileiro! Não vai!" Ao tentar afirmar que os cartolas não vão se curvar ao movimento Bom Senso F. C. --e ao esquecer o complemento F. C.--, Paulo Wanderley poderia terminar o raciocínio com algo como: "Enquanto houver dirigentes como eu neste país, o bom senso jamais prevalecerá!"
O Náutico tem a segunda pior campanha da história dos pontos corridos. Só o América-RN fez menos pontos, em 2007.
Na quinta-feira, a ameaça de greve expôs as razões do fracasso. Não eram apenas os atrasos salariais, segundo relatos dos atletas. Nem a absurda determinação de não pagar quem estivesse no departamento médico.
Em maio, o presidente Paulo Wanderley anunciou a criação de um conselho gestor composto por 17 dirigentes. Os jogadores contam que a partir daí cada um desses torcedores travestidos de dirigentes passou a visitar e levar acompanhantes ao vestiário: "Teve treino em que eu precisei disputar espaço com eles para fazer xixi", conta um atleta.
Outro contou ter seu carro revistado na entrada do centro de treinamento. O atacante uruguaio Olivera havia sido afastado pela direção, estava proibido de entrar no CT, e os vigias desconfiavam que algum atleta pudesse escondê-lo no porta-malas.
Na quarta-feira à noite, o futebol brasileiro deu uma impressionante demonstração de vida, com o Maracanã ocupado em 90%, 100% vestido de vermelho e preto. Uma noite no país do futebol.
Estava tão bom poder falar só de bola...
Então chegou a quinta e a crise do Náutico veio acompanhada do anúncio da criação da Copa Verde, disputada entre equipes do Norte e Centro-Oeste.
O torneio da ocupação do território esquecido pelo futebol brasileiro seria ótimo se criado por razões técnicas e se preenchesse um pedaço ocioso do calendário.
Mas o objetivo da CBF é político. Tenta acima de tudo agradar os presidentes de federações e angariar votos para a eleição de Marco Polo Del Nero, em abril. Além disso, engrossa o número de jogos no período em que os jogadores de clubes pequenos têm emprego. Os nanicos precisam de partidas onde elas rareiam e há desemprego, de julho a novembro.
Não de fevereiro a abril, época de cheia até do rio Amazonas.
Na sexta-feira, o sorteio dos grupos da Copa nos fará voltar a falar de bola. Análise dos grupos, dos adversários do Brasil... Três dias para falar de futebol, só de futebol! Bem pensado... Três dias para falar de Copa do Mundo bem no final de semana da decisão do Brasileirão!


"Tem uns jogadores aí que acham que o bom senso vai prevalecer!"