sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Adnan Januzaj e Diego Costa têm sido colocados diante de decisões difíceis sobre que países escolherão representar em suas carreiras. Dois casos bem diferentes, mas que levantam discussões interessantes a respeito de identificação, legislação e o futuro do futebol de seleções.
Afinal, ser nascido ou criado em um país tem de ser exigência para que o jogador o defenda? Laços de sangue, laços culturais ou mesmo uma melhor oportunidade esportiva também são levados em consideração na hora de optar por uma seleção. E qual o problema nisso?
O principal problema das atuais regras da Fifa diz respeito à possibilidade de um jogador mudar de ideia e atuar por um país se tiver feito apenas amistosos por outro. Parece uma flexibilização excessiva, o que faz com que Diego Costa possa jogar pela Espanha meses depois de ter vestido a camisa do Brasil.
É verdade que as leis de antigamente eram ainda mais frouxas nesse sentido, sem qualquer tipo de restrição, permitindo que Di Stéfano jogasse por Argentina e Espanha, Puskas por Hungria e Espanha, Altafini (Mazzola) por Brasil e Itália.
De qualquer maneira, mesmo que não se retorne àqueles tempos, poderia haver um pouco mais de rigidez. No mínimo atar o jogador em sua primeira partida pela seleção principal, fosse amistosa ou de competição.
Assim, o jogador teria de escolher uma vez só. Mas pela própria cabeça, e não pelo que outros acham certo. Guerras, fluxos migratórios e a globalização derrubaram as fronteiras de antes. Sentimento de nacionalidade não é mais algo preto no branco, é pessoal.
Evidentemente não pode ser apenas um negócio, mas a exigência de residência mínima de cinco anos no país caso não haja ascendência do jogador nele reduziu os temores de que seleções do Oriente Médio, por exemplo, criassem esquadrões internacionais. Algo que o Qatar tentou fazer com Aílton e Dedê, então destaques do futebol alemão.
Januzaj nasceu na Bélgica, mas por suas conexões familiares também poderia optar por Albânia, Turquia, Sérvia ou pelo Kosovo, caso este último ganhe o reconhecimento da Fifa.
Foi discutida até a hipótese de ele representar a Inglaterra, o que não seria algo previsto pelo atual acordo de cavalheiros entre as quatro nações britânicas, que exige cinco anos de formação antes dos 18 na falta de laços sanguíneos. Por um motivo simples: ninguém se naturaliza inglês, galês, escocês ou norte-irlandês. Todos são britânicos.
Pode não ser assim para sempre. Nesta semana, quando sugeriu uma seleção inglesa apenas para ingleses, Jack Wilshere foi contestado por ícones do esporte britânico como Kevin Pietersen, nascido na África do Sul e ídolo do críquete. Um dos maiores heróis olímpicos da história recente do Reino Unido, o fundista Mo Farah, nasceu na Somália. A imprensa local defendeu os esportistas de origens estrangeiras e criticou Wilshere.
Ibrahimovic escolheu a Suécia, onde nasceu, mas podia ter jogado por Bósnia ou Croácia. Giuseppe Rossi nasceu nos Estados Unidos e viveu no país até os 12 anos, mas optou pela Itália.
O zagueiro Subotic, do Borussia Dortmund, nasceu na Bósnia, de onde seus pais fugiram durante a guerra. Foi criança na Alemanha, passou a adolescência nos Estados Unidos, chegou a jogar pelas seleções de base do país, mas acabou optando pela Sérvia, por sua etnia.
Diego Costa nasceu no Brasil, mas nunca jogou profissionalmente por aqui. A Espanha lhe abriu as portas do sucesso profissional. Se a Seleção não o quiser, por que ele deveria abrir mão de representar o país que lhe deu uma chance? Se alguém disser que Diego não é espanhol, uma rápida olhada em seu passaporte mostrará o contrário.
Se o Brasil quer Diego Costa, que lute por ele com argumentos melhores do que "nasceu aqui". Ou deixe que ele siga o caminho que achar melhor.
Após Diego Costa declarar que pretende jogar pela Espanha, Bertozzi lamenta mudança na lei; assista!