Os analistas do futebol, pelo menos alguns deles, devem ficar loucos com a ciclotimia de nossos treinadores. Ciclotimia talvez seja um pouco forte e, provavelmente, inadequado, já que o que muda, da água para o vinho e do vinho para água, numa alternância rápida e constante, não são os treinadores, mas o desempenho de seus times, o que parece, mas não é a mesma coisa. É o que faz, para os analistas, o gênio de hoje ser o idiota de amanhã e voltar a ser gênio depois.

Tomo o exemplo do recém-findo Campeonato Carioca. Não faz muito tempo que Osvaldo Oliveira tinha “os dias contados” como técnico do Botafogo. Depois da derrota para o Flamengo, na Taça Guanabara, houve até quem garantisse que não emplacaria o jogo seguinte. Emplacou. Para ser campeão e merecer os maiores elogios dos que o crucificaram. No pólo oposto está Abel Braga, eleito o melhor de 2012, mas contestado pelos próprios tricolores que torceram para que ele renovasse contrato. A decisão entre Botafogo e Fluminense, domingo, foi perfeita como contraste entre as fases de Osvaldo e Abel, daí o merecido título do primeiro e os tropeços do segundo.

Fase me parece palavra melhor que ciclotimia. Pois é justamente de fase que se deve falar na hora de avaliar um treinador. Ouvi isso de Carlos Alberto Parreira, há dois anos, quando ele sequer sonhava em voltar à seleção brasileira. Dizia Parreira que os treinadores são, em geral, bons, conhecem futebol, gostam do que fazem, têm tudo para dar certo... sempre. Só que esse sempre é, na verdade, de vez em quando. Um treinador depende do momento em que trabalha, o lugar e o tempo em que atua, os jogadores que dirige e, ainda uma vez a palavra chave, a fase do time. É o que o faz viver entre a glória e o cadafalso. O próprio Parreira sabe o quanto um treinador vive de fases. E na certa compreende por que Felipão, o idiota de ontem, é o gênio de hoje.

Dito isso, não estranha que Jorginho, execrado quando auxiliar de Dunga na seleção brasileira, seja a atual esperança de um Flamengo melhor. E não duvidem que Pep Guardiola, o “darling” de nove entre dez analistas brasileiros, não viva em Munique a mesma fase que o consagrou em Barcelona.