O anúncio da contratação de Mario Götze pelo Bayern, no início desta semana, reforçou uma postura que já se tornou tradição do clube: buscar jogadores de maneira a não apenas fortalecer seu elenco, mas também enfraquecer os rivais da Bundesliga.

A estratégia não é nova, e por isso mesmo não se deve achar que o campeonato mudará radicalmente a partir da saída do meia do Borussia Dortmund. A tendência é que a história das últimas décadas se mantenha, com o Bayern vencendo, em média, um campeonato de cada dois (conquistou 11 dos últimos 22, já contando o de 2012/13).

Neste período, o Bayern sempre contou com jogadores vindos de outros clubes importantes do país para fortalecer seu domínio - mas nem todas as histórias são de sucesso. Confira, na lista a seguir, alguns casos célebres.

Oliver Kahn (Karlsruhe, 1994)
Kahn era um dos destaques do Karlsruhe, time de sua terra natal. Na temporada 1993/94, participou de uma campanha histórica na Copa da Uefa, quando a equipe alcançou as semifinais após eliminar times como PSV, Valencia (com direito a uma goleada de 7 a 0) e Bordeaux. Aos 25 anos, foi contratado pelo Bayern por 4,6 milhões de marcos alemães, recorde para um goleiro no país até então. Em Munique, disputou 14 temporadas e se transformou em um dos jogadores mais vitoriosos da história do clube, com oito títulos da Bundesliga, seis Copas da Alemanha, uma Champions League, uma Copa Intercontinental e uma Copa da Uefa.

Manuel Neuer (Schalke, 2011)
Nunca diga nunca. Torcedor declarado do Schalke, onde iniciou a carreira, Neuer gostava de provocar o Bayern e dizia que nunca atuaria pelo clube de Munique. Até que o Bayern bateu à sua porta em 2011 e a transferência se concretizou, causando a ira de torcedores dos dois lados. Alas mais radicais da torcida bávara chegaram a contestá-lo durante a pré-temporada, obrigando a direção do clube a chamar uma reunião de emergência. A relação melhorou com as atuações de Neuer, que chegou a superar 1.000 minutos sem levar gol na Bundesliga, superando uma marca de Kahn, e ajudou o time a alcançar a final da Champions League com vitória nos pênaltis sobre o Real Madrid.

Élber (Stuttgart, 1997)
O atacante brasileiro chegou à Bundesliga em 1994 e disputou três temporadas pelo Stuttgart, a melhor delas justamente a última, em 1996/97, quando marcou 20 gols em jogos oficiais e ajudou o time a ganhar a Copa da Alemanha. Contratado pelo Bayern, disputou seis temporadas em Munique, com quatro títulos da Bundesliga, além de uma Champions League e uma Copa Intercontinental em 2001. Só não foi o artilheiro do time na Bundesliga em uma das seis temporadas, a primeira. Apesar do sucesso na Alemanha, teve poucas oportunidades na Seleção Brasileira, em função da forte concorrência no período.

Stefan Effenberg (Borussia Mönchengladbach, 1990 e 1998)
Considerado um dos maiores jogadores da história do clube, Effenberg chegou ao Bayern como uma promessa de 22 anos em 1990, procedente do Mönchengladbach. Apesar de marcar um total de 19 gols nas duas primeiras temporadas, não conseguiu títulos e saiu em 1992, ano do retorno de Lothar Matthäus ao clube. Passou dois anos na Fiorentina e voltou em 1994 ao Mönchengladbach, onde ficou mais quatro temporadas. Se neste período o espaço de Effenberg na seleção ficou pequeno em função do comportamento explosivo, o Bayern não deu muita importância a isso e o contratou novamente em 1998. A segunda tentativa foi um sucesso: em quatro anos, o meio-campista venceu por três vezes a Bundesliga e disputou duas finais de Champions League, marcando como capitão o gol do empate contra o Valencia na decisão de 2001, vencida nos pênaltis.

Claudio Pizarro (Werder Bremen, 2001 e 2012)
Outro a ser contratado duas vezes pelo Bayern, Pizarro chegou em 2001 após duas temporadas de destaque pelo Bremen. O clube de Munique bateu a concorrência de clubes como Real Madrid e Barcelona para contratá-lo e não se arrependeu. O atacante peruano alcançou dígitos duplos em todas as temporadas até se desvincular do clube em 2007, ano em que se transferiu para o Chelsea. Depois da breve passagem pela Premier League, foram mais quatro anos no Werder Bremen até o retorno ao Bayern, ano passado. Como terceira opção de ataque, Pizarro conquistou a quarta medalha de campeão da Bundesliga no clube.

Jorginho (Bayer Leverkusen, 1992)
O lateral-direito era jogador do Bayern quando se sagrou campeão mundial com a Seleção Brasileira. Havia sido contratado em 1992, após três boas temporadas no Bayer Leverkusen, atuando com liberdade para apoiar o ataque. Titular nos dois primeiros anos, teve como seu auge o título da Bundesliga em 1994, semanas antes do tetra. Perdeu espaço na temporada seguinte e, em 1995, decidiu se aventurar no futebol japonês.

Ballack / Zé Roberto (Bayer Leverkusen, 2002)
A dupla de meio-campistas foi protagonista na temporada em que o Leverkusen chegou perto de três títulos na temporada, incluindo a Champions League, mas acabou de mãos vazias. O Bayern levou a dupla, que permaneceu por quatro temporadas, com excelentes resultados: três dobradinhas copa/campeonato. Ballack saiu no fim de seu contrato para defender o Chelsea, enquanto Zé Roberto aceitou uma oferta do Santos. Um ano depois, o brasileiro retornaria ao Bayern para mais duas temporadas, conquistando em 2008 a quarta dobradinha.

Lúcio (Bayer Leverkusen, 2004)
Outra experiência de sucesso com ex-jogadores do Leverkusen começou em 2004, quando Lúcio foi contratado pelo Bayern após três temporadas na Bundesliga. Já era campeão mundial e jogador afirmado na Seleção Brasileira e rapidamente se tornou peça indispensável à equipe. Por três vezes conquistou Bundesliga e Copa da Alemanha (2005, 2006 e 2008) antes de sair em 2009, por não fazer parte dos planos do técnico Louis van Gaal.

Mario Gómez (Stuttgart, 2009)
O atacante de origem espanhola já havia sido campeão nacional pelo Stuttgart em 2007 e melhorava seu registro de gols a cada temporada quando se transferiu para o Bayern por mais de 30 milhões de euros, em 2009. Era a maior transferência interna da história da Bundesliga. A primeira temporada não correu como esperado (individualmente, já que o time venceu Bundesliga e Copa da Alemanha), mas nas duas seguintes Gómez acumulou 80 gols em jogos oficiais. Em 2012-13, perdeu espaço como titular com a chegada de Mandzukic, do Wolfsburg.

Miroslav Klose (Werder Bremen, 2007)
As boas atuações pelo Bremen e pela seleção alemã levaram Klose ao Bayern em 2007. O atacante passou quatro anos no clube e teve bom desempenho nos dois primeiros, superando a marca de 20 gols, mas sem se aproximar do melhor registro alcançado no ex-time (31 gols em 2005/06). De 2009 em diante, viu seu rendimento cair e o espaço na equipe diminuir, até que em 2011 aproveitou a oportunidade de relançar sua carreira na Itália, pela Lazio. Sua experiência em Munique terminou com duas dobradinhas, em 2008 e 2010.

Sebastian Deisler (Hertha Berlim, 2002)
Considerado uma das maiores esperanças do futebol alemão no início do século, Deisler tinha 22 anos quando trocou o Hertha pelo Bayern, em 2002. Deveria formar um trio de meio-campo temível com Ballack e Zé Roberto, as outras novidades do setor, mas as lesões impediram que ele desenvolvesse seu potencial. Para piorar, apresentou um quadro de depressão que o levou a ser internado no final de 2003. Passou meses afastado do elenco até enfim conseguir uma sequência de jogos, em 2005, o que lhe deu a oportunidade de disputar a Copa das Confederações. Mas uma nova lesão tirou Deisler da Copa do Mundo de 2006 e causou uma recaída da qual nunca se recuperou. Em janeiro de 2007, com mais dois anos e meio de contrato por cumprir, decidiu se aposentar.

Ciriaco Sforza (Kaiserslautern, 1995 e 2000)
Sforza era um dos volantes mais respeitados da Bundesliga nos anos 90, o que levou o Bayern a apostar nele por duas vezes. Em nenhuma das duas teve sucesso. Transferido do Kaiserslautern em 1995, teve dificuldades de adaptação a um elenco de estrelas, marcado pelas desavenças entre Matthäus e Klinsmann, e saiu mesmo com a conquista da Copa da Uefa na primeira temporada. Foi para a Itália defender a Inter, onde também não se destacou, e acabou retornando ao Kaiserslautern em 1997. Foi a redenção: o time superou o Bayern para conquistar a Bundesliga em 1998, tendo Sforza como um dos protagonistas, e o suíço manteve o bom nível por mais dois anos. Em 2000, nova transferência para o Bayern, onde nunca foi mais que um coadjuvante. A passagem de dois anos serviu apenas para colocar em seu currículo uma Champions League e uma Copa Intercontinental, além de outra Bundesliga. Acabou voltando, de novo, ao Kaiserslautern, onde se aposentaria em 2006.