domingo, 28 de abril de 2013

A fome de Neymar


Cristiano Ronaldo está insatisfeito no Real Madrid. Seu salário de 110 milhões anuais não é reajustado desde sua chegada, em 2009. Nesse período, os impostos dobraram, por causa do fim da lei Beckham, que ajudava os clubes a contratarem a peso de ouro os principais jogadores do planeta.
Nas últimas semanas, seu procurador, Jorge Mendes, negociou com o Real o aumento da porcentagem dos contratos publicitários. Cristiano abriu mão de boa parte desses ganhos quando quis trocar o Manchester United pelo Real Madrid.
Mario Götze, meia-atacante, sensação do Borussia Dortmund, receberá 40% de aumento para trocar seu clube pelo Bayern, a partir de 1º de julho. São € 2 milhões a mais, anualmente.
Nada mal...
Neymar joga no Santos, ganha mais do que Cristiano Ronaldo e Mario Götze. Sua empresa arrecadou no ano passado R$ 42 milhões. Desconte os impostos e o atacante santista terá uns 20% a mais do que o camisa 7 do Real Madrid, 70% a mais do que Mario Götze receberá no Bayern.
É verdade que a maior parte do salário do craque brasileiro vem da publicidade. Mas é exatamente isso que Cristiano Ronaldo tenta melhorar no Real Madrid.
Bastou a derrota por 4 x 0 para o Bayern para a obsessão do Barcelona por Neymar reaparecer. Todos os jornais espanhóis afirmam que Sandro Rossell não medirá esforços para levar o brasileiro para o Barça em julho. Não quer esperar o fim da Copa de 2014. Não vai ser fácil.
A maior parte dos 11 contratos de patrocínio de Neymar se encerra na Copa do Mundo. Em alguns deles, Neymar fica com 70% do dinheiro. Em outros, com 90%. Na Europa, não ganhará mais do que no Brasil.
Neymar pode nunca chegar a ser o melhor do planeta. Mas já há enormes diferenças entre ele e todos os craques revelados no Brasil depois de Zico se transferir para a Udinese, há 30 anos.
Romário, Ronaldo, Müller, Rivaldo, todos, sem exceção, passaram menos de quatro anos jogando em alto nível aqui, antes de entrarem no avião. Todos foram para a Europa para ganhar mais.
Neymar pode decidir se vai em julho ou apenas em 2014. Nas duas hipóteses, vai para ganhar menos.
Se ganhar a Copa, o Brasil será pequeno demais para ele.
Se perder, o país ficará insuportável, pelas cobranças.
"Jogador bom é jogador com fome", diz Felipão. Ganhando ou perdendo o Mundial, ele terá apenas uma ambição: jogar os principais campeonatos, contra os melhores jogadores.
Durante três décadas, o futebol brasileiro sonhou ter dinheiro para manter seus jogadores. Hoje, até tem. Falta oferecer estádios cheios, qualidade dos gramados e campeonatos que empolguem.
Vai, Neymar!