segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Confusão no estádio inglês. Mas a TV não mostra


No começo da tarde deste domingo, a ESPN mostrou um belo jogo de futebol, no duelo de Manchester, em que o United ganhou do City por 3 a 2, com gol em cima da hora. Um clássico como manda o figurino: estádio cheio, tensão nas arquibancadas e dentro de campo, alterações no placar. O United fez logo 2 a 0, mas permitiu o empate e ganhou no finalzinho.
Pois o que me chamou atenção e me levou a fazer estas ponderações veio justamente depois do gol de falta de Van Persie que definiu o placar. A tevê mostrou a comemoração dos vencedores e as várias repetições do lance fatal. E, de passagem, muito ligeiramente, deu um close em Ferdinand com o supercílio aberto, a sangrar.
Imagem estranha, desconexa, que deixaria o telespectador desconcertado. No caso brasileiro, nem tanto, porque os enviados da ESPN, que transmitiam do local, informaram que o zagueiro do United fora atingido por algum objeto atirado pelo público. Além disso, relataram que um rapaz havia invadido o campo, na tentativa de acertar contas com o árbitro. Foi contido logo e retirado pelos responsáveis pela segurança. O jogo seguiu.
A transmissão, para quem não estava no estádio, se manteve asséptica. Os responsáveis por selecionarem as imagens que vão ao ar decidiram omitir um fato, e nisso cometeram uma falha. Sonegaram ao telespectador uma informação. A invasão foi um incidente grave, que o jornalista tem o dever de registrar. E, no caso da tevê, a informação é a imagem.
Sei que isso ocorre com frequência em determinados países. Já fiz muitos e muitos jogos ao vivo, por campeonatos europeus e por competições sob batuta da Uefa ou da Fifa. Sei que não gostam de mostrar essas cenas, sob o pretexto de que, assim, não incentivam gestos semelhantes. Balela. Eles não querem é depreciar o produto, o negócio, o business.
Em seguida, fui aos sites dos principais jornais ingleses (e até da BBC), e lá encontrei referências aos incidentes, até com foto do rapaz que invadiu o gramado. O The Independent até registrou que “a Sky Sports não mostrou as cenas”. Ou seja, tratamento diferente em dois meios distintos: os jornais contaram, a tevê omitiu.
Então, se nos basearmos só pela televisão, concluiremos que nunca há fatos que saiam da normalidade nos estádios ingleses. Parece que a plateia é composta apenas por pessoas civilizadas, que aplaudem ou vaiam, nada além disso. Hooligns são personagens extintos. Sei não, é bom ficar com os dois pés atrás.
O tema é bom para teóricos de comunicação, especialistas no assunto, que sabem abordá-lo com argumentos sólidos. Mas fica uma leitura evidente: para ingleses, para muitos europeus, enfim, a tevê é instrumento poderoso de opinião e deve servir mais como entretenimento. Os jornais são para informar e não escamotear a realidade, não dourar a pílula.
Felizmente, no Brasil, as tevês (na maioria das vezes) entendem que episódios do gênero devam ser registrados, porque fazem parte da história daquele espetáculo. São, portanto, informação. E informação é liberdade, é democracia. O público deve ter o direito de selecionar o que quer ou não ver; essa não é tarefa de um diretor de imagens.