sexta-feira, 30 de novembro de 2012

VÍDEO: Neve cobre o Bayern em Munique, mas é o futebol brasileiro que entra numa fria

Aqui em Munique, frio, temperatura sempre em torno de zero grau e neve. Muita neve. E assim será nesta sexta-feira, com o termômetro descendo ainda mais até o sábado do grande duelo entre Bayern Munique e Borussia Dortmund. O jogo obviamente será quente, mesmo com a previsão de -2 graus a -7 graus para o dia do cotejo. Os alemães estão acostumados com esse clima, como acostumados estão os brasileiros aos velhos conceitos que envolvem o nosso futebol.

Isso mesmo, velhos conceitos. Enquanto a Espanha domina a Europa e o Mundo com títulos nos últimos três grandes torneios que disputou, a Alemanha tenta se aproximar com receita que tem pontos em comum. Volantes que sabem jogar, meias hábeis e jovens talentos que reúnem técnica apurada e velocidade. Embora tradicionalmente a "fábrica" de talentos brasileira tenha uma "linha de produção" mais fértil, despejando gente talentosa em belas quantidades, isso já mudou muito.

Não podemos permitir que a tradição nos impeça de notar a estagnação. O esporte evolui física, técnica e taticamente. Novas ideias, conceitos renovadores, avanços em todos os campos são fundamentais num meio tão competitivo. E o Brasil parou no tempo. Mano Menezes não era exatamente um vanguardista no comando da seleção cebeefiana, mas capitaneou uma necessária renovação e vinha forçando ainda mais um jogo de bola no pé, técnico, hábil. 

Com ele, o time "canarinho" tentava encontrar um caminho diferente daquele que se transformou em opção predileta de técnicos do país. Um jogo baseado em contra-ataque, velocidade, bola parada. Não são poucos os times brasileiros que fizeram sucesso nos últimos anos apoiados nesses conceitos. Com diferenças aqui ou ali, Muricy Ramalho e Luiz Felipe Scolari são dois autênticos representantes de tal escola. Vitoriosos treinadores, mas que não inovam.

Eles sequer tentam algo diferente do sistema com volantes ferozes protegendo até três zagueiros, jogadores velozes para puxar o contragolpe e um centroavante que pode ser grandalhão, trombador mesmo. Posse de bola, marcação pressão no campo inimigo, troca de passes, pelota no chão, menos chutões, menor dependência das faltas e escanteios... Essa receita não é a de Felipão, que volta à seleção após colecionar insucessos que nem a conquista da Copa do Brasil apagou.

Com todo respeito aos que pensam diferente, não concordo com o pragmatismo como fio condutor do trabalho de um técnico que comanda uma seleção que lhe disponibiliza bons jogadores para convocar. Se aquele que dirige a Bolívia, o Tarquijistão ou a Irlanda do Norte apela para armas um tanto quanto ortodoxas, é compreensível. Mas o treinador que pode chamar atletas nascidos em países como Brasil e Argentina deveria ter uma missão mais ampla.

O desafio de quem dirige uma seleção como a brasileira pode e deve ser o de montar boas equipes. Não basta colocar em campo um time duro, engessado, dependente de cruzamentos na área adversária. Mesmo que essa velha e obsoleta receita dê resultado momentâneo. Os conceitos aplicados por Felipão em 2002 o conduziram ao sucesso. Mas foi há longos 10 anos. Muita coisa mudou, menos sua forma de armar as equipes que dirige. Nem mesmo o período no exterior ampliou seu repertório.

E com Carlos Alberto (sim, é Carlos Alberto) Parreira de volta à seleção a CBF oficializa sua opção pelo que ficou para trás. A opção por conceitos superados que caracterizaram os mais recentes trabalhos de um profissional outrora vencedor e que na última Copa do Mundo entrou para a história como o primeiro técnico de um país anfitrião eliminado na primeira fase. O fraco trabalho de Parreira à frente dos sul-africanos o levou a decidir pela aposentadoria agora abortada.

Muitos avaliarão o trabalho de Scolari em função apenas de vitórias e derrotas. Não pretendo seguir esse caminho. Ele venceu a Copa do Brasil, um mata-mata como será na fase decisiva o Mundial de 2014. Mas não proporcionou uma boa equipe ao Palmeiras. O futebol anda de braços dados com o imponderável, a ponto de um time campeão ser rebaixado meses depois. Mas não foi por acaso. Formada por ele e com vários jogadores que pediu e aprovou o alviverde fez tudo para cair. E caiu.

E mesmo que ganhe o hexa a passagem do treinador pela CBF poderá ser questionada. De que adiantará mais uma estrela na camisa amarela se o time responsável por ela nada de novo apresentar? Terá valido a pena? Já não temos grandes meias e atacantes de primeira linha nascidos no Brasil. Jovens como Neymar, Oscar, Lucas tentam mudar isso, mas é fato que os boleiros "Made in Brazil" são, em sua maioria, coadjuvantes no cenário internacional.

Reflexo do futebol pobre que se tolera no país em troca de taças que escondem o problema maior, cortinas-de-fumaça como a do Palmeiras campeão que se viu rebaixado quando ela dissipou. Espero estar errado e em algum tempo escrever um texto totalmente diferente desse que vai chegando ao final. Que Felipão surpreenda, dê sequência aquilo que Mano tentava fazer e aprimore, avance, inove, arrisque, ouse!

Assim, poderá prestar serviço mais importante do que uma eventual conquista de Copa com um Marcos Assunção mais jovem a cruzar a bola após faltas cavadas por um Valdívia tupinquim. Faz frio e neva na Alemanha, que não ganhou, ainda, títulos com a atual geração. Mas após o anúncio feito pela CBF, sinto que é o futebol brasileiro que está entrando numa gelada. Mesmo que, pela parceria do futebol com o impoderável, os cebeefianos ganhem a sexta Copa.

Vencer em 2014 é importante, mas não o bastante.

Gramado do CT coberto pela neve em Munique. Frio. Mas é a seleção da CBF que entra numa gelada