terça-feira, 10 de julho de 2012

A política por trás da linha do gol

A decisão da International Board de aprovar o auxílio tecnológico para determinar se uma bola cruzou ou não a linha do gol não é apenas algo que revoluciona o futebol. Também é mais um capítulo na curiosa relação entre os presidentes da Fifa, Joseph Blatter, e da Uefa, Michel Platini.

A ascensão de Platini no futebol é diretamente ligada ao apoio de Blatter, que ficou feliz em tirar do comando do futebol europeu o desafeto Lennart Johansson. No ano passado, quando casos de corrupção dentro da Fifa causaram sério dano à imagem da entidade, o francês conseguiu mobilizar o comitê executivo da Uefa em apoio à reeleição do suíço.

Um cartola depende do outro, e Platini é visto como o favorito do próprio Blatter para substitui-lo no final de seu mandato, em 2015. Isso não significa, porém, que eles deixem de se posicionar de forma antagônica em alguns casos. A tecnologia na linha do gol é um destes cenários.

Apesar de casos controversos marcarem o futebol há décadas, como o "gol fantasma" de Geoff Hurst na final da Copa do Mundo de 1966, foi somente após o lance de Frank Lampard no Mundial de 2010, quando a bola ultrapassou com folga a linha e o gol não foi validado, que Blatter passou a advogar a favor da tecnologia.

Em 2012 houve dois casos de repercussão internacional: o gol não assinalado para Muntari em um jogo crucial do Campeonato Italiano entre Milan e Juventus, e outro da Ucrânia contra os ingleses na Eurocopa, quando John Terry tirou a bola já depois da linha. Não foi o suficiente para convencer Platini, que segue avesso a qualquer apoio além do olho humano.

O argumento do francês é de que a linha do gol é apenas o começo, e que seria o início de um processo que levaria a tecnologia a outros momentos do jogo e quebraria sua dinâmica.

Platini é defensor dos dois árbitros adicionais, uma experiência que ele implantou nas competições da Uefa e passará a fazer parte da regra do jogo. Não por acaso, a reunião da International Board na última semana foi destaque no site do órgão europeu por causa da aprovação dos quintetos de arbitragem, deixando o uso da tecnologia como uma nota de rodapé.

Sendo a instalação dos equipamentos algo facultativo, é improvável que os torneios da Uefa, como Champions League e Eurocopa, contem com o auxílio. Podemos chegar a situações em que alguns times terão a tecnologia no campeonato nacional e não no torneio continental. A Bundesliga, por exemplo, tem planos de implantar o sistema a partir da temporada 2013/14.

O Mundial de Clubes, no fim deste ano, será a primeira competição da Fifa a contar com os dois dispositivos aprovados - um deles usa câmeras, outro um campo magnético. Nenhum deles exige paralisação do jogo e dá rapidamente a resposta ao árbitro, que continua sendo a autoridade definitiva para assinalar ou não o gol.

A implantação mais ampla esbarra, por enquanto, nos custos elevados dos equipamentos. A princípio, somente as ligas mais endinheiradas serão capazes de adotar o sistema - o que pode ser um argumento a mais para os opositores.

No entanto, se é possível evitar os erros em alguma escala, por quê não? Nem todos os torneios de tênis contam com a tecnologia, mas os mais importantes sim. Melhor ajudar o árbitro a acertar "artificialmente" do que lamentar todo o período de trabalho jogado fora por um erro humano.