sábado, 21 de julho de 2012

Pagar suspensão com cestas básicas? É lindo. Mas não faz sentido

Quinta-feira, fim de tarde, o diretor jurídico do Palmeiras anuncia via Twitter que o meia Valdívia, suspenso por três jogos por causa da expulsão contra o Coritiba na primeira final da Copa do Brasil, estava liberado para enfrentar o mesmo Coritiba pelo Campeonato Brasileiro, às 21 horas.

Motivo: o departamento jurídico do Palmeiras havia conseguido a liberação do jogador revertendo a suspensão do atleta em pagamento de cestas básicas. Valdívia, contudo, acabou não atuando no jogo do Brasileirão, porque não havia viajado com o elenco para a capital paranaense. Estava em São Paulo.

Antes de entrarmos no foco principal do post, valem aqui duas observações, específicas sobre o Palmeiras:

1) Virou padrão no clube fazer comunicações relevantes através do Twitter do tal conselheiro/diretor. O mesmo já havia ocorrido, por exemplo, com a divulgação do aumento no número de ingressos destinados aos palmeirenses na decisão da Copa do Brasil. O fato de Valdívia ter tido sua suspensão reduzida, por exemplo, ainda não consta no site oficial do clube, às 11h07 desta sexta. O canal das informações é pessoal, quando deveria ser institucional.

2) É no mínimo engraçado o fato de o clube ter conseguido a redução da suspensão de Valdívia, mas não considerar essa possibilidade na hora de elencar os jogadores que viajariam a Curitiba. No melhor dos casos, faltou comunicação entre departamento jurídico e comissão técnica. Como diz o amigo palmeirense @sorryperiferia: “Se derem duas tartarugas para o Palmeiras tomar conta, uma escapa”.

Mas voltemos ao mais relevante de todo o episódio, que é a conversão de penas (supostamente) definidas por critérios técnicos sendo revertidas em pagamentos de cestas básicas. Não faz sentido.


Acima, um vale-suspensão no Brasileirão
Acima, um vale-suspensão para o Campeonato Brasileiro 2012


Nada contra as cestas básicas. Os pagamentos das mesmas por parte dos clubes, convenhamos, não vai onerar de forma relevante nenhuma dessas instituições que movimentam milhões de dólares em transações de jogadores. Portanto, pode-se até instituir uma regra segundo a qual, para cada expulsão, um clube deverá depositar o valor referente a 100, 200, 500 ou 1000 cestas básicas para beneficência. Uma regra à parte. Ninguém vai quebrar por isso. E é uma ação louvável.

Mas é inadmissível que uma pena que deveria ser técnica, baseada nas regras do jogo, com o intuito de coibir a violência dentro de campo, possa ser ignorada dessa forma. Sim, ignorada. Porque, do ponto de vista do jogo, do futebol no gramado, do adversário lesionado e do jogador e clube que deveriam ser punidos, transformar penas em pagamento de cestas básicas é ignorá-las.

Talvez o STJD permita que isso ocorra por saber que suas decisões, não raro, são questionáveis. Como foi questionável a suspensão (achei exagerada) de Valdívia.

A solução para o problema seria realizar os julgamentos com base em padrões rígidos, bem definidos. Os critérios do STJD deveriam ser exclusivamente técnicos, e a cotovelada de um deveria valer tanto quanto a cotovelada de outro. Hoje não é assim. E não me arrisco a apontar o motivo para não fazer acusações levianas. Talvez não haja decisão política, quem sabe? Talvez seja apenas falta de critério, falta de padrão, falta de competência. Talvez...

No dia em que, enfim, os julgamentos forem técnicos e padronizados, a punição adquirida em campo deveria ser cumprida em campo. E as cestas básicas servirão “apenas” para matar a fome