sábado, 21 de julho de 2012

Mind the Gap

Pergunta mais ouvida nos últimos dez, pelo menos.
A resposta não é simples e/ou objetiva. Não, não é pelo tea. Ou pelo fish and chips.
Já se passaram dez anos desde a primeira vez. Recém formado, perspectivas incertas e um amigo vivendo aqui foram as razões pela decisão de morar na terra da Rainha.
Eu tinha 22.
Vi o Brasil ganhar a Copa e fui para Trafalgar comemorar, bebendo cerveja quente no caminho. Antes disso, a primeira oportunidade como “correspondente”. Me lembro de acordar às 3hs da madruga para ser entrevistado pelo Oscar Ulisses na Rádio Globo.
- Como Londres espera esse Brasil x Inglaterra, me perguntava.
- Cinza, como sempre, devo ter respondido.

Durante meses trabalhei no Cristini lavando pratos, descascando batatas, limpando mariscos (pesquise e entenda quão duro é). Com a confiança, passo a fazer as sobremesas (aprendi o segredo de um Tiramisù), até o momento ápice de um dia cozinhar para eles- acho que foi um strogonoff.
Os patrões viraram amigos, passei a viver mais na casa deles que na minha sharing home. Entre um gole e outro da Nastro Azzurro, eles, napolitanos, tentavam me convecer que Maradona foi maior que Pelé.
Resultado da experiência vivendo longe do Brasil: fluência em italiano. Meio estranho para quem escolheu a Inglaterra como destino.
Anyway, volto, viro profissional no jornalismo, Globo, CBN, Eldorado, ESPN e o tempo passa torcida brasileira.

Arquivo Pessoal
London London
London London

É o cinza no céu. O tempo incerto, as garoas, o frio, a neve, o calor insuportável de agosto. Todas as épocas. Regadas a uma pint de Guiness, ou a um café latte do Nero. A paella em Notting Hill, o chicken noodles de Candem. Uma baguete do Upper Crust, um donut no Krisp and Cream.
Entrar no metrô com todo mundo pela direita nas escadas rolantes, deixando a esquerda para quem está com pressa. Ler o Evening Standard e ganhar um guarda chuva junto com o jornal. Rir com o The Sun. Entender que ler aqui é pratica comum. Todo mundo lê. Papel ou no Kindle.
É andar na Oxford e ouvir brasileiros e italianos proliferando-se. Descobrir que com five pounds se faz uma refeição. Ir ao Borough Market e se encantar com o cheiro daquele azeite de trufa.
Fones de ouvido enormes de todas as cores passando em cabeças diferentes e de cabelos esquisitos de gente trajada de todas as formas e perceber que aqui, who cares? Be yourself. Na essência.

Poderia ficar o dia inteiro tentando explicar.
Londres, a minha London London, é única.
Estar de volta é demais.
E com uma Olimpíada pela frente.
Cheers.