quarta-feira, 18 de julho de 2012

O violão olímpico

Quando entrei para a Faculdade Nacional de Direito, no início dos anos 60, confesso que fiquei impressionado com as figuras com as quais cruzava diariamente, como Hermes Lima – futuro primeiro ministro – Pedro Calmon Clóvis Paulo da Rocha e Vandick Londres da Nóbrega, entre outros. Era, digamos assim, um choque cultural diário, até porque todos eles foram meus professores. Embora não fosse um aluno exemplar – peguei uma dependência em Direito Civil – vibrava com aquele contato diário com todos eles – além de meus colegas de turma, muitos deles aplicados.

Uma tarde fora de meus propósitos – estudava na turma da noite e trabalhava com meu pai durante o dia, em seu escritório, me levou à faculdade. Talvez estivesse em busca de um livro na banca jurídica que por lá funcionava. E foi quando topei com nosso bicampeão olímpico e recordista mundial do salto triplo (16,22m em Helsinque) Adhemar Ferreira da Silva. Fizemos logo uma amizade, pois Adhemar era uma simpatia. O campeão tinha cerca de 42 anos (morreu com 74) e passamos a nos ver, assim que as aulas dele, do turno da tarde, acabavam e as minhas iriam começar. Foi assim que tomei coragem e o convidei para uma reunião de colegas em minha casa, em Laranjeiras – embora duvidasse muito que ele tivesse tempo para uma festinha de colegas. 

Mas qual foi minha surpresa quando abri a porta e dei de cara com Adhemar, de paletó e gravata, portando um violão. Não preciso dizer que ele tomou conta da reunião. Meus colegas e minha família fizeram uma rodinha para assistir Adhemar Ferreira da Silva – um homem simples – desfilar seu repertório de músicas, extraídas com categoria de seu violão. Fiquei honradíssimo com sua visita, pois o conhecia pelos jornais em razão de seus feitos olímpicos. E fiquei espantado com sua morte, por mau funcionamento do coração, logo ele um atleta exemplar e um advogado que pouco pôde demonstrar sua competência.

De Adhemar Ferreira da Silva vou guardar para sempre essa lembrança e sua simplicidade. Hoje não sei se os campeões, como ele, são assim,