quarta-feira, 4 de julho de 2012

Dormir para sonhar com La Fúria

Não entendi, ou melhor, fiz força para entender as restrições ao futebol espanhol que andei lendo e ouvindo nas últimas semanas. Chato, repetitivo, sem imaginação, de dar sono, foram algumas observações de analistas que, ao porem em dúvida as qualidades desse futebol, recusavam-se a enxergar o óbvio. Difícil de entender por um detalhe: até bem pouco, esses mesmo analistas morriam de amores pelo Barcelona, modelo em que a seleção espanhola se inspira (um deles chegou a sugerir a importação de Pep Guardiola para dirigir a seleção brasileira). E no entanto, na última semana de Eurocopa, eles se apoiaram no zero a zero de Espanha e Portugal – e na vitória da Itália sobre a Alemanha – para acharem que a seleção espanhola dá sono e que a italiana acaba de descobrir o futebol ofensivo.

È mesmo para não entender. É claro que não se pode chegar a uma conclusão apenas pelo resultado da final, por mais que a seleção espanhola tenha merecido a vitória e a taça. Ou por melhor que a italiana tenha lutado para evitar uma coisa e outra. Mas também não se pode tomar por base alguns desempenhos menos felizes nesta mesma Eurocopa para se pôr em xeque o futebol que nos últimos quatro, cinco anos vem se afirmando (e reafirmando) como o melhor do mundo. Um futebol que pode ser tudo, menos chato, repetitivo, sem imaginação. E que só dá sono em quem está com o próprio atrasado.

Claro, é possível e válido preferir outro estilo de jogo que não o dos espanhois. Por exemplo, um estilo mais econômico na troca de passes e mais incisivo na forma de atacar. Ou um estilo em que a chamada “posse de bola” seja menos importante do que o lançamento em profundidade para atacantes velozes, ou do que o ponta driblador capaz de vencer uma fileira de marcadores até entrar no gol com bola tudo. Um estilo, enfim, que aposte mais na excelência das individualidades do que na eficiência do coletivo. Nada a opor. Como Mano Menezes bem observou outro dia na ESPN, não há somente um modo de se armar um time, de se jogar futebol. Mas o que não deixa dúvidas é que a seleção espanhola, como o Barcelona que a inspira, dedica-se ao seu modo de jogar com uma competência que falta a qualquer outro time que, no momento, prefira outro estilo. Dá sono? Só se for para sonhar com a próxima exibição de Iniesta, Xavi e companhia.