quinta-feira, 12 de julho de 2012

Da saída de Kleber à volta ao Couto Pereira, Palmeiras supera turbulências e se fecha por título

João Vitor, com a polícia, após caso de agressão em 2011
João Vitor, com a polícia, após caso de agressão 


Há exatos nove meses, o volante João Vitor se envolvia numa briga com torcedores em frente à loja oficial do Palmeiras. O episódio atrasou a viagem da delegação para o Rio de Janeiro, onde o Palmeiras enfrentaria o Flamengo no dia seguinte. Ali, o técnico Luiz Felipe Scolari se desentendeu com o atacante Kleber, afastou o jogador já do duelo diante dos cariocas (seria negociado na sequência) e viu o time abandonar as chances de buscar uma vaga na Libertadores pelo Campeonato Brasileiro. 

A partir de então, porém, o discurso no Palmeiras mudou. Em campo, o time correu muito no Engenhão e empatou por 1 a 1; depois, uma série de quatro derrotas seguidas e um total de dez jogos sem vitória no campeonato. Mas os atletas passaram a falar de mudança para 2012. De título para a torcida, de volta por cima depois de mais um Brasileiro como mero coadjuvante. Felipão, por sua vez, não deixava de cutucar Kleber indiretamente, ligando a saída do atacante a uma melhora do ambiente alviverde.

O fim do Brasileiro foi bem digno. Na penúltima rodada, vitória sobre o São Paulo por 1 a 0; no fim, apesar do título do Corinthians em pleno dérbi paulista, o Palmeiras criou boas chances e jogou de igual para igual com o melhor time brasileiro do momento.

A temporada 2012 começou bem, logo com uma vitória sobre o Ajax num jogo festivo em janeiro. Depois, o time estabeleu uma sequência de 16 jogos invictos entre Campeonato Paulista e Copa do Brasil, mas a derrota para o Corinthians na 14ª rodada abalou o time, que de favorito acabou eliminado nas quartas de final do Estadual.
Agência Estado
Torcedor do Palmeiras exibe camisa Judas, em referência a Kleber, do Grêmio
Torcedor do Palmeiras exibe camisa 'Judas', em referência a Kleber

Nos bastidores, declarações polêmicas de Felipão para a diretoria. E dos cartolas para o treinador. César Sampaio foi contratado para tomar conta desse clima tenso, tendo que administrar as trocas de farpas entre um treinador que cobrava e ironizava a falta de reforços e uma diretoria que em nenhum momento garantiu nem a permanência do próprio técnico. Marcos, aposentado, virou embaixador do clube, acompanhando a delegação em viagens e chamando - e desviando - atenção da mídia e dos torcedores.

Além disso, depois de grande novela e dificuldade para a contratação de Wesley - até uma vaquinha para torcedores foi promovida pela diretoria, o jogador se machucou no começo de abril e teve de passar por cirurgia no joelho. Volta só em 2013.

A equipe seguiu firme na disputa do mata-mata, apesar dos resultados ruins no Campeonato Brasileiro - prestes a jogar a nona rodada, está na zona de rebaixamento do nacional. Mas, em junho, as turbulências voltaram para o lado do Palestra Itália.
Gazeta Press
Wesley, do Palmeiras, machuca o joelho contra o Guarani
Wesley, do Palmeiras, machuca o joelho contra o Guarani

Primeiro, no início do mês, Valdivia foi sequestrado em São Paulo e por pouco não deixou o clube. O jogador chegou a voltar para o Chile, concedeu uma entrevista coletiva bastante emocionada, mas, depois de conversar com a diretoria, ficou. E o Palmeiras, sem o camisa 10, suspenso, venceu o Grêmio no estádio Olímpico por 2 a 0, num jogo em que Felipão inovou com Henrique de volante e conquistou o resultado mais expressivo desde a volta ao comando do time paulista.

Antes do jogo de volta, mais uma da epopeia palmeirense: Daniel Carvalho teve um relógio no valor de R$ 16 mil furtado. No jogo do Brasileiro, Luan e Marcos Assunção saíram machucados. Ainda assim, o time empatou com o Grêmio para ir à final - Henrique, expulso após ser agredido, virava desfalque para a decisão.
Gazeta Press
Valdivia, durante coletiva no Palmeiras após sequestro
Valdivia, durante coletiva no Palmeiras após sequestro

Para o primeiro jogo, quando tudo parecia sob controle, o conselheiro Gilto Avalone, da oposição, acusou o presidente do clube, Arnaldo Tirone, de tê-lo agredido na noite anterior da final. Depois, foi a vez de Barcos virar ausência de última hora: o jogador sofreu com uma apendicite já no dia da final contra o Coritiba. Felipão escalou Betinho, e o Palmeiras fez 2 a 0 para viajar com mais tranquilidade para o Paraná.

Antes do segundo jogo, deu tempo de Maikon Leite sofrer uma pancada no tornozelo contra a Ponte Preta, pelo Brasileiro, e ser relacionado apenas às pressas. No voo para Curitiba, a turbulência na aeronave fez com que o elenco nem tivesse acesso à refeição no avião; e já na tarde do jogo decisivo, Henrique ainda sofreu com febre de 39 graus. 

Mas, depois de todo o caminho de pedras e problemas percorridos pelo Palmeiras, o time conseguiu, enfim, no mesmo Couto Pereira do maior vexame da temporada passada, apagar os 6 a 0 e gritar "é, campeão" na casa do Coritiba. Para, finalmente, sanar o principal problema colocado em nove das dez entrevistas dos atletas palmeirenses: a carência de títulos da torcida. Pelo menos por enquanto, aliviada.

"Cada um se superou, deu a sua força. É o título da 'Família Scolari' em geral. Do torcedor até o funcionario do clube", desabafou Henrique. "Tudo o que passamos desde que cheguei foi turbulento. Não tínhamos o que fazer a não ser proteger um ao outro. A torcida nos incentivou, confiou na gente. Todo mundo é igual e tem a porcentagem igual", continuou.

"A equipe é isso ai. Todo mundo era desacreditado, o grupo se fechou e se uniu. Tiramos força do grupo, desde o funcionário que corta grama, que limpa o vestiário", completou Luan.

"É isso que eu dizia sempre, desde 2010, quando eu cheguei. Eu gostaria de ser campeão aqui. Depois de dois anos sofrendo, muitas vezes passando humilhação de vocês próprios da imprensa. Muitos diziam que a gente viria aqui e o 'fantasma' dos 6 a 0 do ano passado ia voltar", encerrou Marcos Assunção