sexta-feira, 20 de abril de 2012

Futebol brasileiro x futebol europeu: quando o pachequismo atrapalha

Talvez a culpa seja deste incrível Barcelona. Talvez seja a simples popularização dos times e jogadores estrangeiros, hoje com mais espaço na mídia nacional. Talvez seja só a democratização dos debates ocorrida com a chegada das redes sociais. Muito provavelmente, é tudo isso junto.

Mas quem gosta de futebol e vive conectado nas redes sociais sabe que virou recorrente, nos últimos tempos, a discussão sobre futebol brasileiro versus futebol europeu.

Parece uma discussão tola, porque quem gosta de futebol certamente aprecia ambos, o europeu e o brasileiro. É o meu caso, embora nesse início de ano seja duro comparar jogos decisivos de um torneio como a Liga dos Campeões com as melancólicas partidas dos nossos minguados e agonizantes estaduais. Mas um ótimo Brasileirão vem aí, e logo mais tudo vai melhorar por aqui.

De qualquer forma, a discussão, como eu dizia, ganhou corpo e espaço. E ficou divertida.

Surgiram contas de Twitter como o bom @cornetaeuropa, especializado em tirar sarro do futebol europeu: “Hoje é aquele dia nulo pra corneta. Ou vence o time que nêgo tem tremidinhas de orgasmo ou uma joint venture russa”, publicou antes de Chelsea x Barcelona, nesta quarta.

O @flaviogomes69, aqui da ESPN, é outro que adora fazer piadinha com os assépticos e impecáveis campos, times e jogadores europeus: ele odeia decisões sem cusparadas. Um outro amigo, também jornalista, de outra emissora, adora tuitar coisas na linha "O Ibrahimovic é um Rodrigo Tiuí com grife" (eu até sei que ele não está falando sério, mas muita gente não sabe...).

E por aí vai. Tem muita gente simplesmente fazendo piada. Uns com mais graça e outros com menos, como de costume. Alguns querem claramente provocar discussão e debate, o que pode ser saudável. Nessa proliferação de diogos mainardis do esporte, uns tem mais estilo e outros menos. Faz parte e não é um problema.

O problema aparece quando o viés nacionalista começa a impregnar informações que deveriam ser só informações. Então, generosamente, vamos esclarecer:




•  Pelo menos até hoje, o bom zagueiro David Luiz (foto acima), nunca foi considerado "a maior esperança de parar Lionel Messi". Nem a vaga de titular o brasileiro tinha garantida para o jogo contra o Barça. E Gary Cahill (seu SUPOSTO substituto) foi eleito um dos melhores em campo pela imprensa europeia.

•  Não há hoje, em Madri, um grande clamor por Kaká como titular do Real. Ele tem feito bons jogos, é verdade, mas para a maioria dos torcedores do Real, como mostraram sondagens do diário Marca, Di Maria e Ozil deveriam mesmo ter sido titulares ao lado de Cristiano Ronaldo e Benzema contra o Bayern. Só por aqui tanta gente tinha certeza de que o brasileiro deveria começar a partida.

•  Sobre o lateral Marcelo, do Real, uma opinião: poucos discutem que ele é melhor que Coentrão. Mas é impossível desconsiderar sua falta absurda sobre o alemão Muller com poucos minutos em campo. É a ausência deste cara, que por seu recorrente desequilibro deveria (de novo!) ter sido expulso e suspenso, que nos dá tantos argumentos para demonizar Mourinho pela derrota contra o forte Bayern?

Tirar sarro do futebol europeu não é problema. Acho até divertido. E, a não ser no caso das frases do Andres Sanchez, dizer que "Cristiano Ronaldo é só marketing", que "o Barcelona é uma balela" e que "Messi é uma cria da mídia" são obviamente piadas, provocações que não deveriam incomodar ninguém.

O problema é querer falar sério sobre um tema desconhecendo o contexto e impregnando-se de nacionalismo. Porque aí a piada vira desinformação.