terça-feira, 27 de março de 2012

VÍDEO: Proibir torcidas é tolice. PM admite impotência. Guerra continuará

Rede Globo, programa Bom Dia Brasil, segunda-feira, manhã seguinte à batalha da Avenida Inajar de Souza entre corintianos e palmeirenses. No ar uma matéria sobre o conflito. Palavras do Cabo Adriano Lopomo: "Eles começaram a se aproximar, a Polícia Militar ficou no meio das duas torcidas. Mas teve uma hora que a integridade física da gente ficou comprometida e não teve como evitar a aproximação. Eles estavam utilizando fogos de artifício, bombas caseiras, entendeu? E a Policia Militar não teve outra saída a não ser recuar e deixar, infelizmente, praticamente assistir ao conflito" — clique aqui e veja a reportagem.

O cabo da PM de São Paulo em entrevista após o conflito de domingo


Na mesma matéria, policiais aparecem disparando balas de borracha contra torcedores, na tentativa de organizar filas para que corintianos entrassem no Pacaembu, segundo a repórter. Ou seja, numa área com potencial conhecido para conflitos violentos, centenas de torcedores se enfrentaram diante de duas viaturas da PM cujos ocupantes sentiram-se impotentes e nada fizeram. Já na Praça Charles Miller, em frente ao estádio, enorme contingente atacava torcedores porque os responsáveis pelo jogo não conseguiam montar simples filas.

Policiais atiram com balas de borracha em frente ao estádio do Pacaembu
Policiais atiram com balas de borracha em frente ao Pacaembu
Crédito das imagens: Reprodução TV Globo

Não é preciso pensar muito para perceber o quão ruim é a estrategia da polícia paulista nos dias de clássicos explosivos. O que leva o cidadão sem qualquer relação com isso a passar momentos de terror, como os vividos pelos que estavam na Avenida Inajar de Souza na manhã de domingo. O histórico recente de brigas entre integrantes de organizadas dos dois rivais apontava para a enorme perspectiva de confusão. Lideranças das torcidas passaram, mais de oito meses antes, o mapa dos pontos onde acontecem tais conflitos. E esse endereço está lá, registrado. Era possível evitá-lo.

Douglas Karim Silva, torcedor do Corinthians, foi encontrado morto no rio Tietê em 29 de agosto, pouco tempo depois da entrega do mapa à polícia. Ele morreu dois dias antes, após uma briga com palmeirenses. Uma das versões que circulam entre corintianos é a de que o rapaz foi morto na "trairagem", em represália após uma briga marcada (sim, isso mesmo, uma briga devidamente agendada) na qual os alvinegros teriam ido com o dobro de integrantes. Na volta após a batalha, palmeirenses teriam encontrado dois torcedores do clube rival. Doulgas seria um deles.

O troco estava encomendado. No submundo das torcidas, muitos falavam que neste domingo os alviverdes levariam o troco. Comentários sobre a briga, a vingança, circulavam nas redes sociais. Veja, abaixo, reprodução do twitter com informação registrada na véspera da partida, em 24 de março. Na visão de palmeirenses, os rivais quebraram um "acordo" na briga do ano passado.

Conflitos acertados como esse podem ter algumas regras, como não chutar o "inimigo" caído no chão e não levar arma de fogo. Duelos regionalizados para quem apenas deseja... brigar. Foi assim até que algumas falhas no acordo aconteceram e o cenário foi ficando pesado, alcançando o estágio atual, um dos piores na história da rivalidade entre integrantes de organizadas dos dois rivais.

Reprodução de tuitada feita na véspera do conflito da Inajar de Souza
"Tuitada" feita na véspera do conflito da Inajar de Souza: surpresa?
Crédito da imagem: Reprodução

Tudo isso reforça a ideia de que, para muitos integrantes de organizadas, as brigas são uma oportunidade de extravasar. Eles têm prazer pelo confronto, curtem a adrenalina do combate. É assim no mundo inteiro! Que fique claro, o texto não faz uma defesa de tal comportamento, mas apenas uma constatação. Assim, a inócua proibição da Federação Paulista, que promete não mais permitir que Mancha Verde e Gaviões da Fiel entrem nos estádios, vetará no máximo camisas, bandeirões e faixas. Quem quiser brigar, continuará brigando, até porque o ringue não costuma ser o local do jogo, o que está bem claro.

Integrantes dessas facções que não participam de tais confusões e querem mesmo apoiar seus times sairão perdendo. Só falta proibirem as torcidas de vez e empurrarem esses grupos para o anonimato, como na segunda metade dos anos 1990. Sem saber quem são eles, qual o nome do líder, como se estruturam e o que pretendem fazer, os policiais ficarão em dificuldades ainda maiores na tentativa de contê-los. Se fosse tão simples assim eliminar o problema, proibindo as torcidas, brigas como a de domingo não mais existiriam há pelo menos 15 anos.

Falta inteligência, estudo, trabalho, conhecimento do problema. Há muito tempo o cenário não era tão favorável a quem deseja brigar com outra torcida. E se a vingança corintiana estava no ar há meses, a palmeirense, claro, entrou na fila. Ou alguém acha que essa história triste vai parar por aí? A guerra continuará.




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