terça-feira, 27 de março de 2012

Comandante volta da folga e diz: 'Legislação é forte, mas penas são brandas'

No início da tarde de segunda-feira, o tenente-coronel Carlos Celso Savioli, comandante do 2o Batalhão de Choque da Polícia Militar, abandonou sua folga e voltou ao trabalho. Extremamente educado, falou sobre todos os problemas que envolveram a morte do torcedor palmeirense André Alves, de 21 anos. Falou também sobre o preparo da Polícia Militar para enfrentar o problema da violência. Leia a íntegra:

PVC - Falamos sobre o problema da legislação, mas também sobre o preparo da PM para cuidar do problema. Qual o maior entrave?
TENENTE CORONEL SAVIOLI -
As duas coisas. Quando se fala que havia dois carros da Polícia Militar na Inajar de Souza, essa região tem o cuidado do Policiamento da Capital. Não é ligado ao Batalhão de Choque. Minha área é estádio. Então, eu faço relatório com os locais de risco de conflitos. Havia outros lugares onde poderia haver conflitos. Outra questão é que o jogo era às 16h, o que significa que nosso contingente estava preparado para cuidar dos locais a partir do meio-dia.

PVC - Mas ano passado, houve um problema na Avenida Inajar de Souza à noite, num dia de jogo às 16h em Presidente Prudente, a 550 km da capital. Não poderia haver problemas no domingo de manhã, ontem?
TENENTE CORONEL SAVIOLI -
Poderia. Vamos dizer que houve erro de avaliação? Veja, havia outros locais onde poderia haver problemas. Havia cuidados no Terminal Carrão, no Largo do Paissandu, no centro. Fazemos os relatórios para o policiamento de área. Fizemos o que dava para fazer.

PVC - Então vamos voltar à raiz do problema. Desde 1995, pelo menos, fala-se em legislação específica, mas a questão parece ser de Polícia e de Justiça.
TENENTE CORONEL SAVIOLI -
É isso. Por isso, eu tenho falado que é preciso fazer todos os esforços necessários para conter esse problema. É preciso unir sociólogos, psicólogos. Fala-se que é preciso extinguir as torcidas uniformizadas, mas eu tenho insistido em dizer que a violência agora está fora do estádio. É preciso discutir esse assunto a fundo, porque ele vai ser muito mais sério do que o problema de ontem permite pensar. Hoje, já temos pelo menos 30 torcedores proibidos de entrar nos estádios.

PVC - O senhor diria que o problema é do Legislativo e do Judiciário?
TENENTE CORONEL SAVIOLI
- Veja, há três anos fizeram uma legislação extremamente forte, com o Estatuto do Torcedor. Mas as penas são brandas. Se você olhar para a legislação, o Estatuto do Torcedor hoje resolve tudo, mas as penas são leves. Há o processo, o torcedor leva tempo para ser julgado e as penas são revertidas em cestas básicas.

PVC - Então o Legislativo não legislou a contento?
TENENTE CORONEL SAVIOLI -
A lei é bem forte.

PVC - No passado, havia comandantes como o Tenente Coronel Vilar, que estudaram na Inglaterra, conheceram o relatório Taylor, se aprofundaram no problema. A impressão hoje é de que não é assim. O senhor estudou o assunto fora do Brasil?
TENENTE CORONEL SAVIOLI -
Eu estudei pelo Brasil. Li tudo o que saiu no Brasil, teses sobre o assunto.

PVC - Mas o senhor viajou pelo Brasil, foi ao Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul...?
TENENTE CORONEL SAVIOLI -
Não.

PVC - Pessoalmente, o que sempre me incomodou foi tratar o assunto como uma culpa do futebol, em vez de tratar de um problema de segurança pública...
TENENTE CORONEL SAVIOLI -
Aí você matou o problema.

PVC - O problema não é do futebol, mas da Polícia e da Justiça... Falou-se sobre legislação específica, mas o que aconteceu ontem na Inajar de Souza foi homicídio.
TENENTE CORONEL SAVIOLI -
Aí você chegou ao xis da questão. Tirou o coelho da cartola. É homicídio.