quarta-feira, 23 de novembro de 2011

O gol de Adriano

Se permitido fosse, a torcida do Corinthians estaria até hoje, nesta segunda-feira, dentro do Pacaembu. Estaria ali inebriada nas arquibancadas. No limite entre as lágrimas e a felicidade. Sem saber que rumo tomar. Se é que deveria seguir por um caminho que não fosse até aos pés de Adriano para agradecer.
Agradecer por um gol inacreditável para muitos e real para um atacante que não mandava uma bola para as redes havia um ano e cinco meses. Difícil acreditar que Adriano ainda teria poder para fazer valer seu império.
Pesado como um mamute. Sem coordenação nos movimentos, pernas presas a uma tonelada e com pulmão para 25 minutos, se tanto, para andar pelo gramado. E ainda sem poder se saciar com o banquete na grande área. Quanto muito, à espera de uma migalha.
Inimaginável que um jogador com este perfil pudesse fazer a diferença. Os mais críticos diriam que nem mesmo um casados contra solteiros ele resolveria. Mas os críticos, seja lá quem for, não comungam da mesma paixão que tem uma torcida de futebol. A do corintiano, então, nem se fala. Paixão de fiel.
Por isso mesmo este torcedor tinha motivos para acreditar em Adriano. Não faz tempo, essa nação havia depositado seu coração em outro peso pesado. Ronaldo, o nome dele. Adriano nunca vai ser o Fenômeno. Contenta-se em ser o Imperador e também em decidir jogos impossíveis.
Então ele apareceu. De um bico de Leandro Castán na dividida com Neto Berola, Emerson arrancou por absurdos 43 metros. Viu Adriano ali, meio escondido atrás de Leonardo Silva – um elefante atrás de um poste –, e serviu a bola ao Imperador.
Adriano só tinha um movimento a fazer que era manter o equilíbrio do corpanzil e trazer a bola para sua canhota, acostumada aos torpedos. Ele arrumou e bateu leve no canto, longe do alcance de Renan Ribeiro. Gol. Era a virada do Corinthians numa jornada que parecia perdida.
A multidão vestida de preto e branco, perplexa, não sabia se chorava ou se sorria. Abraços calorosos. Beijos nos rostos suados e no escudo da camisa. O Pacaembu parecia sacudido por um terremoto em que nada desmoronava, mas impressionava pelo impacto da emoção.
Inacreditável. Irreal. Gol do Adriano? Conta outra. Tudo o que se falou do Imperador escorreu pela sarjeta. Estava consumada a comunhão do título. Um time quando embica na trilha da taça também vive do imponderável. “Não tem explicação”, disse Adriano ao final do jogo.
A torcida do Corinthians tem todos os motivos para acampar no Pacaembu. Aconteceu ali, no início da noite deste domingo, um milagre do futebol.