terça-feira, 23 de agosto de 2011

A impressão pessoal de cada um

A seguir os dois depoimentos, de Felipe Massa e o meu, sobre a experiência de conduzir o carro do Troféu Linea. Para entender melhor, recomendo a leitura dos dois posts anteriores.
Cada um na sua
Felipe Massa
Quando recebi o convite para a reportagem – andar em um carro do Trofeo Linea como passageiro de um jornalista -, confesso que fiquei um pouco receoso. Tanto que achei melhor consultar a Ferrari e pedir a aprovação, já que praticar atividades que envolvam risco não é exatamente o que as equipes entendem como a maneira mais saudável de passar as férias… Mas, para minha surpresa, eles toparam na hora. Possivelmente o fato de já conhecerem bem o Lívio deve ter ajudado a facilitar a matéria.

Da experiência, posso dizer que tive um pequeno sofrimento, mas foi divertido. De início já percebi que precisaria mudar alguns conceitos que ele trouxe dos veículos de rua. Por exemplo: os freios. Nas primeiras voltas, ele nem freava, arrancava o pé do acelerador e começava a reduzir, achando que o carro ia parar. Disse-lhe: o freio é para você frear. Pode frear forte, o carro está entrando muito rápido na curva. A idéia dele de trajetória não era errada, mas como não carregava a velocidade certa para a curva, porque não freava certo, não conseguia fazer nada que tinha cabeça. Entrava rápido demais na curva, perdia a trajetória e saía quase na grama.

Outra coisa: num carro de corrida o câmbio é inteligente. É feito para trocar as marchas com o pé lá embaixo. O Lívio tinha aquela mentalidade de pisar na embreagem, levantar o pé, engatar a marcha e acelerar de novo. Então, ele apanhou um pouco com as mudanças de marcha, aceleração e freadas. Parece simples, né? Mas é como no futebol. A gente vê o jogo e acha que os jogadores só estão fazendo besteiras. Agora, entra no campo e vai fazer o que você acha que é o certo para ver se é fácil…

Lívio até tinha as teorias certas, mas não conseguia colocar em prática. Depois que paramos algumas vezes no meio do traçado para eu dar alguns toques, senti que ele melhorou em praticamente todas as curvas, mas nem tanto no Esse do Senna.

De zero a 10, daria nota 7 para ele, considerando que foi o primeiro dia e a sua evolução da primeira para a última volta. Mas confesso que me deu vontade de dar uma nota mais baixa, talvez um 5, por ele ser jornalista e eu saber um pouco como a imprensa gosta de criticar. Como não sou jornalista, serei um pouco mais bonzinho.
Depoimento de Livio Oricchio
Deliciosa diversão
Aprender alguns segredos da condução precisa e veloz, num carro preparado para corrida, com um piloto de Fórmula 1 da Ferrari, representa ocasião única para qualquer apaixonado pela velocidade. Se tiver outra chance, com certeza farei de tudo para estar lá. Com uma diferença: penso que com os ensinamentos repassados por Felipe me sairia um pouco melhor. Embora, na minha avaliação, é importante tê-la, não creio ter dado vexame, preocupação maior depois da nossa segurança.
O que aprendi? Muita coisa. Por exemplo: ao contrário de um kart, pode-se acionar o pedal do freio no último instante, antes da curva, com toda energia, que o carro não vai sair rodando. No S do Senna era possível brecar quase dentro da curva, depois de tanto o Felipe me cobrar para não ter dó do freio. Sei que saí do teste devendo nesse aspecto. Mais: é possível posicionar as rodas de apoio, do lado de fora da curva, sobre a zebra e acelerar que não perdemos o controle do carro. Uma surpresa.
Ainda: o curso das marchas, no câmbio sequencial de seis, é muito curto, em especial as quatro primeiras. Como as luzes que indicam ter chegado no limitador de giros estavam encobertas pelo volante e eu não tenho experiência com os sons do motor, perdia tempo demais na maioria das vezes. O Felipe gritava “troca marcha, troca marcha”.
O mais difícil é você errar tendo conhecimento da teoria. Você se comporta de determinada maneira para, na sequência, confrontar com o que sabe e se sentir frustrado. Com exceção de todo o procedimento do S do Senna, em que perdia tempo não só lá como na Reta Oposta, nas demais curvas do circuito me senti em evolução.
Mais o mais importante foi ter interagido com o Felipe na atividade que, por mais que o critiquem, e eu mesmo já o fiz, cresceu muito desde que o conheci competindo de kart, em São Paulo. Ninguém é vice-campeão do mundo por acaso. Confiou em mim e pacientemente me repassou um pouquinho do muito que aprendeu. Foi delicioso ver como em poucas voltas chegou perto do limite do Linea, como tudo lhe fluía naturalmente, a facilidade para ser rápido.
Já para mim, coordenar com precisão todas as funções da pilotagem, por mais que eu tivesse noção teórica do que fazer, exigiria um tempo muito maior, dias de treinamento e Felipe, do lado, cobrando: “Muda isso, corrige aquilo”… Pior: não registraria marcas de maior expressão, penso. Ainda bem que ser piloto profissional nunca fez parte de meus sonhos. Amo o jornalismo. O contato com a velocidade é apenas uma deliciosa diversão.