segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Faca de dois gumes:

A frase do agente Wagner Ribeiro deve ser ouvida sem pensar em segundas intenções: "Se Neymar e Lucas jogassem na Europa, estariam prontos para a Copa de 2014."" Esqueça por um segundo se há ou não interesse do agente em negociar seus dois representados com o futebol europeu. Suas respostas para as propostas da Inter de Milão por Lucas e do Real Madrid por Neymar foram idênticas: NÃO!


Há quem diga que o Real não chegou ao valor da multa rescisória de 45 milhões de euros. Chegou, sim, e prometeu pagamento à vista em documento timbrado do clube espanhol, a que este colunista teve acesso.

É ótimo para o Campeonato Brasileiro que as respostas de Lucas e Neymar tenham sido NÃO, em três letras maiúsculas, com ponto de exclamação.

O Brasil precisa disso.

Mas pergunte aos treinadores brasileiros o que julgam das negativas, pensando na evolução técnica dos dois jogadores. Nove entre dez dos técnicos mais importantes do país respondem:

"O jogador brasileiro deve jogar na Europa, por seu desenvolvimento técnico e tático"", responde Felipão, último campeão mundial dirigindo a seleção brasileira.

Felipão faz questão de dizer que, aqui, os técnicos já têm boa cultura tática. Mas julga que, na Europa, o desenvolvimento do jogador seria mais completo.

Pergunto a Felipão por que a seleção foi campeã do mundo quando a maioria dos convocados atuava no Brasil, como em 1994 e 2002, e voltou derrotada quando a maioria veio da Europa, casos de 2006 e 2010. Ele responde: "Dos titulares de 2002, oito jogavam na Europa, três no Brasil"".

A base do time era Cafu, Roberto Carlos, Ronaldo, Rivaldo e Ronaldinho. Os cinco estavam na Europa.

O maior interessado em ter Neymar e Lucas em plena maturidade em 2014 é Mano Menezes. Mano tem defendido o desenvolvimento do jogador brasileiro dentro da cultura brasileira. Quanto mais tempo jogar aqui, melhor, desse ponto de vista. Mas Mano também sabe que Neymar estará mais maduro em 2014 se jogar entre os melhores. Acha que ele aprenderia mais rápido a lidar com espaços menores.

O exemplo a seguir foi dado por um membro da comissão técnica da seleção brasileira. O melhor marcador do craque do Santos, na Libertadores foi o lateral paraguaio Piriz, hoje no São Paulo. Quem o técnico do Paraguai, Gerardo Martino, escalou para marcar Neymar, na Copa América? O zagueiro Verón, do Pumas, do México. E barrou Piriz por julgá-lo insuficiente para marcar o melhor jogador da América do Sul.

Neymar não ganhou o duelo com Verón em nenhum dos dois confrontos com o Paraguai.

Para o futebol brasileiro, é muito melhor que Neymar fique.

Para a seleção brasileira, é melhor que vá. Incrível dualidade, provocada por décadas de falta de desenvolvimento do Campeonato Brasileiro.

Dublê de Messi? O São Paulo persegue Corinthians e Flamengo, no duelo com o Avaí, na Ressacada. Põe à prova seu novo sistema, com Dagoberto mais aberto pelo lado do campo e Rivaldo variando entre o comando do ataque a criação.

Questionado sobre o losango de meio de campo, que tem Rivaldo chegando à grande área e voltando para atuar às costas dos volantes, Adílson Batista responde: "Ele pode ser o Messi desse sistema?""

A pergunta é quase uma brincadeira. Quase. Rivaldo chega à grande área e é marcado pelos zagueiros de maneira implacável. Contra o Bahia, havia momentos em que era centroavante. Se ficar preso, será presa fácil para os zagueiros.

O x da questão é movimentar-se. Sai da área e abre espaço para Dagoberto se infiltrar. Entra na área e está pronto para receber o passe de Dagoberto que, nesse caso, cai pelas pontas.

Rivaldo não é Messi, mesmo porque foi eleito o melhor do mundo em 1999, dez anos antes de o argentino subir ao trono.

Mas fazer funcionar essa ideia pode ser o passo decisivo para o São Paulo brigar com Corinthians, Flamengo, Vasco e Palmeiras pelo título do Brasileirão.