segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Com revolução árabe, PSG volta a projetar domínio na França

A contratação de Javier Pastore por 43 milhões de euros, batendo a concorrência do Chelsea, foi o maior sinal até agora das intenções do Paris Saint-Germain para a nova temporada. O grupo Qatar Sports Investments, liderado pelo sheik Tamim Bin Hamad Al Thani e dono de 70 por cento das ações do clube, está disposto a transformar o time em uma potência do futebol nacional, antes de pensar em voos mais altos.

O torcedor do PSG vive, duas décadas depois da revolução provocada pela venda do clube ao Canal+, novamente a expectativa de comemorar títulos e ver o time protagonista em competições internacionais. Naquela ocasião, os investimentos foram pesados, mas os resultados nem sempre estiveram à altura.

Em 1990, o momento do futebol francês era delicado, com a seleção fora da Copa do Mundo e muitos times em dificuldades financeiras. O Racing Paris, outro time da capital, onde jogou por três temporadas Enzo Francescoli, foi obrigado a abandonar o profissionalismo.

Dono dos direitos de transmissão, o Canal+, ciente da importância de Paris para o mercado, decidiu investir no PSG. O clube era relativamente jovem - fundado em 1970 através de uma fusão - mas já tinha algumas glórias no currículo, como duas Copas da França e o título da liga em 1986. Porém, os resultados haviam piorado e as cenas de violência nos estádios eram comuns, em um período marcado pelo hooliganismo em diversos cenários do futebol europeu.

Ao comprar parte do PSG, a intenção do Canal+ era produzir um rival à altura para o Olympique de Marseille. No decorrer dos anos 90, nomes como Raí, Weah, Valdo e Ginola passaram pelo clube. Alcançar o Olympique não era tarefa simples, mas os escândalos do rival deram uma mãozinha, e em 1994 veio o título sob o comando do português Artur Jorge.

O que se desenhava como um período de possível domínio, porém, não se concretizou. Artur Jorge foi demitido mesmo com o título, porque o estilo de futebol não agradava aos donos. Luis Fernandez não conseguiu repetir a conquista da Ligue 1, mas internacionalmente fez boas campanhas: semifinal da Champions League em 1995 e título da Recopa em 1996, até hoje o último troféu continental de um clube francês.

Como o OM teve de pagar sua pena na segunda divisão e o PSG não conseguiu se impor na liga, houve um vácuo de poder. Nas sete temporadas entre 1994/95 e 2000/01, foram cinco campeões diferentes.

O Canal+, que havia se tornado acionista majoritário em 1997, se cansou de apostas equivocadas e decidiu apostar alto em 2000, quando pagou 33,5 milhões de euros por Nicolas Anelka - que era, até o acerto com Pastore, o jogador mais caro da história do futebol francês (ver lista abaixo). No ano seguinte, o canal aumentou seu controle acionário para 98% e foi contratado Ronaldinho.

Nada disso foi suficiente. Tanto Anelka quanto Ronaldinho tiveram problemas com Fernandez, que havia retornado, e acabaram deixando o clube.

Enquanto isso, o Lyon estabelecia uma hegemonia de sete títulos, com o PSG chegando perto apenas uma vez, em 2004, quando ficou com o vice. Depois de um período sem fazer grandes investimentos, o Canal+ decidiu passar o clube adiante, vendendo a um consórcio liderado pelo grupo norte-americano Colony Capital em 2006. O time continuou sofrendo dentro de campo, até que a chegada de Antoine Kombouaré ao comando do time, em 2009, representou a esperança de dias melhores.

Kombouaré tinha história no PSG como jogador, tendo atuado no clube entre 1990 e 1995, e vinha de um trabalho sólido como treinador no Valenciennes. Em sua primeira temporada, deu aos parisienses a oitava Copa da França, mas ficou longe das primeiras posições no campeonato. Em 2010/11, com um elenco sem estrelas e tendo o brasileiro Nenê como destaque, conseguiu o quarto lugar na Ligue 1 e outra final da Copa, desta vez com derrota para o Lille, que também seria campeão nacional.

Com a chegada do dinheiro árabe, Kombouaré sabe que precisará de títulos para legitimar seu trabalho - especialmente porque tem contrato apenas até o fim da temporada 2011/12. Leonardo foi contratado para ser diretor esportivo, mas, considerando o histórico recente, não seria surpresa se o brasileiro acabasse assumindo como treinador em caso de necessidade.

Pastore não foi o único jogador que Leonardo buscou na Itália. Junto com ele, chegaram o goleiro Salvatore Sirigu (Palermo, 3,5M), o volante Mohamed Sissoko (Juventus, 7M) e o meia Jeremy Menez (Roma, 8M). Do mercado local chegaram o goleiro Nicolas Douchez (Rennes, custo zero), o zagueiro Milan Bisevac (Valenciennes, 3,5M), o volante Blaise Matuidi (Saint-Etienne, 7,5M) e o atacante Kevin Gameiro (Lorient, 11M).

Ao todo, já foram gastos 83,5 milhões de euros em contratações, e ainda há mais um mês de janela aberta pela frente. Como bem lembrou Arsène Wenger durante a Copa Emirates, o PSG é o "Manchester City francês", com um potencial de gastos inalcançável para os rivais.

A curto e médio prazo, será importante reforçar as receitas do clube para uma rápida adequação ao fair-play financeiro proposto pela Uefa. Pelo último levantamento da Deloitte, relativo à temporada 2009/10, apenas Lyon e Marseille representam a França entre os vinte maiores faturamentos da Europa. Um retorno que só chegará com exposição, conquistas e participações frequentes na Champions.

Transferências mais caras da história do futebol francês (em milhões de euros):

1) Javier Pastore (Palermo - PSG, 2011) - 43
2) Nicolas Anelka (Real Madrid - PSG, 2000) - 33,5
3) Lisandro López (Porto - Lyon, 2009) - 24
4) Yoann Gourcuff (Bordeaux - Lyon, 2010) - 22
5) Lucas (Atlético-PR - Rennes, 2000) - 21,4
6) Shabani Nonda (Rennes - Monaco, 2000) - 19,8
7) Michel Bastos (Rennes - Lyon, 2007) - 18
André-Pierrre Gignac (Toulouse - Marseille, 2010) - 18
Lucho González (Porto - Marseille, 2009) - 18
Kader Keita (Lille - Lyon, 2007) - 18