quarta-feira, 13 de julho de 2011

Sem hesitação

Hoje o Brasil entra em campo na Copa América não apenas com a missão aparentemente fácil de ao menos empatar com o lanterna Equador, mas sobretudo com a de mostrar que começa a ser um time, ou seja, que os principais jogadores consigam mostrar sua qualidade. Pois é isso que está acontecendo com a seleção: ninguém está jogando bem. E, quando isso acontece, a reação do torcedor é de duas, uma: ou a culpa é do técnico ou é porque houve exagero na atribuição de talento a alguns nomes.
Com a vitória da Argentina anteontem, as duas reações - que às vezes vêm da mesma pessoa - pareceram confirmadas. Afinal, bastou o treinador mudar a escalação e entrar com Aguero, Higuaín e Di María ao redor de Messi para que o time vencesse, ainda que a frágil Costa Rica, e convencesse, sobretudo com os passes e dribles do melhor jogador do mundo. O torcedor, antes de tudo um impaciente, já estava chamando o treinador de burro e, mais relevante ainda, dizendo que Messi - cuja participação na Copa de 2010 não foi medíocre como se afirma, apesar da falta de gol - só joga no Barcelona, que não canta o hino, etc e tal. Dois jogos ruins num time ainda mal montado foram suficientes para lançar o ídolo na lama, indo além das quatro linhas.
Mas e a seleção brasileira? É ainda mais incipiente que a Argentina, com diversos novatos, poucos veteranos, ninguém no auge de sua forma como Messi. Neymar não tem rendido o que sabe, menos pelo posicionamento (está atuando onde gosta, entrando na área pela esquerda), mais pelo preciosismo. Muitas vezes deixa de dar um passe para alguém mais bem colocado e tenta uma jogada individual numa região congestionada de marcadores e acaba perdendo a bola. Ganso já tem feito seu papel, de assistir aos atacantes, e aos poucos vai transmitir a segurança na seleção que transmite no Santos. Pato continua irregular, com lances bonitos alternados com erros cruciais. Não acredito que Mano Menezes seja responsável por esses momentos individuais.
Há questões táticas, porém, e concordo com a estimativa de que técnico influi em 25% do resultado. Não é autor nem protagonista de uma equipe, pois os jogadores é que jogam, tomam decisões a cada momento, executam tarefas pedidas e não pedidas (e os craques nada mais são do que os que sabem qual será qual nos devidos instantes); mas é um coordenador, alguém que pode fazer a diferença com uma ou outra substituição e com os treinamentos. No caso da Copa América, Mano não teve tanto tempo para entrosar os jogadores e determinar um padrão tático e comportamental.
Mas, claro, Mano entende do riscado e já percebeu algumas questões, como mostrou ao tentar Jadson no lugar de Robinho por ser um meia por função, para dividir armação e compactação com Ganso na intermediária. Acontece que Jadson é limitado, e o treinador não pode ser culpado da carência de bons meias no futebol brasileiro. Outra questão que ainda precisa enfrentar é a do desempenho dos laterais, Daniel Alves e André Santos, que às vezes se preocupam demais em apoiar e de menos em defender e, tal como Neymar e mesmo Ganso, às vezes preferem o efeito à eficiência. O papel dos volantes é essencial nessa equação, já que não dá para querer que laterais com esse perfil não avancem, ainda que alternadamente. Da mesma forma, não vejo quem possa substituí-los no momento. Eles ainda têm crédito.
No aspecto mais geral, estou de acordo com Lúcio e acho que ele tem experiência e autoridade para dar um puxão de orelhas no grupo, lembrando que é preciso ser mais sério em determinados momentos. Mas espero que Mano, os comentaristas e a torcida não comecem a querer um futebol menos "ofensivo", porque afinal esse não tem sido o problema; ao contrário, esse time tem chutado pouco e mal! Se for para olhar para a Argentina, então que se olhe como o time melhorou ao ter jogadores que entram na área constantemente e concluem sem hesitação, como fez Aguero nos dois gols. Ganso passa e Neymar finaliza - eis o que todos queremos ver, cierto?