quarta-feira, 13 de julho de 2011

Capitã da Marinha dá porção militar ao time de vôlei

RIO - A capitão-tenente Martha Bonel vive situação inusitada. Ela é a única a seguir carreira militar na seleção brasileira feminina de vôlei nos Jogos Militares, que começa sábado. Curiosamente, faz papel de intrusa numa equipe composta por outras 12 jogadoras profissionais que disputam a Superliga ou atuam fora do País.
Marcos de Paula/AE
Marcos de Paula/AE
Intrusa no ninho. A líbero Martha Bonel é a única militar da equipe com atletas consagradas
"É realmente uma sensação diferente." E que lhe dá muito prazer. É o resgate de uma trajetória encerrada precocemente. Na época, com 17 anos, ela deixou o Botafogo e a seleção carioca juvenil de vôlei para estudar. "Sou baixinha, logo resolvi me dedicar aos livros."
Formou-se em odontologia, ingressou na Marinha e, agora, aos 35 anos, volta a ter vida de atleta de alto rendimento. "Não me arrependo de nada. Faria tudo da mesma maneira."
Os treinamentos são puxados. No início, ela sentiu muito. Tudo doía.
Em vez de desistir, Martha se superou e tem suportado bem os exercícios físicos. Na verdade, ela jamais abandonou o esporte. Sempre jogou tênis, futebol e, atualmente, faz parte do time master do Flamengo de vôlei - "apenas por hobby".
O novo desafio lhe trouxe motivação, contato com atletas que só via pela televisão e o reencontro com dois velhos amigos: o técnico Hélio Griner, com quem trabalhou na seleção carioca, e a central Valeskinha, companheira dos tempos de Botafogo. "Está sendo uma experiência única".
Sua função no time vai além das quadras. Ela passa para as demais atletas o seu conhecimento sobre as obrigações militares, como prestar continência, cumprir horários, marchar e respeitar a hierarquia.
No ano passado, depois de avaliação curricular, entrevista e exames médicos, 12 jogadoras da equipe, entre elas as pontas Regiane e Fernanda Garay, fizeram estágio no Exército e tornaram-se sargentos temporários. O contrato, renovado a cada temporada, tem duração máxima de sete anos.
A intenção foi reforçar a seleção que vai participar dos Jogos. Sem rodeios, Martha admitiu ter sido convocada por um motivo especial: para que o time tenha pelo menos um representante das Forças Armadas. Por mais que sue a camisa, nem sonha em ser titular. Se entrar em algum jogo, já será uma conquista.
"Se fosse para obturar um dente, ela seria titular. Mas como é para jogar vôlei...", brincou o treinador Hélio Griner, auxiliar de Bernardinho. Ele enalteceu o esforço da dentista Martha. "Ela é um exemplo de dedicação e superação. Isso nos motiva."