segunda-feira, 4 de abril de 2011

Por que o Barcelona, o time da posse de bola, já é o tricampeão espanhol

Este é o fim de semana que poucos vão lembrar daqui um ou dois meses. Mas, na minha visão, foi o fim de semana em que os quatro principais campeonatos nacionais da Europa ficaram decididos: Manchester United, na Inglaterra, Borussia Dortmund, na Alemanha, Milan, na Itália, e Barcelona, na Espanha, serão campeões.

O Dortmund vinha derrapando e deu um golpe de autoridade. O United vê Rooney renascer na fase decisiva da temporada e contou de novo com tropeços de Arsenal e Chelsea. O Milan ganhou bem o clássico contra a Inter e abriu cinco pontos - é o menos garantido dos quatro, mas encaminhou o Scudetto no duelo direto.

E o Barcelona...

Bem. Já dizia há algumas semanas que uma virada do Real Madrid era muito difícil pela tabela que ambos tinham pela frente.

Antes desta rodada, faltavam nove para o fim. Uma, a do clássico, daqui a duas semanas. Quatro delas favoráveis ao Barcelona, já que o Real Madrid vai pegar quatro cascas fora de casa (Athletic de Bilbao, Valencia, Sevilla e Villarreal). Outras três, neutras, com jogos relativamente tranquilos para ambos. E apenas uma rodada era altamente favorável ao Real Madrid.

Justamente essa, a 30ª. O Real pegaria o Sporting Gijón em casa, enquanto o Barcelona enfrentaria o Villarreal, terceiro colocado, fora. Se o Madrid quisesse ganhar o campeonato, teria que sair dessa rodada 2 ou 3 pontos atrás do Barcelona. Assim, poderia ganhar o clássico e dependeria de suas forças no que restasse de liga.

Aconteceu o contrário. Na única rodada favorável ao Real, o time de Mourinho perdeu para o Sporting e o Barça ainda ganhou em Villarreal, abrindo oito pontos.

O Barcelona perdeu, até agora, só 1 jogo em 30 no Espanhol. Para ganhar o título, o Real, além de ganhar o clássico e todos os seus outros jogos, precisa que o Barça perca duas das outras sete partidas restantes. Não vai acontecer.

Não é só a tabela, logicamente. O Real Madrid tem um ótimo time, foi mais consistente do que nas temporadas anteriores. E ainda pode ganhar a Copa do Rei (jogo único contra o Barcelona) e a Champions League (ainda que, para isso, também tenha o Barça no caminho). Mas hoje, contra o Gijón, algumas coisas ficaram evidentes.

A saída de bola de Marcelo e suas chegadas pela esquerda são importantes. O ritmo de jogo que dita Xabi Alonso, a qualidade no passe e as bolas em profundidade, também. E a eficiência de Cristiano Ronaldo dispensa comentários. Hoje, os três ficaram fora da partida. E com os três juntos fora, ao mesmo tempo, a criatividade desapareceu.

Özil é craque? Não sei. Muito bom jogador sim, ele é. Mas ainda não foi capaz de mostrar que consegue levar jogos nas costas, ganhar partidas "sozinho". O Real completo, incluindo a volta de Higuaín, pode ganhar as duas taças que restam. Mas, sem Cristiano, Xabi Alonso e Marcelo, nem do Gijón passa.

O Barcelona também teria dificuldades sem Messi, Xavi e Daniel Alves. Sem os três, ao mesmo tempo, também viraria um time com problemas dependendo do adversário que enfrentasse. Foi assim no primeiro tempo contra o Villarreal, sem Xavi e Messi, além de Pedro.

Mas o trunfo do Barça é ter um time, do 1 ao 11, que sabe a que joga. Que tem um estilo definido. A qualidade cai com a troca de peças fundamentais, mas a maneira consistente de jogar deixa o time sempre mais perto da vitória do que o adversário.

Encerro o raro post com um dado. Desde que Pep Guardiola assumiu, o Barcelona jogou 167 partidas oficiais. Em TODAS ELAS, teve posse de bola superior à do adversário - em alguns jogos, passou de 80%. Estamos incluindo aqui duelos de Champions, Copas... todas as competições. Nesta temporada atual, sua média de posse de bola na liga espanhola é de 71%.

A última vez que o Barcelona teve menos posse do que o rival foi em maio de 2008, no Bernabéu, contra um Real já campeão por antecipação. O time estava esfolado mentalmente e a revolução viria no mês seguinte, com a chegada de Guardiola, a saída de Ronaldinho e outros.

São quase três anos completos com a bola no pé. São quase três anos completos jogando um futebol melhor do que qualquer outro time. Por isso, pela tabela, por tudo junto... o Barcelona já é, pela segunda vez em sua história, tricampeão espanhol.