terça-feira, 3 de maio de 2016

Do riso do impossível ao choro do milagre: Leicester consuma conto de fadas e é campeão

Dois jogos, duas vitórias. O início do Leicester City no Campeonato Inglês deixou Gary Lineker, um dos maiores ídolos da história do clube, empolgado. 
"O objetivo continua ser escapar do rebaixamento, não é chegar à Champions League ou à Liga Europa?", perguntou, aos risos, o ícone inglês ao técnico Claudio Ranieri, durante uma transmissão da BBC.
A resposta foi enfática e também aos risos: "Obrigado, Gary, mas não é possível."
Mal sabia o treinador que seu time estava apenas começando a alcançar o impossível. Na terra dos magnatas, das contratações mais caras e do campeonato mais glamouroso do planeta, o Leicester construiu seu milagre. Um milagre definido nesta segunda-feira, quando o Tottenham, concorrente direto na briga pela taça, empatou com o Chelsea em 2 a 2.
Após empatar com o Manchester United em 1 a 1 no domingo, o Leicester precisava que os Spurs não somassem três pontos diante dos Blues, feito que parecia improvável no intervalo, quando o vice-líder vencia por 2 a 0. Porém, gols de Cahill e Hazard fizeram a partida terminar igual, e deram o título aos Foxes.
O título em vídeos
       
Manchester United, Manchester City, Liverpool,  Arsenal, Chelsea, Tottenham... nenhum deles foi capaz de peitar os Foxes, que veem seus sete troféus da Segunda Divisão Inglesa e os dois da Copa da Liga Inglesa deixarem o patamar de título mais importante da história do clube.
E o Campeonato Inglês, com 130 anos de história, tem um campeão inédito - o primeiro desde o Nottingham Forest de 1977-78. Mas isto está longe de ser o principal motivo para que este seja um dos maiores feitos já registrados do futebol.
Carta
Mais impressionante que a conquista em si, é a forma como o clube conseguiu isso, apesar da diferença abissal para seus maiores rivais. Há seis anos, o Leicester era rebaixado à terceira divisão. Há um ano e 15 dias, estava na lanterna da Premier League.
Sete triunfos, um empate e uma derrota nos últimos nove jogos marcaram não só a virada impressionante para os Foxes seguirem na elite como permitiram o início do milagre de 2015-16.
O começo de campanha nesta temporada já indicava uma surpresa. Foram 11 rodadas com o artilheiro Jamie Vardy marcando, algo inédito na história da Premier League. Duas partidas depois, a liderança era alcançada pela primeira vez.
O Leicester, aos poucos, era adotado por todos. O time até saiu da ponta, mas voltou a ela na 22ª rodada, quando já era muito maior o número de fãs, sendentos por uma história de contos de fadas, de superação e de raça, em tempos em que o futebol assume cada vez mais o papel de grande negócio. E voltou para não sair mais.
A história em vídeos
       
As camisas azuis foram esgotadas e encheram de orgulho uma cidade que nunca foi referência no futebol. Mais do que isso, despertaram a simpatia de pessoas que não eram ligadas à Premier League ou que não torcem para times na competição.
O Leicester mostrou que o futebol, mais do que dinheiro e glamour, é humano e envolve profundamente o sentimento de seus seguidores. O lado humano, por sinal, foi refletido por Claudio Ranieri. O mesmo homem que riu da possibilidade de título após a segunda rodada chorou ao ver que o impossível era quase iminente.
O choro, que foi um tanto contido, veio três partidas antes de o milagre se concretizar, na 33ª rodada contra o Sunderland. Hoje, Ranieri, que nunca havia vencido uma liga nacional em 30 anos de carreira, pode chorar à vontade.
A Inglaterra tem um novo campeão. O futebol tem um novo xodó.