segunda-feira, 14 de março de 2016

O clássico do fracasso

São Paulo e Palmeiras fazem o clássico da crise. A palavra mais gasta dofutebol nacional, neste caso, não se aplica  a são-paulinos e palmeirenses,mas à semana com três empates e duas derrotas dos cinco representantes dopaís na Libertadores.
 não  para dizer que esta foi a semana mais boliviana da história doBrasil, porque a Bolívia tem três representantes e o ranking sul-americanoainda oferece cinco vagas para o país cuja capital é Brasília.
Desde que a Libertadores passou a oferecer cinco vagas,   registro de umarodada completa numa mesma data sem vitória dos clubes daqui. Na noite de4 de abril de 2011, Grêmio, Internacional, Fluminense e Cruzeiro forameliminados com derrotas para Universidad Católica, Peñarol, Libertad e OnceCaldas. Na véspera, o Santos avançou com empate em 0 a 0 com o América doMéxico.
O remédio para a crise está na ponta da língua: demitir o técnico.
Minutos após a derrota do Palmeiras para o Nacional, o diretor-executivoAlexandre Mattos anunciou a saída de Marcelo Oliveira. A medida foi sucessode público e crítica, aplaudida na torcida e na imprensa.
É difícil mesmo defender a permanência de Marcelo Oliveira, com 18 derrotasem 53 partidas, sete delas dentro do Allianz Parque. Ao mesmo tempo, osaplausos à demissão revelam nossa contradição.
Falamos sobre a supervalorização de treinadores. Ganham muito, rendempouco... e quando o time perde, apontamos o dedo a quem? O técnico!
Oliveira saiu de modo consensual, porque é incrível a facilidade com quetodos nós, torcedores, jornalistas, dirigentes -até os treinadores! - temoscerteza do remédio. Demite-se o técnico como quem toma Novalgina paraabaixar a febre.
O Brasil exporta jogadores o ano todo, os elencos mudam a cada seis meses ea única opção para ter um time coeso é manter uma ideia. Argentinos,colombianos e uruguaios demitem, mas mantêm o jeito de jogar. Por isso seustimes são melhores do que os brasileiros, não por terem jogadores maistalentosos.
Aqui o novo técnico é um escudo. Precisa ser um nome imponente, que impacto e proteja a incompetência. Com o novo técnico, muda o estilo dejogo, o sistema de cobertura na defesa, a decisão de priorizar a transiçãorápida ou a posse de bola, o jeito de jogar...
Desde o tri brasileiro, o São Paulo teve dez treinadores. O Palmeiras está nadécima escolha também. O Atlético-MG teve nove, e o Grêmio, 11! OCorinthians é a exceção.
O problema não é nacionalidade. Fracassaram aqui Passarella, Jorge Fossatti,Gareca, Lotthar Matthäus, Miguel Angel Portugal, Juan Carlos Osorio pediudemissão cedo demais. Quinta, perguntava-se se Edgardo Bauza seriapressionado se perdesse para o River Plate.
É a nossa cultura, da arquibancada ao microfone. Todos pensamos namudança na terceira derrota, sem pensar em levar o trabalho até não alcançara meta mínima. No caso de Marcelo Oliveira, até a eliminação na fase degrupos da Libertadores, vexame pelo qual o Palmeiras não passa desde 1979 -o São Paulo desde 1987.
Os técnicos fracassam e vão fracassar sempre. Porque o fracasso de nãoentender o futebol coletivo de hoje é nosso.