domingo, 9 de agosto de 2015

Marin, Eurico, Teixeira e a velhice desperdiçada

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Marin (foto), Teixeira e Eurico: sinal vermelho
Marin (foto), Teixeira e Eurico: sinal vermelho
O Clarindo é um barqueiro que conheci já tem um tempo, num paraíso do sul da Bahia. "Sabe, doutor, já fiz muita bobagem na vida. Tô com 62 anos e quero paz. Chega de confusão. Levo turista, cuido dos netos, tomo umazinha de vez em quando e só. Devagar, vou acertando as contas com a vida", me dizia ao leme.
Nem perguntei em que bobagens e confusões o Clarindo havia se metido. Ficamos jogando conversa fora, eu admirando a sabedoria que o tempo, enfim, havia lhe dado. Hoje é um líder da comunidade local, símbolo da preservação de matas, rios e praias.
Ricardo Teixeira tem 68 anos. Eurico Miranda, 71. José Maria Marin, 83. Pense nesses caras, quanto poder já tiveram. Ocuparam posições relevantes no esporte, na política. Veja suas biografias. Estão sujas.
O primeiro se perpetuou no comando da CBF, mandando no futebol como se este lhe pertencesse - a ele e a sua família -, sem se importar que tinha em mãos um patrimônio cultural brasileiro e deveria a ele servir. Serviu-se do futebol como um glutão. Mas um dia Teixeira mostrou-se inteiro a uma repórter e, depois de "cagar montão", seu mundo foi privada abaixo. Refugiou-se na Flórida, mas de lá se mandou porque talvez seja melhor estar perto da Justiça do Rio de Janeiro. Isolou-se em sua fazenda no interior fluminense. Hoje, padece de sérios problemas de saúde, os rins lhe faltam. Reportagem da ESPN mostrou que anda solitário. Deve temer ser preso. Foi acusado pela justiça da Suíça de ter recebido propinas milionárias ao lado do ex-genro João Havelange. O FBI está em seu encalço.
Eurico também sofre com doença. Entre outras coisas, a bexiga não vai bem, contou uma reportagem do Uol. Mas mantém-se o mesmo de sempre no comando do Vasco, vociferando a baforadas de charuto contra seus "inimigos". Garante que o clube não será rebaixado, insinuando que o que acontece no campo importa menos que sua capacidade de virar a mesa. Torcedores do clube queimaram um boneco representando Eurico em frente a São Januário. Será que ele dorme em paz?
E Marin? Cana. Xadrez. Xilindró. Preso na Suíça por fraude, lavagem de dinheiro e recebimento de propina. Ele que teve seu primeiro neto tem uns três anos... Imagine o garoto perguntando: "Cadê o vovô, papai?" A família pode enrolar, mas o mundo um dia lhe contará a verdade. Marin herdou de Paulo Maluf o cargo de governador de São Paulo em 1982. Trinta anos depois, ressurgiu das cinzas ao também herdar o trono da CBF de Ricardo Teixeira. Seu mérito para tanto foi ser o vice-presidente mais velho da entidade. Agora, gasta os tubos com advogados no Brasil e no exterior para tentar passar o resto dos seus dias em uma prisão domiciliar.
A finitude humana é inexorável se você não é o Keith Richards. Vivemos 70, 80, 90 anos, com sorte um pouco mais. Ninguém escapa da Dona Foice. Será que, a essa altura, esses caras se arrependem da vida que construíram? Não precisamos de uma pesquisa de opinião pública para saber que o mundo não os tem em alta conta. A noção de que vivem a reta final da existência não lhes traz nenhuma sabedoria?
Eu lhes desejo saúde. Para que possam fazer como o Clarindo. Ainda é tempo de ajustar as contas pendentes. Devoluções, confissões, delações. De que valem os Porsches, os iates, os Romanée na adega, se o mundo, ao pronunciar seus nomes, cospe de lado?