terça-feira, 29 de julho de 2014

Para onde vai o glorioso Botafogo?

De vez em quando, vale a pena chover no molhado. Por exemplo, repetir que o maior problema do futebol brasileiro é mesmo a forma como ele é dirigido, ou administrado, ou cuidado, ou, para usar termo menos antigo que o problema, gerido. Todos os outros - a má qualidade dos times, o descuido com as divisões de base, a ida de nossos craques para o exterior, os estádios vazios, a dívida dos clubes e até o despreparo dos treinadores - decorrem do que faz, ou deixa de fazer, a cartolagem brasileira. Qualifico como "brasileira" mesmo reconhecendo que, como sempre, outros países devem ter cartolas tão ruins quanto os nossos. Mas é da nossa que quero falar, ainda que para chover no molhado.
Poderia estender a chuva a todos os clubes do país, mas me limito aos cartolas dos quatro grandes clubes do Rio por ser esta a minha praia. Para começar, todos eles devem o que não podem pagar. É a primeira e mais irrefutável prova de que, ao longo dos anos, diretoria após diretoria, nenhum dos gestores desses clubes cuidou deles como cuidariam de suas empresas. Paga-se caro por administrar-se mal uma empresa, mas nada acontece a quem dirige incompetente ou levianamente um clube. A responsabilidade de um empresário em seus negócios é uma, e a de um cartola à frente do seu clube, nenhuma. Que exploda o avião, diz quem não é o aviador. Tudo mais vem desse falso "nada a ver" com que presidentes e diretores de clubes se protegem.
Deixando de lado a dependência do Fluminense ao seu patrocinador, a indigência a que o Flamengo está entregue após os erros de sucessivas administrações e o apequenamento do Vasco na última década (agravado agora por uma absurda briga interna), concentro-me no Botafogo, o glorioso Botafogo, triste centro das atenções nos últimos dias em que seu presidente ameaça jogar a toalha e seus jogadores tornam pública a humilhante situação profissional em que foram atirados por uma má gestão.
O que se passa com o Botafogo, hoje, é inadmissível num futebol que ainda se orgulha de seus cinco títulos mundiais. É assunto tão sério que já chegou à Presidência da República, passando primeiro pelo sempre imóvel Ministério dos Esportes. Como se uma e o outro pudessem resolver o problema que cartolas despreparados criaram ou simplesmente ampliaram. O Botafogo, a torcida do Botafogo, a história do Botafogo, não merecem viver esse terrível capítulo escrito por sua cartolagem.


Mudando de assunto, sem mudar de assunto, é preciso reconhecer que o problema não se limita aos clubes. As entidades a que estão filiados - as estaduais e a nacional - também não têm interesse em mudar. Levam sobre os clubes uma única vantagem: sabem ganhar dinheiro, têm os cofres cheios, não precisam de inteligências administrativas para viver. Daí os marins, os del neros, os gilmares, os dungas. Mas essa é outra história. Ou são outras chuvas.