quinta-feira, 3 de julho de 2014

Experiência européia diferencia Colômbia de 2014 da de Rincón e Valderrama, diz Maturana

Faltavam dez dias para o início da Copa do Mundo de 1994 começar quando entrevistei Francisco Maturana pela primeira vez. Enquanto se falava sobre a chance de título, o técnico daquela seleção colombiana considerada favorita por Pelé me deu o título da entrevista: "Não estamos prontos!" A publicação da entrevista foi adiada pelos editores da revista Placar e quando se pensava em levá-la às bancas os colombianos já haviam perdido duas partidas. Estava eliminada.
Contei essa história a Maturana ao telefone na noite desta quarta-feira. Ele respondeu com alegria à lembrança. Pediu desculpas por estar ao telefone e disse que estava disposto a conversar mais um pouco: "A ligação pode não ficar muito boa, mas podemos falar", disse ele, que assistirá às quartas-de-final em solo colombiano. Abaixo, a íntegra da conversa:
PVC - Há vinte anos, o senhor me disse que a Colômbia não estava pronta para ser campeã. E hoje?
MATURANA - Aquela era uma equipe que vinha evoluindo por seus resultados no continente, nas eliminatórias e nas Copas Américas. A diferença desta é ter uma série de vinte ou vinte e um jogadores que atuam na Europa. Lá, eles jogam entre os melhores do mundo e aprendem a tentar ganhar tudo. Isso deu a eles uma maturidade  que pode ajudar muito na caminhada.
PVC - Ajuda a pensar no título mundial?
MATURANA - Isso tem de se pensar passo a passo. Jogar um jogo depois do outro, sem medo de perder, sempre tentando ganhar o próximo.
PVC - Esta seleção conseguiu o melhor resultado da história. Ela é melhor do que aquela equipe de 1994?
MATURANA - É muito difícil comparar equipes distantes por vinte anos. O futebol mudou muito. Hoje se disputa um futebol mais físico, mais intenso, com mais velocidade. Mas o que se pode dizer mesmo é que esta equipe tem experiência européia e que isso faz muita diferença a favor da seleção atual. Isto é indiscutível.
PVC - Em 1994, chegamos aos Estados Unidos falando da Colômbia e saímos falando do Brasil. Hoje, chegamos falando do Brasil e estamos falando da Colômbia. O que acha do time atual do Brasil? Pode crescer?
MATURANA - Em 2002, quando chegamos à Ásia semanas antes da Copa do Mundo, todos tinham na Argentina a equipe favorita para vencer o Mundial. Mas isso tem de ser administrado o tempo todo. Quando terminou a primeira fase daquela Copa do Mundo, os argentinos estavam eliminados. Para manter o rótulo de favorito, é preciso trabalhar muito e evitar que os adversários entendam como você está jogando. É possível o Brasil crescer, mas está claro que teá de jogar melhor do que tem jogado.
PVC - Hoje, como o senhor enxerga o confronto Brasil x Colômbia?
MATURANA - Acho um confronto equilibrado, mas está claro que se o Brasil tiver uma atuação igual à que teve contra o Chile, nesse caso não vai vencer a Colômbia. O Brasil tem excelente figuras, É um pouco como a Argentina, que pode ganhar jogos numa ação individual de Messi. O Brasil também pode contar com uma ação individual, por exemplo de Neymar.
PVC - Mas deve no aspecto coletivo?
MATURANA - Sim. A Argentina também. São ótimos jogadores, mas que quando se agrupam não são excelentes como equipes. Não neste momento da competição.
PVC - De qual equipe o senhor mais gosta nesta Copa do Mundo? Holanda, Colômbia, Costa Rica?
MATURANA - Sinceramente, a equipe da qual estou hoje enamorado é a Colômbia. Mas há outras equipes muito importantes. A Alemanha fez três excelentes partidas. A Costa Rica fez dois jogos muito bons, contra dois campeões do mundo e se classificou. A França também realizou duas partidas excelentes. Mas a equipe de que mais gosto neste momento da Copa do Mundo é a da Colômbia. O técnico conseguiu aproveitar a experiência européia que citei e contar com jogadores num momento especial.
PVC - O senhor virá a Fortaleza para assistir ao jogo?


MATURANA - Não. Estou na Colômbia e vou assistir à partida na sexta-feira aqui, vendo a reação do país.