quarta-feira, 11 de junho de 2014

Crônicas de Sarriá - A dor não tem distância, Fernandão

DIVULGAÇÃO/GOIÁS EC
Fernandão, na volta ao Goiás, em 2009
Fernandão, na volta ao Goiás, em 2009
Algum amigo disse, não me lembro quem: "Goiânia é a maior cidade pequena do mundo". A definição poderia ser mais uma frase de efeito - gosto de frases de efeito - mas faz seus efeitos, de verdade, em quem está mais longe.
Longe como estou agora. Como estava, também, na manhã de sábado. Acordei, abri a caixa de e-mail, e os olhos abriram-se mais rápido que deveriam. Fernandão morreu.
Cara, que Fernandão? Algum funcionário da firma, o Fernandão do vôlei, qualquer Fernandão que seja, mas, calma, não pode ser O Fernandão. Só que era.
Por uma dessas coisas da vida, pelo fuso horário cinco horas à frente, coube a mim a tarefa de cassar minha própria folga para, ainda na madrugada do Brasil, escrever a notícia. Ser o porta-voz da desgraça, da morte prematura de um conterrâneo.
Mas Goiânia é a maior cidade pequena do mundo, e um conterrâneo nunca é apenas um conterrâneo - é, mais do que isso, um amigo. Ainda que, neste caso, seja um amigo que eu ainda não conhecia.
Com o passar das horas, a notícia se alastrava pelas redes sociais, e Fernandão ia ficando mais próximo. Foi colega de escola de uma amiga; era vizinho de fazenda de um tio, amigo do primo daquele outro amigo. Companheiro de trabalho de grandes parceiros.
Era amigo de alguém, primo de outro, uma figuraça, isso, aquilo outro, a família dele morava na mesma cidade da família da minha mãe...
Nessas horas, estar longe ou perto não faz tanta diferença.
Sentado diante do computador, a um oceano de distância, na cidade em que escolhi viver, senti-me diante do gramado verde-esmeralda do estádio do time pelo qual escolhi sofrer, gritando em um dia qualquer de 1999 por aquele gol de bicicleta que nem foi fora da área, mas que para mim foi da meia-lua, do meio-campo, de meio-mundo de tão longe.
Foi ali, naquele gramado verde-esmeralda, verde-esperança, que Fernandão transformou uma geração de gente. Anos depois, em outros gramados, outras cores, com outros gritos, transformaria mais gente ainda, seria campeão de tudo, dono do mundo.
Mas é o mundo pequeno de Goiânia que faz a perda doer mais. Como escreveu um amigo, era comum ouvir "Ah, você é jornalista? De Goiânia? Pô, manda um abraço pro Fernandão!"


A menor cidade grande do mundo perdeu o de seus gigantes. O futebol brasileiro, também.