segunda-feira, 19 de maio de 2014

Palmeiras vende "naming rights". Corinthians não consegue e acusa imprensa porque povo consagra "Itaquerão"

A Ombudsman da Folha de S. Paulo, Vera Guimarães Martins, abordou em sua coluna dominical — clique aqui para ler — no jornal paulista o nome do novo local onde passam a ser disputados os jogos de futebol do Corinthians. Afinal, como devemos chamar? Arena Corinthians, Arena de Itaquera, Estádio de Itaquera, Estádio do Corinthians, Itaquera, Itaquerão... São várias as formas pelas quais as pessoas se referem à nova cancha.

A equipe da Ombudsman ouviu alguns jornalistas a respeito. Paulo Vinicius Coelho, do próprio jornal e da ESPN; Naief Haddad, editor de Esporte da Folha; Luiz Fernando Gomes, diretor de redação do diário Lance!; Juca Kfouri, do jornal, do UOL e da ESPN; Luiz Antônio Prósperi, Editor de Esportes de O Estado de S. Paulo; Rodrigo Flores, diretor de conteúdo do portal UOL; Renato Ribeiro, diretor de esportes da TV Globo, e este blogueiro.

O tema tem gerado queixas, especialmente de Andres Sanchez, ex-presidente do clube e que está à frente dos negócios que envolvem a polêmica praça esportiva. Até hoje ele não conseguiu vender o patrocínio, segue parado o chamado  "naming rights". Detalhe: há mais de dois anos e três meses Sanchez prometeu o negócio fechado "em no máximo 30 ou 40 dias", como este blog destacou em março, — clique aqui e leia.
Reprodução
A coluna da Ombudsman da Folha de S.Paulo, em destaque a opinião deste blogueiro sobre o tema
A coluna da Ombudsman da Folha de S.Paulo, em destaque a opinião deste blogueiro sobre o tema 

A promessa, por sinal, foi feita em sabatina da própria Folha de S. Paulo. Mas o ex-dirigente acha que ao chamar de "Itaquerão" o novo estádio, a imprensa atrapalha o possível negócio com empresas que em tese estariam dispostas a batizar o estádio, pagando para associar seu nome ao palco da abertura da Copa do Mundo deste ano. Como se isso dependendesse só da mídia.

Desde os tempos do "Brasil grande" nosso povo eleva ao aumentativo os nomes dos estádios de futebol, quase sempre maiores do que a necessidade das regiões onde foram erguidos. Mineirão, Machadão, Castelão, Morenão, Mangueirão, Baenão... Itaquerão. Vem naturalmente. Não é a mídia apenas a popularizar o nome do bairro "elevado a ão''. É a voz do povo.
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Detalhe da coluna publicada neste domingo pela Folha de S. Paulo
A opinião do blog na coluna

Todos esses estádios enormes e muitas vezes terminados em "ão" vêm dos tempos da Ponte Rio-Niterói, Transamazônica, usinas hidrelétricas e nucleares, polos petroquímicos, Pró-Álcool, Ferrovia do Aço, Embratel. E não foi a imprensa quem determinou que assim seria. Veio de cima e foi popularizado pelas pessoas comuns que no dia-a-dia ficavam orgulhosas com tais obras.

Naqueles tempos não existia a idéia dos "naming rights", ou seja, trata-se de algo sem tradição no Brasil, que por outro lado tem o hábito de apelidar os estádios de futebol e levá-los ao aumentativo. Assim, nada mais natural do que a reunião espontânea feita pelas pessoas, unindo o nome do bairro no qual está a nova cancha alvinegra ao sufixo "ão". Nascia o I-ta-que-rão!

Não me incomoda a idéia de chamar o estádio de "Armazén do Alberto Arena" ou "Arena Renovadora S/A". Seja lá quela for a empresa que venha patrocinar o estádio, associar o nome da companhia ao campo corintiano, pelo menos para mim, não é algo absurdo, inaceitável, impossível. Como existem a Allianz Arena em Munique e o Emirates Stadium, em Londres.
Gazeta Press
Em dia que era para ser de festa, torcedores lamentam derrota na estreia do Corinthians na Arena
Em dia que era para ser de festa, torcedores lamentam derrota na estreia do Corinthians na Arena: Figueirense 1 a 0

A diferença é que esses estádios europeus nasceram com tais nomes. Nem deu tempo de alguém batizar a casa do Bayern como "Grand Munich" ou a cancha do time inglês como "Big Arsenal". Desde o início ambos tinham os nomes das companhias que resolveram patrociná-los "tatuados" em suas fachadas. Isso somado à cultura local, habituada a tal estratégia, resulta em êxito.

Sim, é possível que no futuro o novo estádio do Palmeiras seja chamado de Allianz Parque, como espera o patrocinador, o clube e a construtora que comanda o negócio. Primeiro porque bem antes da conclusão desta obra o nome do parceiro já era conhecido. Depois porque ali há existia um estádio que carregava a palavra "parque" há décadas. E eles a mantiveram!

"Parque Antártica". Ainda se lê a velha denominação do nome da casa palmeirense nas placas de orientação do trânsito instaladas nas imediações do clube alviverde. Como o nome do bairro de Itaquera está lá estampado nas que cercam a nova casa do rival Corinthians. Tudo agora vai depender da boa vontade popular ao se referir às novas "arenas".

A queixa de Andres Sanchez seria até pertinente se o Corinthians, a exemplo do Palmeiras, tivesse vendido o "naming rights" bem antes de abrir o novo estádio. Aí teria certa lógica protestar contra quem insistisse em chamar o local pelo apelido quando ele já teria um nome oficial devidamente acertado e remunerado. Algo que ajudaria a viabilizar sua própria existência.
Gazeta Press
Andrés Sanchez caminha com Xuxa na Arena Corinthians antes do jogo
Andrés Sanchez caminha com Xuxa na Arena Corinthians antes do jogo de inauguração: cadê o naming rights?

Mas como o estádio não tem esse parceiro disposto a exibir o logo na sua fachada, a queixa se mostra infantil. Tola. Mera transferência de responsabilidade. Que só vai colar se você quiser, meu caro. Quem se propôs a conseguir esse patrocínio e não o apresentou até hoje acabou por abrir a brechar para a popularização do apelido "Itaquerão".

A confusão está nas ruas. Placas apontam para "Arena de São Paulo", "Estádio de Itaquera" e "Arena Corinthians" nas imediações —  clique aqui e confira. E convenhamos, independentemente do nome que a prefeitura, a companhia de tráfego, a imprensa e o torcedor venham a adotar, o obstáculo será o mesmo. Quando finalmente venderem o   "naming rights" e pedirem que chamem o local pela marca do patrocinador, outro(s) nome(s) poderá(ão) ter se consagrado.

É como esperar que após algum tempo quem ficou conhecido por um nome seja chamado por outro. Isso envolve tempo e muitas vezes milionárias campanhas publicitárias. Muhammad Ali-Haj era conhecido como Cassius Marcellus Clay Júnior até que se converteu ao Islamismo. Demorou para que o mundo o chamasse de "Ali". E ainda assim ainda há quem se lembre dele como "Clay".

Essa briga é longa. E o "adversário" do Corinthians não é a imprensa, mas sim sua própria incapacidade demonstrada ao tentar vender o "naming rights" e fracassar por anos. Quem prometeu fechar esse negócio e ainda não conseguiu isso é que deveria ser cobrado.