Basta conversar com qualquer torcedor do São Paulo para entender o que significa a volta de Muricy Ramalho ao clube. Ele adora o treinador e ficou extremamente satisfeito com a recontratação.
"Aqui é trabalho, meu filho!" - o torcedor bate a mão no antebraço para simbolizar a volta do ídolo. Não à toa, o marketing do clube aproveitou a situação e lançou uma camiseta com a frase e a imagem do técnico.

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aqui é trabalho


Quem viu o comportamento da galera antes do jogo com a Ponte entendeu o tamanho da injeção de ânimo que o retorno de Muricy Ramalho trouxe às arquibancadas e ao time.
O próprio técnico admitiu, na coletiva depois da vitória, que o ambiente favorável e eufórico estimulou ainda mais os jogadores.
Em campo, ficou nítido o algo mais de alguns atletas pelo time. Um bom exemplo: a dedicação de Luis Fabiano. Nos últimos jogos, ele pouco apareceu; contra a Ponte, perdeu chances e fez o gol da vitória.
Não tenho dúvidas de que o São Paulo escapará do rebaixamento. Será sofrido, mas vai dar. No dia da apresentação e depois do jogo com a Ponte, Muricy Ramalho disse que iria acabar com o excesso de reuniões e conversas para tentar melhorar o desempenho dos atletas que andam em baixa.
O negócio é trabalhar e ganhar jogos, sem muita conversinha. Pela filosofia do treinador, não é concebível um atleta entrar em campo com falta de vontade, precisando de um incentivo a mais.
Não é possível um cara que ganha muito bem para jogar bola, com uma baita estrutura de trabalho, não ter vontade de exercer o melhor. Sempre. Concordo.
Muricy Ramalho à parte, quero dizer que a demissão de Paulo Autuori me deixou triste. O cordial e competente técnico não teve o respeito que merecia. Pegou o clube numa draga, um time em frangalhos e recheado de problemas internos.
Paulo Autuori foi acertando ponto a ponto, com muito papo, um trabalho psicológico. Nunca desrespeitou ninguém em público, mesmo quando foi atingido por um diretor que disse que, se Ney Franco tivesse continuado, o São Paulo não estaria numa péssima situação.
Melhorou a equipe em alguns jogos, deu uma nova cara ao sistema defensivo, mas teve azar em várias. Alguns resultados contrários não deveriam ser colocados na conta do treinador, como a derrota para a Lusa na volta da excursão.
Ou o empate contra o Flamengo, quando Jadson perdeu um pênalti no final do jogo. Ou a derrota para o Criciúma em casa, quando Rogério Ceni desperdiçou o terceiro pênalti seguido.
O Tricolor poderia ter feito quatro pontos a mais, o que teria deixado a equipe na 12ª posição, no mínimo.
Isso tudo sem contar a lambança - para não dizer outra coisa - do que foi feito com alguns times que tinham jogos atrasados. O São Paulo jogou quatro partidas em oito dias: Rio, Recife, São Paulo e Curitiba.
Não dá para recuperar atleta, não dá para esperar nada, além do esforço sobrenatural de quem está em campo.
Conversando com o Juan Pablo Sorín (ex-lateral da seleção argentina, ídolo no Cruzeiro e hoje companheiro de ESPN), ele me disse que numa semana como a que o São Paulo passou, os jogadores provavelmente chegaram ao jogo de quinta, contra o Criciúma, destroçados.
Para piorar, ainda tinha o lado psicológico da obrigatoriedade de vencer num Morumbi cheio. O time não podia decepcionar a torcida.
Depois de uma maratona, e uma derrota normal para o Coritiba de Alex, Paulo Autuori foi demitido na segunda-feira. Teve tempo apenas de recolher os pertences no CT da Barra Funda - lugar onde morou no pouco tempo que dirigiu o São Paulo, dois meses para ser mais exato.
Na mesma segunda, à noite, ninguém mais falava de Paulo Autuori. Foi eliminado do São Paulo.
Um dos poucos que foi ao CT despedir-se do treinador, Rogério Ceni foi muito bem quando, na saída de campo, contra a Ponte, declarou:
"Paulo Autuori e Muricy Ramalho não são caras para ficar dois meses no São Paulo. Eles construíram uma historia aqui dentro. Um colocou mais uma estrela no peito do clube. E o outro foi o único tricampeão brasileiro consecutivo. Eles devem durar mais tempo, são caras especiais."
"O Telê morreu. E nós matamos o Paulo em dois meses. Dos grandes campeões nas últimas décadas, sobrou ele (Muricy). Se não cuidarmos dele, quem vai ser o próximo? Vai ter de começar do zero. São pessoas dedicadas e que escreveram o nome na história do clube. Uma pena ele ter saído, e ainda bem que existia o Muricy no mercado. Mas acho que eles devem ser cuidados com carinho, porque são os dois últimos grandes vencedores do São Paulo ."
O São Paulo desrespeitou Paulo Autuori que, com certeza, saiu decepcionado. Pode ser até que, quando o treinador voltou para o Tricolor, achou que viria para um lugar e descobriu que havia entrado em outro totalmente diferente da época de conquistas, em 2005.
Tomara que Muricy Ramalho também não tenha a mesma decepção.