Se você foi ao cinema na sessão das 16 horas e ao voltar para casa se deparou com o placar da peleja em Brasília, Brasil 3 x 0 Japão, pode imaginar que foi uma exibição de gala. Não foi. O time cebeefiano está muito distante disso. E pode ser que fique mais competitivo, até deverá ficar com o passar do tempo e dos treinos. Mas com o comando de Luiz Felipe Scolari, segue marcado pelo velho pragmatismo e repertório pobre, previsível, óbvio.
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Neymar ouve instruções de Felipão ao lado do japonês Kagawa: craque do Brasil ficou mais pela esquerda
O Brasil teve 59% de posse de bola, 63% na primeira etapa. E o que fez com tamanho tempo com a pelota nos pés? Trocou passes entre os homens de defesa e o primeiro volante, Luiz Gustavo. Não havia quem coordenasse a saída de bola com qualidade para fazê-la chegar bem aos homens de frente. E contra seleções mais poderosas, que marquem melhor, não será tão simples chegar ao gol diante de tamanha limitação para fazer as jogadas nascerem.
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Neymar jogou mais pelo lado esquerdo, embora Felipão o escala pela faixa central: vocação natural
Assim, quando o Japão voltou para marcar atrás foram várias trocas de passes estéreis no campo de defesa verde-e-amarelo. A ponto de Daniel Alves (89) e Thiago Silva (74) terem sido, longe, os que mais tocaram na bola, seguidos por Luiz Gustavo (56), David Luiz (54) e Marcelo (53). Paulinho (46 passes) se posicionava muito à frente, na segunda metade da cancha, e não dava opção para os defensores e ao volante do Bayern Munique.
Com isso a saída de bola era fraca, presumível, resultando em esticadas longas após toques laterais, a maioria nos pés adversários. Ou seja, bolas rifadas, especialmente com Thiago Silva. O zagueiro do PSG fez sete dos 42 lançamentos (60% errados) do time brasileiro, seis deles antes do intervalo, quando os asiáticos marcavam minimamente, mesmo que em seu próprio campo.
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Paulinho apareceu tanto no ataque quando lá atrás e pouco ajudou na saída de bola: não basta aparecer na área
Depois que Paulinho ampliou, em falha da Kawashima, no começo da segunda parte, os nipônicos afrouxaram ainda bastante o jogo. E foram cansando... Aí ficou mais fácil sair jogando. Os japoneses não marcaram forte nem com um técnico italiano (Alberto Zaccheroni). Foram 17 desarmes certos contra 31 do Brasil, mesmo ficando quase dois terços do tempo sem a bola. O time de Felipão também foi mais faltoso, 16 a 14.
Oscar até que teve a bola (48 passes) e fez seis dos 21 cruzamentos brasileiros, mas apenas um certo. E deu uma assistência para Jô, é claro. Fred também deu ótimo passe para gol, o de Neymar, ajeitando a bola erguida por Marcelo. Ainda chutou com perigo para defesa de Kawashima em sua única finalização certa. Mas tocou apenas 11 vezes na bola. O camisa 9 precisa participar mais. Não importa se ele pode ser decisivo, pois adversários superiores virão e em jogos mais duros e, se não se mexer, ela talvez nem chegue.
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Fred participou pouco do jogo e raramente caiu pelos lados: rara movimentação do centroavante brasileiro
Há uma diferença entre o que um time é na teoria e mostra na prática. Com 14 dos 23 convocados jogando em times internacionais e apenas nove na J-League, o Japão se apresenta, hoje, como uma seleção mais respeitável do que no passado. Isso é evidente. Mas no gramado do "Elefante Branco" de Brasília foi uma equipe frágil demais. Em parte devido à desgastante viagem até lá.
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Hulk atuou mais pelo lado direito e foi bem acionado: uma boa presença ofensiva do questionado jogador do Zenit
O Brasil pragmático de Luiz Felipe Scolari é isso e provavelmente sempre será. Um time sem criatividade, dependente de cruzamentos, de bolas longas, pouco trabalhadas, e do talento individual. Eventualmente também de uma defesa sólida, que não foi testada diante dos nipônicos. Trocar passes, envolver o adversário, alternar marcação à frente com mais recuada para contra-atacar... Ver isso tudo junto é improvável.
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Oscar foi quem se movimentou mais pelos dois lados e na faixa central do gramado: mal nos cruzamentos
O placar do jogo estimula a muitos ignorar a fragilidade do adversário, que pode, é evidente, jogar mais em outras oportunidades, talvez nessa Copa das Confederações mesmo. Sim, estamos analisando neste post o Japão deste sábado. E foi frágil demais. O time brasileiro tem treinado muito com o novo-velho técnico, mas não está melhor hoje do que nos últimos jogos sob a batuta de Mano Menezes. Como há 242 dias, quando fez 4 a 0... no Japão.