sábado, 15 de junho de 2013

De olhos bem fechados

Os olhos de Neymar brilham um pouco mais do que de costume. É porque estão mais arregalados. Ele argumenta não se importar com o jejum de nove partidas sem marcar, não precisar de maturidade para jogar e necessitar de um time mais entrosado para que seu jogo apareça.
Seus diagnósticos estão corretos. Mas seus olhos estão arregalados.
Na quinta-feira, Neymar passou ao meu lado, enquanto caminhava os 200 metros que separam seu quarto da tenda armada para as entrevistas coletivas. Estava com Carlos Alberto Parreira, o zagueiro Réver e o assessor de imprensa Rodrigo Paiva. Transpirava tranquilidade.
Os olhos transmitiram um pouco mais de ansiedade quando se sentou em frente ao batalhão de jornalistas.
Só um personagem da seleção rivaliza com Neymar em notoriedade. Só Felipão. Nem Oscar nem Fred nem Júlio César e Thiago Silva motivam tantas perguntas, microfones e blocos de anotações.
Ninguém tem seu nome tão gritado pelos torcedores, nenhum outro foi aplaudido e vaiado por razões técnicas --Oscar recebeu apupos na Arena do Grêmio por sua ligação com o Inter.
Com Neymar, só há duas hipóteses: ser herói ou vilão. Não deveria ser assim, mas é.
Hoje, os 70 mil torcedores presentes ao Mané Garrincha querem ver Neymar. Melhor para um craque de 21 anos seria se o público quisesse assistir à seleção. Só à seleção.
Mas muitos querem ver só Neymar. Com 20 gols, é artilheiro da seleção somando todos os jogos depois da Copa da África do Sul. Não é verdade que joga mal de amarelo.
Ele só não é LeBron James. Antes do quarto jogo das finais da NBA, LeBron culpou a si mesmo pelo massacre sofrido por Miami contra San Antonio. "Eles esperam que eu faça a diferença e eu não fiz", disse. Lebron, 28, ganhou a primeira taça na NBA aos 27. Neymar tem 21.
Suas últimas atuações, comuns, vão se tornar um episódio esquecido de sua carreira. Basta exercer seu segundo dom, citado na entrevista de quinta: paciência.
Vai tirar a montanha de compromissos da cabeça, concentrar-se nos treinos, curar o resto de dor que, jura, não incomoda mais seu joelho: "Mas nenhum jogador atua 100%", ele também diz.
Quer dizer, há uma réstia de dor. Quando passar, Neymar será o cara que mostrou ser nos últimos quatro anos.
Hoje, ele tem 21 anos e é o ponto de referência da seleção. Natural ter os olhos mais arregalados que de costume. Só há um remédio para tudo isso: respirar. De preferência, de olhos bem fechados.