terça-feira, 23 de abril de 2013

VÍDEO: Felipão se agarra ao passado para justificar o futuro. Xavi e Schweinsteiger jogariam com ele?


Luiz Felipe Scolari deu entrevista ao jornal Folha de S. Paulo e voltou a dizer que acha Cristiano Ronaldo melhor do que Messi. Não foi exatamente uma novidade. O treinador já havia manifestado sua preferência pelo atacante que comandou quanto diriga a seleção de Portugal em outras ocasiões, como no vídeo abaixo, em entrevista à televisão portuguesa.



Mas uma frase dele se destaca: "Essa história de volante goleador é muito bonita para a imprensa. É bonito, só não é bonito para o técnico e o time. Quando tu tens laterais como os nossos, Daniel Alves e Marcelo, tem que ter proteção". Como se fosse impossível para um ser humano jogar futebol com eficiência no passe, na criação, e também no desarme, na destruição das jogadas adversárias.

Scolari é três anos mais jovem do que o técnico do Bayern, Jupp Heynckes, que deixará o cargo ao final da temporada. Horas depois de o jornal chegar às bancas brasileiras, aqui em Munique o comandante do time alemão respondia, em entrevista coletiva na véspera do duelo com o Barcelona, sobre as mudanças no futebol desde seu título europeu, em 1998, com o Real Madrid.

Para o alemão, o futebol mudou muito e muda sempre. Cada vez mais é um jogo coletivo no qual os espaços ficam menores e é mais difícil decidir apenas com o talento. É evidente que Heynckes tem plena consciência de que as estratégias, os métodos que o fizeram campeão europeu com o time merengue há 15 anos não serviriam para, por exemplo, deter o Barcelona nesta semifinal de 2013.

Scolari, por sua vez, recorre ao passado para justificar o que fará no futuro: "A seleção ganhou em 1994 e quem eram os volantes? Mauro Silva e Dunga. 2002? Gilberto Silva e Kleberson. Essa história de volante goleador é muito bonita para a imprensa." Diz isso como se fosse impossível para um ser humano jogar futebol tirando a bola dos pés adversários e criando boas jogadas, dando bons passes.

Para Mauro Cezar, Felipão é obsoleto: 'Técnico busca no passado argumentos para explicar o presente'

E as competições que o Brasil perdeu mesmo com típicos "volantões"? Qual a razão para ele sequer buscar ao menos dois brasileiros capazes de marcar e criar? O técnico cebeefiano foi além: "Quando tu tens laterais como os nossos, Daniel Alves e Marcelo, tem que ter proteção". Ora, laterais como os que ele cita não podem marcar? Eles não fazem isso em seus times? Fazem. Tanto que Daniel é o mais faltoso jogador do Barça na atual Liga dos Campeões. 

Os conceitos "Scolarianos" fazem brotar mais perguntas. Afinal, esses ofensivos laterais são obrigatoriamentre mais importantes num time do que meio-campistas que marquem e saibam sair com a bola? Xavi perderia espaço no Barcelona dentro de tal conceito? E Schweinsteiger seria barrado no Bayern? Quais as chances do espanhol e do alemão em 2014 se fossem brasileiros?

Tudo isso repercutiu no dia em que Alex Ferguson, sete anos mais velho que Felipão, chegou ao seu décimo-terceiro título inglês com o Manchester United. O clube, que tinha sete antes do escocês, agora acumula 20 taças de campeão nacional. No jogo do título, 3 a 0 sobre o Aston Villa com Rooney (atacante de origem) no meio-campo fazendo lançamentos de 50 metros. E o experiente (39 anos), leve e hábil Ryan Giggs mais uma vez como volante.

Scolari tem a missão de levar o Brasil ao título em 2014. E tentará fazer isso defendendo velhas ideias. Não por acaso, perguntado pelo PVC sobre o que incorporou do futebol europeu ao atual trabalho na seleção, respondeu: "Os trabalhos em campo reduzido, com marcação por pressão. Eu já fazia, mas lá se faz mais, com mais intensidade, por mais tempo". Só? Conclusão: quase nada.

Claro que com a tradição da camisa amarela, jogando em casa, com o mínimo de organização, pode até dar certo. É futebol e o anfitriação da próxima Copa não é a Coréia, tampouco a África do Sul. Mas será bem difícil. Ainda mais quando um time é arquitetado em pouco tempo e com sua estrutura calçada em conceitos que parecem ter sido encontrados num brechó. E você, acha que Scolari faria diferença no banco de reservas de um dos semifinalistas da Liga dos Campeões?

PS: mais sobre o tema você pode ler no blog "Olho Tático", de André Rocha, clicando aqui