segunda-feira, 22 de abril de 2013

Felipão por Felipão


A declaração mais simbólica da entrevista de Felipão ao repórter Martín Fernandez é sobre seus cabeças-de-área. "Volante goleador só é bonito para vocês da imprensa."
A frase contém a dualidade que caracteriza a escolha do treinador para comandar o Brasil na Copa de 2014. Está na contramão do que se prega no futebol atual e, ao mesmo tempo, evidencia que o sucesso não subiu à cabeça do mais vitorioso técnico brasileiro depois de Zagallo e Telê.
Meu primeiro encontro com Felipão aconteceu no vestiário do estádio Olímpico, na véspera da final da Copa do Brasil de 1995.
Na semifinal, seu Grêmio havia eliminado o Flamengo de Vanderlei Luxemburgo e no dia seguinte perderia para o Corinthians, treinado por Eduardo Amorim e com Marcelinho Carioca.
Luxemburgo era o mais badalado, com o discurso avesso a tudo o que pensava --e pensa-- Felipão. "Volante não pode jogar com a bunda no chão", pregava Vanderlei.
Já naquele tempo, Luxemburgo era moderno e Felipão "anacrônico". Hoje, Luxemburgo está fora de moda, e Felipão tenta seu segundo título mundial --só o italiano Vittorio Pozzo conseguiu.
Há muitos jeitos de vencer. O que Felipão escolheu é ser fiel ao que aprendeu nos campos do interior gaúcho, com seus mestres Sérgio Moacir e Carlos Froner. Até hoje, ele é a mesma pessoa daquela tarde no estádio Olímpico, em 1995. Isso não significa desprezar o conhecimento de Arsene Wenger e Fabio Capello, com quem diz conversar sempre que quer. Nem deixar de ver o que de mais moderno se passa no planeta.
Na tarde desta terça-feira, ele estará em frente à televisão assistindo a Bayern x Barcelona. No dia seguinte, verá Borussia Dortmund x Real Madrid. Como já afirmou que o jogo do Barça é chato, é provável que prefira o estilo mais vertical da partida de quarta-feira.
As correções de estilo da seleção também vão em direção ao seu pensamento de sempre. "Meus zagueiros não dão um chutão...!", reclamou, após empate com a Rússia.
Bico pro mato que o jogo é de campeonato também é futebol brasileiro. Aprende-se na rua, na várzea e nos campos profissionais.
O Brasil já ganhou Copas chutando para longe --Bellini e Brito sabem bem disso.
É preciso atualizar o futebol brasileiro quanto ao que se faz na Europa, voltar a preservar a bola e jogar nos espaços cada vez mais curtos. É urgente, mas não antes da Copa de 2014. A entrevista de Felipão mostra isso também.
Se há muitos jeitos de vencer, só existe um jeito de ganhar a Copa com Felipão no comando: deixando Felipão ser Felipão.
Você pode gostar ou não dele.
Só não pode negar que suas inúmeras vitórias vieram sempre com fidelidade a si mesmo.
Fosse no Gauchão de 1987 ou na Copa de 2006, quando levou Portugal à semifinal depois de 40 anos.
O EX-MELHOR
Mourinho pode ir para o PSG ou Chelsea e ser substituído por Carlo Ancelotti, ganhando ou não a Champions. Não ganhou no Real metade do que Guardiola fez no Barcelona. Esta Champions pode colocá-lo na berlinda. Ou confirmá-lo como o segundo na história a vencer o torneio três vezes.
INTERIOR
Santos x Palmeiras garante um time do interior, Mogi ou Botafogo, nas semis. Neste século, só duas vezes, em 2009 e 2011, os quatro grandes chegaram nas quatro primeiras posições. No clássico, o Santos é favorito, mas seria mais se o Palmeiras voltasse de Tijuana na sexta-feira para jogar domingo.