segunda-feira, 11 de março de 2013

Ganso, o enigma

Ganso desembarcou no Morumbi, no segundo semestre de 2012, com a perspectiva de esquecer a relação conflituosa com o Santos e de superar seguidas lesões. Mas chegou na nova casa contundido, participou de parte de alguns jogos no final do ano e deixou para 2013 a expectativa de recuperar a condição de protagonista. Dois meses da temporada se passaram, o maestro de antes não é nem solista no tricolor atual, o aproveitamento continua intermitente, as substituições constantes e há sinais, por enquanto tênues, de desgaste com Ney Franco. 

O descontentamento recíproco aflorou na segunda etapa do jogo de ontem com o Palmeiras. Tão logo Lúcio recebeu vermelho por cotovelada em Valdivia (vacilo enorme para um campeão do mundo), o treinador resolveu mexer no time. A primeira providência foi tirar Ganso, que até havia feito primeiro tempo razoável. Entrou Jadson, em princípio poupado, mas cada vez mais titular. Daquela maneira, Ney mostrava desaprovação com o desempenho de Ganso, que saiu calado e com cara amarrada.

A questão se concentra na esperança criada com a contratação de Ganso. À parte os problemas que teve na Vila Belmiro, ninguém colocou em dúvida a qualidade do rapaz. O grau de exigência foi ele mesmo quem criou, com o futebol exuberante como referência (ao lado de Neymar) na geração 3 dos Meninos da Vila. Mas até agora Ganso tem sido comum, correto, normal. E isso é pouco para quem anteriormente jorrou categoria pelo ladrão. Os passes certos, a movimentação discreta não satisfazem. 

Ney deixa evidente a preferência por um meia mais vibrante como Jadson. Daí a insistência por Ganso como opção de banco ou para começar determinadas partidas. O técnico dribla polêmicas ao afirmar que o aproveitamento de Ganso segue planejamento. Será? Nessa escala progressiva não caberia a permanência dele, até com Jadson ao lado, mesmo com um a menos no time? Essa história promete ter muitos capítulos, com desfecho incerto. Para quem gosta de futebol, fica a torcida para que Ganso se firme, sem rusgas com o técnico, e que não carregue o estigma da indolência. A realidade às vezes é atroz...

A prática foi implacável no duelo. Numa tarde abafada, os rivais deram espetáculo morno na primeira metade. Nenhum entrou com formação atrevida - no lado do Palmeiras, não foi surpresa, pois Gilson Kleina tem se preocupado em trancar o time. No caso do São Paulo, chamou a atenção, porque Ney tem recorrido com regularidade ao trio Aloisio, Luis Fabiano, Osvaldo. O último ficou na reserva, entrou no lugar do Fabuloso e deu velocidade ao ataque.

O ritmo melhorou no segundo tempo, quando Kleina também abandonou pudores defensivos, trocou Charles por Patrik Vieira (o moço deveria ser titular), pôs Leandro na vaga do apagado Vinicius e Wesley na de Vilson. Oportunidades de gol surgiram, o jogo melhorou, mas longe de entrar na galeria das melhores edições do Choque Rei, pois São Paulo e Palmeiras custaram a mostrar que lutavam por vitória. Foi Choque Plebeu.

Holandês campeão. Quando Seedorf se apresentou no Botafogo, no ano passado, teve gente (pouca) que o imaginou como estrangeiro em fim de carreira a fazer turismo no Rio. Pois o veterano meio-campista joga com a vontade de menino e teve desempenho importante na conquista do primeiro turno do Estadual do Rio. Já o Vasco, que precisava do empate, amargou a derrota por 1 a 0 e reforça a vocação para ser vice.