segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Gringo no samba*


A temporada de especulação em torno do sucessor de Mano Menezes está aberta, pelo menos por mais alguns dias. A lista de candidatos domésticos é vasta – os nomes o torcedor conhece de cor e salteado e vão de Tite a Abel, de Muricy a Felipão. Até Luxemburgo retornou à berlinda. Opções boas, de gente conhecida, pratas da casa. Todos com conquistas relevantes nas respectivas carreiras.
No meio dos torpedos e da cravação de eleitos ao cargo, ressurgiu a sugestão de convidar um estrangeiro, mais precisamente o espanhol (ou catalão, à escolha do freguês) Pep Guardiola para a missão de levar o Brasil ao hexa em 2014. Ilustre representante da novíssima geração de treinadores, fez fama e fortuna na construção da exuberante armada do Barcelona. Sob o comando dele, Messi e fiéis escudeiros conquistaram nos últimos anos tudo o que se possa imaginar, de Campeonato Espanhol ao Mundial de Clubes. Com futebol requintado, de alta qualidade, irretocável.
Guardiola não se faz de rogado e avisou, de acordo com o Lance! deste sábado, que não pensaria duas vezes para aceitar eventual convite. O desafio de guiar a turma da amarelinha seria motivo suficiente para tirá-lo das férias que se autoconcedeu desde que largou o Barça, no meio do ano. Com atrevimento, teria acrescentado que ganharia a Copa.
Não duvido. Guardiola esbanjou competência na terra dele, com o mérito de harmonizar talentos no Barcelona e obter o melhor do grupo sob sua guarda. O mais interessante, com um estilo à brasileira, como ele mesmo sublinhou, um ano atrás, após a surra aplicada sobre o Santos, na final do torneio de clubes no Japão. Na época, candidamente admitiu que ainda garoto aprendera a amar o estilo canarinho. Ou seja, apenas copiou um método de atuar que nos era tão característico e que, no entanto, abandonamos. Viramos europeus, até que um europeu revelou que virara… brasileiro.
Um tempo atrás, a hipótese de um gringo orientar a seleção pentacampeã do mundo me faria corar de raiva. Reconheço que era atitude de nacionalismo extremado, autossuficiência provocada por história rica de craques e taças. Reação que não teria hoje. As fronteiras andam tão escancaradas no mundo da bola que nada mais surpreende. Alguém que esteja na Ucrânia pode sentir-se íntimo do Brasil, diante das facilidades tecnológicas para acompanhar o que rola por aqui. E vice-versa. Sem contar a peregrinação de jogadores para todo canto.
Guardiola não cairia de paraquedas, assim como Felipão não era nenhum ET quando aceitou a proposta para treinar Portugal. Lembra? Encontrou resistência entre colegas e jornalistas lusos. Com o tempo, e com os resultados, vingou na terrinha e por lá permaneceu por uma Eurocopa e um Mundial. Com bom retrospecto.
Por que não arriscar?