segunda-feira, 11 de junho de 2012

No melhor jogo da Euro, empate entre duas seleções fiéis a seu modo de ver futebol

Eu tenho todo o respeito pela história da Itália no futebol. Respeito pelos resultados e pela maneira de jogar. Apenas não sou obrigado a gostar dessa maneira de ver o jogo.

No domingo, a Itália fez um grande jogo contra a Espanha. A seu estilo. Que hoje não é, não, uma retranca. Eu chamo de "retranca" aquela coisa de 11 defendendo, o antifutebol, querer que não haja jogo e que o duelo acabe 0 a 0. A Itália não joga assim. A Itália simplesmente prioriza a defesa para depois pensar no ataque. Isso não é errado. De novo, só não me obriguem a gostar.

Um dia, em Madri, um grande amigo, jornalista francês da Eurosport, comentou comigo. "Vocês, brasileiros, acham que futebol é só atacar. E futebol é atacar e também defender".

Ele tem razão. A escola do Brasil sempre desprezou a arte de defender, nunca tivemos sistemas defensivos consistentemente sólidos em nossas bases e campeonatos e é essa, na minha opinião, a razão do desnivelamento entre o Brasileirão e as ligas europeias.

A Itália, ao contrário do Brasil, pensa primeiro em defender. Primeiro, na organização tática. Primeiro, em evitar que o outro te faça dano. Depois, pensa em como fazer dano. Pensa em soluções para chegar ao gol do outro lado. Sempre foi assim historicamente, é a maneira deles de ver futebol.

Se dá resultado? Não de forma constante. Consideremos o futebol pós-Guerra, somente. E a Itália tem no currículo uma Euro e duas Copas. A Espanha, por exemplo, tem duas Euros e uma Copa. A França, uma de cada. Tirando a Alemanha, a Itália está nivelada às outras "grandes" europeias. Às vezes chega (mais em Copas), às vezes dá papelões (mais em Euros).

Em Gdansk, a Itália foi fiel a seu estilo histórico. E fez bem. Contra uma Espanha sem atacante de ofício, Prandelli colocou oito jogadores compactados entre Buffon e a intermediária, às vezes com 3 e 5, na maioria das vezes com 5 e 3. Entre os zagueiros, De Rossi, que foi o melhor do time. Um volante que já chegou a ser um jogador ofensivo e agora comanda a zaga. Interessante.

A Itália disputou a posse de bola nos primeiros 20 minutos de jogo, depois não conseguiu mais (acabou 60 a 40 para a Espanha). Essa posse da Itália, quando a teve, consistia em ficar com ela no campo defensivo para que a Espanha não a tivesse. E consistia em tentativas de ligações diretas entre Pirlo e os atacantes. Deu certo, e no primeiro tempo a Itália obrigou Casillas a fazer três defesas importantes.

No segundo tempo, a Espanha passou a girar a bola com mais velocidade e a chutar mais a gol, dois recursos para furar a muralha que impedia a fluência de seu jogo nos primeiros 45 minutos. Em menos de 5 minutos, foram duas defesaças de Buffon em chutes de Cesc e Iniesta. Conforme o tempo foi passando, no entanto, a consistência defensiva da Itália foi falando mais alto.

É a hora em que fica mais nítida a necessidade de ter um jogador de referência à frente para a Espanha.

Os espanhóis foram a campo com Busquets e Xabi Alonso na proteção, depois Xavi, Iniesta, Silva e Cesc. É necessário, na continuidade do torneio, ter Torres ou Llorente no time. Quem sai? Possivelmente Cesc ou Silva. Mas poderia ser Xabi Alonso ou Busquets, já que eles não foram eficientes para evitar a exposição do sistema defensivo quando a Itália teve a bola.

Foi por isso que Balotelli teve uma chance clara desperdiçada (esse é um baita maluco). E foi por isso que Pirlo conseguiu habilitar Di Natale para o 1 a 0. A Espanha reagiu rápido e empatou com Cesc, após passe brilhante de Silva. E teve muitas chances de virar depois que Torres e Navas entraram no lugar dos dois protagonistas do gol espanhol - apesar de não terem jogado bem.

Torres perdeu um mano a mano com Buffon, que interpretou o que o atacante faria. Depois errou um passe de morte. E depois preferiu tentar um golaço por cobertura em vez de passar para um livre Jesús Navas. Três chances desperdiçadas por Torres. Um jogador que está sem confiança e, por essa razão, toma as decisões equivocadas em campo. Torres nunca foi grosso, mas anda perdendo gols demais. A única coisa que um atacante não pode fazer na vida.

Mas fica a lição para Del Bosque. É necessário ter um Torres ou um Llorente para que o sistema de passes no meio encontre alguém que finalize.

Essa é a escola espanhola de toda a vida? Não. Na verdade, é mais uma escola do Barcelona que está se espalhando por todo o país, que caiu no gosto dos técnicos de lá, da imprensa, dos torcedores e das crianças - e são elas que viram os atletas do dia de amanhã. A Fúria se transformou em tike-taka de uns 8 anos para cá - um termo cunhado por um narrador de basquete, que virou de futebol e morreu há alguns anos. Não é propriamente uma escola. Mas é o jeito de jogar atual da Espanha, e esse jeito de jogar foi respeitado em Gdansk e o será durante toda a Eurocopa.

Fiéis a seu estilo, Espanha e Itália fizeram um jogão para quem gosta de ver todas as facetas desse esporte chamado futebol. Seguirão fiéis. Creio que a Espanha disputará o título, creio que a Itália ficará pelo caminho.