quarta-feira, 16 de maio de 2012

Zaragoza já viveu agonia do Tottenham. E Uefa virou, sim, a mesa em 2005

Terminar a temporada na zona de classificação para a Champions League e, ainda assim, não disputá-la. Pode acontecer com o Tottenham, caso o Chelsea seja campeão neste sábado. Mas já aconteceu antes, em 2000, quando o Zaragoza, quarto colocado na liga espanhola, foi preterido para que o Real Madrid defendesse seu título.

A diferença para a situação atual, como explica o último post, é que a substituição do quarto colocado pelo atual campeão é obrigatória. Na época, não era. A decisão coube à federação espanhola, que (não diga!) preferiu indicar o Real Madrid.

Sobrou apenas a Copa da Uefa para o Zaragoza, que havia feito uma temporada excepcional, incluindo uma goleada de 5 a 1 sobre o próprio Real Madrid, em pleno Bernabéu. Algo impensável para os dias de hoje, em que o Real Madrid termina uma liga com 100 pontos e o Zaragoza faz milagre para fugir do rebaixamento.



O fato de o atual campeão depender de um aval da federação local para defender o título já deveria ter alertado a Uefa sobre a necessidade de rever o regulamento. Mas não aconteceu, e em 2005 eles se viram de frente a uma situação semelhante. O Liverpool, campeão europeu em uma final histórica contra o Milan, não terminou entre os quatro da Premier League.

Naquela ocasião, porém, a federação inglesa não abriu mão de inscrever os quatro melhores do campeonato. O impasse envolvia dois rivais, já que o Everton seria o time ameaçado de perder a vaga.

Diante do absurdo de um regulamento que não dava vaga automática ao campeão, a Uefa se viu pressionada. Incluir o Liverpool na fase de grupos significaria tirar a vaga de um time que não tinha nenhuma culpa da situação. Depois de vários dias de discussão, a entidade aprovou a entrada dos Reds na primeira fase preliminar, quando enfrentaram o TNS, do País de Gales.

Uma decisão administrativa que viola algo previsto em regulamento não é nada diferente de uma virada de mesa, por mais que torcedores radicais possam questionar o termo.

A virada teve efeitos colaterais. O regulamento que prevê o máximo de quatro times por país tem uma razão de ser. Uma parte da receita distribuída aos clubes pela participação na Champions League vem do "market share", ou seja, o valor do mercado televisivo de cada país. Portanto, se o país tem um clube a mais, as fatias do bolo ficam menores.

A circunstância excepcional da inscrição do Liverpool fez com que o time jogasse sem proteção de país, podendo enfrentar clubes ingleses em qualquer etapa do torneio. Aconteceu na fase de grupos, quando o time de Rafa Benítez se deparou com o Chelsea.

Quem tem dúvidas sobre a história pode consultar os links a seguir, de notícias da época.

Uefa clarifies warning to Everton (Uefa esclarece alerta ao Everton) - 11/3/2005

Uefa rules out extra Euro place (Uefa descarta vaga europeia extra) - 25/4/2005

Uefa give top priority to resolving Liverpool issue (Uefa dá prioridade a resolver caso Liverpool) - 30/5/2005

Liverpool get in Champions League (Liverpool entra na Champions League) - 10/6/2005

A partir daquele caso, o campeão passou a ter sempre a vaga automática na fase de grupos da competição seguinte. Mas, naquela ocasião, a Uefa rasgou seu regulamento. Trata-se de uma entidade infinitamente mais organizada do que vemos por aqui, mas não significa que seja imaculada e não dê suas escorregadas de vez em quando.