O lobo solitário, que percorre as ruas de Londres de casaco de veludo porque começou a esfriar à noite, pede licença aos Jogos Olímpicos e fala hoje de futebol. Ou melhor, do racismo no futebol.
Os ingleses estão para lá de temerosos com o que pode acontecer aos cinco mil torcedores que viajarão à Polônia e Ucrânia para acompanhar a Eurocopa.
O Ministério do Exterior inglês divulgou nota advertindo os torcedores descendentes de africanos, caribenhos e asiáticos para ter muito cuidado, principalmente nas cidades-sede da Ucrânia, onde torcedores locais foram flagrados recentemente pelas câmeras do programa “Panorama”, da BBC, o mesmo onde trabalha Andrew Jennings, agredindo impiedosamente um grupo de asiáticos.
O ex-zagueiro Sol Campbell, que defendeu durante anos Arsenal, Tottenham e seleção inglesa, fez um desesperado apelo aos torcedores no mesmo programa da BBC: “Não vão para a Ucrânia. Vocês podem voltar dentro de um caixão.”
A entrevista de Campbell, uma espécie de Odvan daqui, isto é, zagueiro-zagueiro, mas com mais técnica, deu o que falar. E fortaleceu os argumentos de Theo Walcott e Oxlale-Chamberlain, jovens talentos do Arsenal e da seleção atual de Roy Hodgson. Na semana passada, eles desistiram de levar a família para a Eurocopa com medo de agressões racistas.
Neste mês, dezenas de mulheres de seios de fora se esfregaram na taça, que percorreu a Ucrânia, em protesto contra o torneio, aos gritos de “Fuck Euro”. O argumento das louras semipeladas: com a chegada de milhares de torcedores aumentará a prostituição no país.
Michel Platini, o bambambã da Uefa, ainda não se manifestou sobre possíveis casos de racismo e prostituição, mas colocou a boca no trombone, acusando ucranianos de “bandidos e vigaristas” pelo violento aumento dos preços dos quartos de hotéis na cidade de Donetsk.
Na contramão das preocupações dos ingleses, tiroteio que parte da mídia londrina, surge uma voz discordante, a do escritor e jornalista inglês Mark Perryman. Ele viveu com a mulher, descendente afro-caribenha, e os filhos em Kiev. Disse que a reportagem que fez soar o alarme foi um exagero da produção do “Panorama” e que a imprensa livra a cara da Polônia, onde a situação, aí sim, “é muito pior.”
Perryman contou que a Ucrania gastou muito dinheiro para realizar uma formidável Eurocopa, e que os principais times do país, Shakhtar Donetsk e Dínamo de Kiev, possuem seis, sete jogadores negros, que convivem muito bem com os torcedores. Lembrou que Kiev é uma das maiores e mais belas cidades da Europa, que o Dínamo já foi campeão duas vezes da Copa da Europa e ninguém saiu ferido.
Por ser um intelectual e um jovem homem de esquerda, Perryman recordou, ironicamente, que foi na Criméia que Tchecov escreveu sua obra mais importante. “O que glorifica qualquer nação”, concluiu.
Só resta esperar.
PS. É bom torcer, e isso não justifica nenhuma reação racista (entendam muito bem, por favor), para que alguns torcedores ingleses não se transformem em vândalos, como acontece quando vão assistir partidas no exterior.
Os ingleses estão para lá de temerosos com o que pode acontecer aos cinco mil torcedores que viajarão à Polônia e Ucrânia para acompanhar a Eurocopa.
O Ministério do Exterior inglês divulgou nota advertindo os torcedores descendentes de africanos, caribenhos e asiáticos para ter muito cuidado, principalmente nas cidades-sede da Ucrânia, onde torcedores locais foram flagrados recentemente pelas câmeras do programa “Panorama”, da BBC, o mesmo onde trabalha Andrew Jennings, agredindo impiedosamente um grupo de asiáticos.
O ex-zagueiro Sol Campbell, que defendeu durante anos Arsenal, Tottenham e seleção inglesa, fez um desesperado apelo aos torcedores no mesmo programa da BBC: “Não vão para a Ucrânia. Vocês podem voltar dentro de um caixão.”
A entrevista de Campbell, uma espécie de Odvan daqui, isto é, zagueiro-zagueiro, mas com mais técnica, deu o que falar. E fortaleceu os argumentos de Theo Walcott e Oxlale-Chamberlain, jovens talentos do Arsenal e da seleção atual de Roy Hodgson. Na semana passada, eles desistiram de levar a família para a Eurocopa com medo de agressões racistas.
Neste mês, dezenas de mulheres de seios de fora se esfregaram na taça, que percorreu a Ucrânia, em protesto contra o torneio, aos gritos de “Fuck Euro”. O argumento das louras semipeladas: com a chegada de milhares de torcedores aumentará a prostituição no país.
Michel Platini, o bambambã da Uefa, ainda não se manifestou sobre possíveis casos de racismo e prostituição, mas colocou a boca no trombone, acusando ucranianos de “bandidos e vigaristas” pelo violento aumento dos preços dos quartos de hotéis na cidade de Donetsk.
Na contramão das preocupações dos ingleses, tiroteio que parte da mídia londrina, surge uma voz discordante, a do escritor e jornalista inglês Mark Perryman. Ele viveu com a mulher, descendente afro-caribenha, e os filhos em Kiev. Disse que a reportagem que fez soar o alarme foi um exagero da produção do “Panorama” e que a imprensa livra a cara da Polônia, onde a situação, aí sim, “é muito pior.”
Perryman contou que a Ucrania gastou muito dinheiro para realizar uma formidável Eurocopa, e que os principais times do país, Shakhtar Donetsk e Dínamo de Kiev, possuem seis, sete jogadores negros, que convivem muito bem com os torcedores. Lembrou que Kiev é uma das maiores e mais belas cidades da Europa, que o Dínamo já foi campeão duas vezes da Copa da Europa e ninguém saiu ferido.
Por ser um intelectual e um jovem homem de esquerda, Perryman recordou, ironicamente, que foi na Criméia que Tchecov escreveu sua obra mais importante. “O que glorifica qualquer nação”, concluiu.
Só resta esperar.
PS. É bom torcer, e isso não justifica nenhuma reação racista (entendam muito bem, por favor), para que alguns torcedores ingleses não se transformem em vândalos, como acontece quando vão assistir partidas no exterior.