quinta-feira, 19 de abril de 2012

Chelsea decide usando arma do Barça. No Camp Nou, será mais difícil repetir façanha defensiva

Sabem a história da eliminatória de 180 minutos? Às vezes, essa "máxima" se aplica. Às vezes, é apenas discurso vazio, frase feita de jornalista ou jogador.

No caso de Chelsea x Barcelona, a história será a mesma durante 180 minutos, mudando apenas data e local. O duelo do Camp Nou será idêntico ao de Stamford Bridge: um time atacando e buscando o jogo, o outro time usando armas diferentes. Menos nobres, talvez, na visão dos românticos da bola, mas igualmente honestas.

Em 2009, nas semifinais da Champions League, o Chelsea de Guus Hiddink saiu do Camp Nou no jogo de ida com um empate de 0 a 0. Mas não foi só às custas de marcação. Foi com muitas faltas, muita pancadaria e a total conivência do árbitro alemão Wolfgang Stark. Estão mais vivos na memória coletiva os pênaltis não marcados para o Chelsea naquela semifinal de Londres, mas o fato é que o juiz tinha sido decisivo para o empate sem gols da ida.

No jogo desta quarta-feira, o Chelsea marcou e não bateu, foi o leal o tempo todo (aqui, fica o recado para Mourinho: intensidade não significa, necessariamente, destempero). Uma linha de quatro atrás, com laterais que não avançavam e zagueiros firmes, e uma linha de cinco no meio. Mata e Ramires tinham a clara missão de marcar forte (um pela esquerda, o outro pela direita) e, eventualmente, puxar algum contra ataque. Foi um 4-5-1 clássico, que às vezes virava 4-6-0, já que até Drogba marcava.

Em nenhum momento, os jogadores do Barcelona se encontravam em situação de um contra um. As ajudas chegavam de forma imediata.

Tem mais. O Chelsea fez a lição de casa e percebeu que uma das grandes armas do Barcelona é a forte marcação no ataque exercida por seus jogadores. Um bom percentual do número de gols do Barcelona sai de bolas roubadas por Messi, Alexis e companhia no campo de defesa do rival. Pressiona, toma a bola, troca passes rapidamente e finaliza a jogada.

Os jogadores do Chelsea tinham hoje a claríssima ordem para não perder tempo com a bola no pé. Assim que a bola era recuperada, havia a imediata conexão direta com Drogba ou quem estivesse à frente. A ideia era não arriscar, não perder uma bola boba no meio. Isso só aconteceu uma vez durante todo o jogo: Mikel perde uma bola para Messi, que rouba, arranca em velocidade e dá o passe de gol para Cesc Fábregas. Cesc tira de Cech, mas Ashley Cole se recupera a tempo, na linha do gol. Um erro, um quase gol.

A ironia é que foi justamente com um erro, com uma bola recuperada no meio de campo, que o Chelsea chegou à vitória. E uma bola perdida por Messi. Coisa raríssima.

Lampard rouba a bola de Messi, levanta a cabeça e logo aciona Ramires. A velocidade de Ramires no lance é impressionante. E aí Drogba teve a competência que marcou toda a sua carreira. Competência, esta, que faltou ao time do Barcelona.

No primeiro tempo, o Barça parecia satisfeito com a repetição do script de Milão (0 a 0). No segundo tempo, abaixo no placar, a coisa mudou. Foi um time mais enérgico, mais a fim, só que o nervosismo foi substituindo a paciência e facilitou a vida da defesa do Chelsea. Fábregas e Alexis tiveram duas chances claras na partida, e o gol perdido por Busquets nos acréscimos beirou o inacreditável.

Resultado justo?

Tenho enormes dificuldades para julgar partidas assim. O Barcelona foi o time que buscou o jogo, que quis construir futebol, que chegou perto do gol adversário. Teve a bola (74% de posse), finalizou mais (19 a 4), dominou, criou...

Mas como tirar os méritos do Chelsea? Tinha uma proposta, foi fiel a ela, defendeu com perfeição. No fim, creio que o placar foi justo na medida em que refletiu a competência dos dois times na busca de seus objetivos. O Chelsea atingiu o que queria, o Barça errou demais nas finalizações.

No Camp Nou, no entanto, o Barcelona é amplo favorito. E o campo, mais largo do que Stamford Bridge, dificulta demais a vida dos times que querem só se defender. Só uma vez na temporada, em outubro, contra o Sevilla, o Barça passou em branco em um jogo em casa.

O Barcelona jogará da mesma maneira. Precisa ser mais eficiente e "esticar" mais o campo para abrir a retranca rival. O Chelsea sonha com um gol fora de casa, que lhe permitiria até mesmo levar dois para avançar.

Sigo acreditando em Real e Barça favoritos para reverter as derrotas. Em busca do milagre de eliminar os gigantes espanhóis, o Chelsea leva ligeira vantagem em relação ao Bayern por não ter levado gol em casa.