segunda-feira, 19 de março de 2012

A divisão do poder

No dia seguinte à renúncia de Ricardo Teixeira da CBF, o presidente do Atlético-MG, Alexandre Kalil, telefonou para o diretor de seleções Andrés Sanchez. Pediu para assumir o papel de líder dos clubes. "Eu não vou liderar nada, não vou dar a cara para tomar porrada de novo", justificou Kalil.

Na medida em que os dias se passaram e a terra voltou a seu lugar, foi possível descrever o que se passou entre a decisão de Ricardo Teixeira renunciar, ano passado, e sua carta de renúncia, segunda passada. Antes de sair de cena, o ex-presidente dividiu a CBF em três loteamentos. Presenteou Ronaldo com o Comitê da Copa, deu a Andrés Sanchez as seleções e entregou a Marco Polo Del Nero, ventríloquo de José Maria Marin, a intrincada relação política com as federações. Todos ficarão felizes até as eleições, no final de 2014, desde que um não interfira na vida do outro.
Eis o problema...
Marco Polo Del Nero disse ao Estado na quinta-feira que não é candidato à presidência da CBF. É.
Andrés Sanchez tem afirmado seguidas vezes que não é candidato a cargo nenhum. Também é.
Andrés ouviu o pedido de Alexandre Kalil e respondeu que tomará as rédeas do jogo político dos clubes, sim. Mas na hora certa. Para Andrés Sanchez, o momento certo não é agora. Chamar os clubes para se unirem ameaçaria o poder das federações e, consequentemente, o presidente da Federação Paulista, Marco Polo Del Nero, que poria fogo na seleção brasileira, dirigida por Mano Menezes, a quem Del Nero considera um aliado de Andrés.
A renúncia de Ricardo Teixeira fará bem ao futebol brasileiro a médio prazo. Mas a situação política vai levar um tempo para se assentar.
Para assumir seu lote, Del Nero resolveu problemas com antigos adversários, como o São Paulo de Juvenal Juvêncio. Seu problema é ter paz com as sete federações descontentes, o que pode conseguir com sua inesgotável habilidade política, inquestionável a quem herdou o poder de Eduardo José Farah e agora um loteamento de Ricardo Teixeira. Andrés nunca foi líder dos clubes, mas teve influência e ajudou a separá-los em 2011. Seus amigos dizem que 15 clubes lhe telefonaram nesta semana para conhecer sua opinião.
O cenário indica que nada vai acontecer até 2014, quando Andrés e Del Nero brigarão. O primeiro será o representante dos clubes, O segundo, das federações. Se o vencedor dessa batalha terá outros inimigos ou se reinará absoluto depende da guerra do poder daqui até lá. Também depende do sucesso da seleção na Copa do Mundo.
Brasil campeão do mundo em 2014, ponto para Andrés. Seleção fracassada, vantagem para Del Nero. Mas derrota afasta público e patrocinadores. Del Nero sabe que não é bom brincar com fogo.
Ouro olímpico. Mano Menezes está protegido por Andrés Sanchez e também por seus resultados. Mas a Olimpíada é importante, para não dar ao presidente da Federação a ideia de que pode interferir na comissão técnica. Mano sabe onde está pisando.
Ele não pensa em Ronaldinho Gaúcho na Olimpíada. Pensa em Thiago Silva. Quem cravar um dos dois outros nomes acima dos 23 anos pode quebrar a cara.