sexta-feira, 4 de março de 2011

Morte com receita médica

Um programa para quem curte esporte e jornalismo. Assim é o “Histórias do Esporte”, todo mês na grade de programação da ESPN Brasil. A última edição trouxe uma entrevista com o advogado Marco Antônio Martins Ramos, contratado pelo fisiologista Pedro Balikian, acusado de ministrar substância dopante a cinco atletas brasileiros, convocados para o Mundial de Atletismo na Alemanha, em 2009.

Foi apenas mais um escândalo do esporte, de uma indústria muito lucrativa e que não para de crescer. Na defesa de seu cliente, Martins Ramos defende a legalização de algumas substâncias hoje proibidas, fala em tecnologia à disposição dos atletas de alto rendimento.

A entrevista ao repórter Roberto Salim é estarrecedora. A substância Eritropoetina, a EPO, é tratada como se fosse água com açúcar. O depoimento, na verdade, é uma confissão de culpa.

A EPO, proibida pela Agência Mundial Antidoping (Wada), melhora o desempenho dos atletas, pois amplia o volume de glóbulos vermelhos no sangue e, consequentemente, eleva a resistência de seus consumidores.

"Nós somos hipócritas, todo mundo faz uso, rapaz. Nós compramos esse espetáculo, nós sabemos o custo disso para o atleta. Tira o rótulo, traz essas pessoas para a legalidade, assina embaixo o que você está fazendo, se responsabiliza por isso, que nós vamos ter um esporte de qualidade da mesma forma, mais competitivo, porque mais pessoas terão acesso a essa tecnologia, nós teremos um esporte melhor e acabamos com alguns interesses", disse o advogado.

É a institucionalização do doping. “Chegou o momento de a gente admitir que esta tecnologia é o que existe no esporte hoje. Nós não podemos colocar um rótulo: é doping e ponto final! A coisa é casuística, é caso a caso, é indivíduo por indivíduo. Ou a gente sistematiza isso, traz isso para o papel e traz essa situação para uma situação de legalidade, ou isso continua existindo do jeito que sempre existiu e vai continuar existindo, na clandestinidade. Aí sim nós corremos o risco de estar prejudicando a saúde desses atletas", defende Martins.

O advogado acredita que basta a orientação de um médico para legalizar a situação, e assim ninguém sairá prejudicado. Mas sabemos que a história verdadeira não é essa. Muitos esportistas utilizam essas substâncias amparados por profissionais do esporte e da medicina. Além de problemas de saúde irreversíveis, muita gente morre também.

É a morte com receita médica.

Veja a entrevista.



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