terça-feira, 29 de março de 2011

Dedo na ferida

A declaração saiu meio abafada por conta de tanta gente em volta após o fim do jogo. Mas Rogério Ceni disse as-sim: “O centésimo gol, essa vitória é para a nação são-paulina. Talvez para a entidade SãoPaulo, que luta contra tanta coisa ruim no futebol”.
Foi exagero do craque são-paulino? Sem dúvida. O clube que tanto Rogério Ceni ama dança conforme a música como todos e puxa a sardinha para o seu lado como todos.
Esteve alinhado à CBF quando negociava o Morumbi como estádio da Copa, por exemplo.
Só depois da eleição no Clube dos 13, em que se colocou contrário à candidatura apoiada por Ricardo Teixeira e teve seu estádio descartado para o Mundial é que passou a fazer uma oposição mais forte ao poder central do futebol.
Afastamento que pode se transformar em reaproximação no futuro. No mundo do futebol, tudo pode acontecer.
De tão são-paulino, Rogério Ceni pode ter se sentido atingido ao ver seu clube sendo espremido pela CBF nos últimos tempos. Seja com o descarte do Morumbi ou com a diminuição de jogos em TV aberta na tabela do Brasileiro de 2011.
Ou ainda na negociação pelos direitos de transmissão, em que o São Paulo se vê cada vez mais isolado.
O sentimento de que está lutando contra tudo e contra todos é o do torcedor são-paulino hoje. E por isso Ceni desabafou.
Não há um amante do clube que não tenha virado mais fã ainda do cracaço depois do que ouviu ao final da partida. Foi a cereja no bolo após o inacreditável feito de fazer o centésimo gol, de falta, em uma vitória em cima do maior rival.
Ocorre que no mundo maniqueísta do futebol, quem não gosta de Ceni o odeia. Portanto, quem não gosta de Ceni achou que suas palavras foram apenas oportunismo e demagogia barata.
É uma maneira de se ver a questão, mas também uma maneira fácil de não dar atenção ao que foi falado e consequentemente não se discutir o assunto.
Afinal, um personagem com o peso de Rogério Ceni vir a público para tocar em feridas que até dirigentes se esforçam para se esquivar é tão raro quanto um goleiro fazer 100 gols.
Se jogos em gramados horríveis ou no calor de 40 graus provocam no máximo uma ou outra chiadeira da boleirada, Imagine então uma discussão política em que os resultados não são vistos imediatamente para o jogador.
Por isso é que o desabafo de Rogério Ceni é importante.
Vale a pena esquecer que ele pode ter falado isso com o seu coração tricolor e olhar com atenção como o tratamento dado a nossos clubes varia de acordo com o posicionamento político deles.
Não há dúvida de que esta política, a médio prazo, será ruim para todos os clubes.
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