terça-feira, 30 de novembro de 2010

É legítimo o direito de torcer contra o time que você bem entender

O torcedor se alimenta da paixão pelo seu time somada ao ódio pelo maior rival. É assim no mundo todo. O que seria do Grêmio sem o Internacional para ser detestado, e vice-versa? O mesmo vale para Celtic e Rangers, Corinthians e Palmeiras, Roma e Lazio, Flamengo e Vasco, Barcelona e Real Madrid, Atlético e Cruzeiro, Sevilla e Betis, Vitória e Bahia, Manchester United e Liverpool, Fenerbahce e Galatasaray, Atlético e Coritiba, River Plate e Boca Juniors, Fortaleza e Ceará, Racing e Independiente...


O Diploma de Sofredor, que fez enorme sucesso na coluna de Otelo Caçador
O Diploma de Sofredor, que fez enorme sucesso na coluna de Otelo Caçador em O Globo
Não achei deplorável o comportamento dos torcedores do Palmeiras que desejaram a derrota do próprio time diante do Fluminense para que o Corinthians não fosse beneficiado. Achei normal. Aliás, normalíssimo. É assim que funciona e sem essa rivalidade, o futebol perderia muito de sua graça. Claro que excessos são condenáveis e quem é alviverde e não queria a vitória sobre os tricolores deveria ter ficado em casa. Ir ao estádio ofender os jogadores, convenhamos, é postura de pústula.

Camiseta feita para tirar sarro de flamenguistas
Flamenguistas sofreram depois que o América do México os eliminou da Libertadores 2008
Mas o comportamento de alguns palmeirenses não invalida o direito de todos eles. Direito de torcer contra quem bem entenderem, até contra a própria camisa num momento em que o time não tem o que conquistar. Tudo para não ver o triunfo rival. Aos jogadores cabe a obrigação de jogar bem, na medida do possível, dentro do que podem apresentar. E o Palmeiras, incapaz de empatar com o rebaixado Goiás, não teria como ir muito além do que mostrou diante do Fluminense.

Claro que poderia ter buscado mais o gol, nem que fosse aos trancos e barrancos, da mesma forma que o Vasco teria como ao menos tentar agredir o Corinthians no Pacaembu. Não o fez. Foram apenas cinco finalizações. Nem parecia o time que três semanas antes concluiu 20 vezes e lutou até o final para ao menos empatar com o Fluminense (perdeu por 1 a 0), a ponto de levar até o goleiro Fernando Prass à área adversária nos instantes finais da peleja. Arqueiro que, por sinal, falhou clamorosamente no primeiro gol corintiano.

Depois que fez três gols no Flamengo, Cabañas  virou ídolo do Vasco sem nunca ter jogado no clube
Depois que fez três gols, Cabañas virou ídolo do Vasco
E porque o Vasco jogou sem o mesmo ímpeto? Porque não tinha a mesma motivação do confronto contra o rival carioca. Da mesma maneira que o Palmeiras não tinha motivos para fazer um cotejo histórico em Barueri. E, não podemos ignorar, a isso tudo deve ser somado o "dia seguinte" desses jogadores, que corriam o risco de serem hostilizados nas ruas por terem ajudado os rivais na luta por um título nacional. Isso assusta, é claro. E esse tipo de pressão não se restringiria a alguns trogloditas de organizadas.

Quem nunca secou um rival? Só quem jamais torceu apaixonadamente por um time. Quando apenas um clube brasileiro sobrevive na Libertadores, alguns dizem que o time tal "é o Brasil" na competição. Balela. A maioria seca essa equipe, especialmente os rivais diretos. Quando um paulista faz gol em duelo contra um mineiro, tem foguetório em Belo Horizonte. O mesmo acontece em São Paulo quando um clube local sofre gol de gaúcho. E quem dispara os rojões? Os rivais. E não só os de organizadas.


Para secar o Fluminense na LIbertadores de 2008, a
Já para secar o Fluminense na Libertadores de 2008, a sigla LDU ganhou um novo significado
Até na mídia muitos defendem e até pedem a torcida do pessoal no Brasil contra a Argentina, numa tentativa de acirrar uma rivalidade meio que fajuta. Quantos brasileiros conhecem um argentino para tirar um bom sarro em caso de derrota dos hermanos? Poucos. Pouquíssimos. Quem realmente se importa com o eventual sucesso do país vizinho? Quem fica preocupado pensando, "ai meu Deus, os argentinos vão me sacanear na escola e no trabalho..." ? E ainda assim secar a Argentino é "hobby nacional". Muitos acham lindo. Qual a diferença?

Torcer contra é um direito de cada um. Os adeptos do (chatíssimo) politicamente correto que me perdoem, mas não vejo problema algum em secar. Pelo contrário, sem excessos, sem violência, é uma das grandes curtições do nosso esporte. Espero que jamais aconteça algo como torcedores de Flamengo e Vasco torcendo um pelo outro, corintianos apoiando palmeirenses, cruzeirenses com a camisa do Galo ou colorados dando força ao Grêmio. Seria o começo do fim.

E até os vascaínos aderiram ao time equatoriano contra o Fluminense
E até vascaínos aderiram ao time equatoriano