sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Esporte olímpico cubano pode reviver dias melhores com reaproximação dos Estados Unidos

GUSTAVO HOFMAN
A tradicional e bela avenida Malecón vai receber bem mais turistas a partir de 2015
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Qualquer país do mundo que sofra embargo econômico dos Estados Unidos passaria por enormes dificuldades. Com Cuba não é diferente.
Nesta semana, os governos norte-americano e cubano anunciaram a retomada de relações diplomáticas, com participação fundamental do Papa Francisco. Como o próprio Barack Obama discursou, "O isolamento por cinco décadas não funcionou". Presos políticos e espiões foram soltos pelos dois países, as embaixadas serão reabertas e Raúl Castro já aguarda a primeira visita oficial do máximo mandatário estadunidense.
O próximo passo é a derrubada do embargo comercial a Cuba, vigente desde 1962 e que precisa passar pelo Congresso americano para cair. Como também bem lembrou Obama, os Estados Unidos têm "relações com a China há 35 anos, e há duas décadas reatou com o Vietnã".
Nesse período de barreiras, de acordo com o último relatório elaborado pelo governo cubano para a Organização das Nações Unidas (ONU), o bloqueio já custou a Cuba US$ 116,8 bilhões. O país latino teve PIB US$ 68 bilhões em 2011. Clóvis Rossi, na Folha de S.Paulo, escreveu que o chanceler cubano "Bruno Rodríguez calculou recentemente que o prejuízo com os 50 anos de embargo foi de impressionante US$ 1,126 trilhão (R$ 3 trilhões)".
Enquanto houve dinheiro soviético nos anos 1960, 70 e 80 para financiar o país, Cuba andou bem. A partir da queda da URSS e o fim da Guerra Fria, a economia entrou em colapso na ilha, apesar de aproximação com a Venezuela, antes do isolamento social, político e econômico da nação sul-americana.
Naturalmente, diante deste cenário, o esporte cubano sofreu consequências sérias. Historicamente os países socialistas optam por desenvolver as modalidades olímpicas como propaganda social. Em Cuba, isso aconteceu e trouxe benefício para o governo e para a população, logicamente. Lembrando que, graças ao modelo público de saúde de Cuba, a expectativa de vida dos nascidos em 2011 por lá é de 79 anos, pouco acima dos norte-americanos, mas com economia infinitamente menor, o que gera o "Paradoxo Cubano de Saúde".
O quadro abaixo mostra a evolução cubana nas Olimpíadas a partir de 1959, ano da Revolução, e o declínio das duas últimas décadas, quando a crise financeira no país - carente do dinheiro soviético e já sem tanto investimento venezuelano - se instalou fortemente.
WIKIPEDIA
Jogos, atletas, medalhas de ouro, prata e bronze, total conquistadas e posição final no ranking
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Eu estive em Cuba há dez anos, ainda sob o regime de Fidel Castro. Passei uma semana em Havana e conheci uma nação alegre e receptiva, mas amargurada pela falta de liberdade e dificuldades econômicas. E vi um povo apaixonado por esportes.
Com a retomada de relações diplomáticas, mais abertura no turismo oriundo dos Estados Unidos e a expectativa enorme pela derrubada de todas barreiras comerciais entre os países, conclui-se também que o esporte olímpico cubano pode reviver dias melhores.
Há enorme debandada dos principais talentos esportivos da ilha, principalmente no boxe e no vôlei, duas das modalidades mais tradicionais dos cubanos (34 e 3 medalhas de ouro, respectivamente). Os melhores seguirão saindo, mas o intercâmbio pode aumentar e ser legalizado, assim como os atletas menores poderão receber salários melhores. Aliás, o Blog do Menon mostra bem esse panorama salarial.
Com mais dinheiro entrando no país, o Comitê Olímpico Cubano poderá aumentar seu orçamento, melhorar as condições de treino e intensificar viagens internacionais. Diversos ginásios e estádios estão sucateados hoje em dia, por falta de manutenção, e podem ser recuperados. Com estrutura melhor e mais investimentos, os resultados voltarão a aparecer. Além disso, com tais aberturas é inevitável a troca de experiências e ideias, que inevitavelmente conduzirão um processo rumo à democracia.
expertise e o know how nunca foram perdidos pelo esporte cubano.
GUSTAVO HOFMAN
Os símbolos da Revolução vivem
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GUSTAVO HOFMAN
Provocações oficiais devem diminuir...
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