terça-feira, 23 de setembro de 2014

Ary Graça é denunciado em fórum internacional

POR JENS SEJER ANDERSEN, diretor da entidade dinamarquesa contra a corrupção no Esporte, PLAY THE GAME.

Discurso  no Conselho da 13a. Conferência Europeia dos Ministros Responsáveis ​​pelo Esporte, em Magglingen, Suíça, 18 de setembro de 2014.
Jens Sejer Andersen foi convidado para dar uma palestra aos ministros europeus que se reuniram na Suíça  para discutir a corrupção no esporte e para assinar uma convenção contra a manipulação de resultados.
Em seu discurso, Andersen salientou a necessidade de combater a corrupção nas organizações esportivas e listou cinco propostas para que os ministros europeus a assumissem.
Abaixo o trecho que diz respeito ao Brasil e as soluções que Andersen propõe. O discurso inteiro, em inglês, está AQUI.
(…)
“Por último, mas não menos importante, o presidente do vôlei mundial desde 2012, Ary Graça do Brasil, parece ter aprendido muito com seus anos como aliado do ex-presidente da FIVB, o mexicano Acosta.
Há alguns meses, Ary Graça foi forçado a deixar sua posição de  presidente da CBV quando a ESPN Brasil documentou que ele tinha dado contratos no valor de 4 milhões de dólares para dois de seus colaboradores mais próximos na Confederação Brasileira de Vôlei.
Ambos receberam por consultorias que jamais fizeram.  Também dois genros de  Ary Graça se beneficiaram.
Agora, os investigadores brasileiras investigam como Ary Graça comandou a CBV, financiada direta e indiretamente pelo dinheiro público nos 17 anos em que a presidiu.
Os contratos ilegítimos devem ser anulados, mas um dos beneficiários, provavelmente, não se importa muito.
Sim, Fabio Azevedo pode não receber todos os  milhões de dólares que imaginava  receber da CBV, mas, em vez disso, Ary Graça lhe garantiu um novo emprego.
Hoje Fabio Azevedo é o diretor-geral da Federação Internacional de Vôlei.
O vôlei mundial é hoje governado por dois homens que assinaram recentemente contratos nebulosos para enriquecerem e enriquecer seus familiares.
Podemos confiar neles?
A intervenção do governo no esporte é um assunto delicado.
Um dos direitos democráticos fundamentais é o direito da livre associação e eu acho que todos nós devemos reconhecer os valores que as centenas de milhares de pequenas, associações desportivas voluntárias trazem para nossas nações europeias.
Há, no entanto, uma diferença muito grande entre as pequenas associações na aldeia vizinha e as federações nacionais ou internacionais que comandam a imensa e lucrativa indústria de entretenimento na economia globalizada..
No setor empresarial esportivo, com a circulação rápida e crescente de muito dinheiro, a liberdade de associação pode facilmente ser pervertida e transformar o esporte em uma fábrica para evasões fiscais, subornos, abuso de mão de obra e cumplicidade com crime organizado internacional.
Esta é a lição aprendida a partir de estudos de manipulação de resultados, doping, tráfico e outras ameaças ao esporte e na sociedade, e esta lição aponta inequivocamente para a necessidade de uma melhor governança no esporte.
Então, como os governos podem agir contra os vícios do esporte sem infringir a liberdade de associação?
Tenho cinco propostas específicas:
Primeiro de tudo, é seu direito e dever proteger o dinheiro dos contribuintes.
O esporte recebe maciços subsídios públicos em todos os níveis, desde o apoio às atividades das bases e instalações esportivas,  investimento em campanhas de licitação para grandes eventos, desenvolvimento de talentos etc. Em troca, as autoridades públicas têm o direito de exigir padrões suficientes de transparência e prestação de contas.
Em segundo lugar, você pode manter uma pressão pública permanente em organizações esportivas, insistindo no esclarecimento total de eventuais escândalos, bem como fornecer suas as ferramentas de que as federações precisam para melhorar sua governança.
Em terceiro lugar, o Conselho da Europa poderia assumir a liderança na criação de um órgão para estabelecer diálogo regyular entre as entidades desportivas internacionais e os governos. Neste contexto, pode-se definir diretrizes para a distribuição de papéis entre a sociedade civil e as autoridades públicas para estabelecer normas mínimas de boa governança.
Em quarto lugar, para dar o pontapé inicial nesse processo eu gostaria de repetir um apelo a partir de  uma reunião de 300 especialistas presentes à nossa reunião em 2001, em Colônia, na Alemanha: eles pediram uma conferência global sobre todas as formas de corrupção no esporte. Talvez o Conselho da Europa possa organizar tal conferência em cooperação com a UNESCO?
Por último, mas não menos importante, deixe-me falar do elefante na sala.
Todo mundo diz que é preciso uma coordenação internacional para combater a corrupção no esporte, mas ninguém parece saber quem vai fazê-la existir.
Vocês acham provável que a coordenação surja por geração espontânea, fruto da Imaculada Conceição?
Sugiro que a Europa assuma a liderança de uma câmara de compensação internacional para a integridade do esporte, uma instituição que pudesse assegurar a coordenação, facilitar o intercâmbio de informações e promover as melhores práticas na luta contra vários tipos de corrupção no esporte.
Pode custar um pouco de dinheiro, mas mas não fazer custará ainda um preço ainda mais alto.
Sr. Presidente, ministros, delegados …
Com o enorme impacto que o esporte tem em nossas vidas diárias em termos de educação, entretenimento, economia, saúde, vida comunitária, planejamento urbano, desenvolvimento pessoal e outras áreas vitais, precisamos de dirigentes esportivos em que possamos confiar.
Isso não vai acontecer sem a sua participação ativa e prontidão para dar os próximos passos na luta contra a corrupção no esporte.
Muito obrigado”.