quarta-feira, 27 de agosto de 2014

O Palmeiras que sabe ser brasileiro, português, paulistano e italiano. O clube de todos os povos faz 100 anos

Confesso que me incomoda um pouco o vermelho na camisa do centenário. O Palmeiras é verde e branco! Foi assim que aprendi, 45 anos atrás, quando entrei no clube pela primeira vez. Os portões verdes escuros altos já diziam isso. E até entendo quando todos os palestrinos ilustres de sobrenomes italianos se emocionam com as referências á fundação.
O Palmeiras completa 100 hoje e é parte da história da cidade de São Paulo e de todo o país. É o clube dos italianos, mas também de pernambuanos como Vavá, Aldemar, Gildo e Rivaldo, dos baianos, paranaenses, o clubes dos paulistanos, que são todos misturados. É o clube também dos italianos.
Meu avô chegou ao Brasil em fevereiro de 1955 vindo de Lisboa. Torcedor do Belenenses em sua terra, escolheu a Portuguesa. E tratou de tentar incentivar seu filho mais jovem, nascido em 1960, a ser luso como ele. Ah, seu Alexandrino, bom português, disse ao Sílvio, meu tio: "Tu vais torcer pra Lusa, ó pá! E vais também ser sócio deste clube que temos aqui bem próximo à nossa casa. Chama-se Palmeiras!"
E lá foi o Sílvio assistir aos treinos de Leão, Eurico, Luís Pereira, Alfredo e Zeca; Dudu e Ademir da Guia; Edu, Leivinha, César e Nei. Aprendi a falar com o meu tio recitando a escalação, mais do que uma formação, uma poesia, como definiu o historiador Fernando Galluppo.
E depois cresci com o time de Telê Santana, que encantou e não ganhou em 1979. Vi gerações formando seu caráter nas derrotas e ouvindo histórias das quais até hoje a gente riu para não chorar. Quando o Palmeiras empatou com a Ferroviária por 0 x 0 no Pacaembu, em 1990, meu tio encostou na marquise do Pacaembu às 11h da noite e olhou no relógio cinco minutos depois. Era meia-noite e meia! Estava em estado de choque. Naquela noite, a Mancha Verde invadiu o clube e quebrou a sala de troféus. 
Três anos a mais de espera, mas já com Evair, César Sampaio, Edmundo, Roberto Carlos e vio o título paulista na tarde de sábado, 12 de junho. E o bi no ano seguinte e os dois Brasileiros seguidos. E o time dos 102 gols em 1996 e a Libertadores em 1999, ano em que nasceu João Pedro. Nem ele nem a Bruna que veio em 2003 no ano do título da Série B também não teve a escolha que meu avô deu ao Sílvio.
As vacas são magras, mas nem tanto. Estas gerações mais jovens viram o título paulista de 2008 e da Copa do Brasil de 2012. Não existe fila, embora a agonia seja parecida e a urgência para voltar a ser grande ainda maior do que nos anos 80, dada a concorrência de clubes do Brasil inteiro e também da Europa.
O Palmeiras é o maior clube verde do mundo! Verde e branco. Como a esperança de ser campeão ano sim ano não, como o velho esquadrão.


ESCLARECIMENTO - Por um vacilo meu, a edição da Folha de S. Paulo no domingo teve Antônio Carlos como zagueiro. Eu escrevi por ato falho, mas minha opção é como está na revista Placar. Apenas troquei Edmundo por Rivaldo, aí sim por uma nova escolha pessoal. O meu Palmeiras de todos os tempos é: Marcos, Djalma Santos, Luís Pereira, Waldemar Fiúme e Roberto Carlos; Dudu e Ademir da Guia; Julinho, César, Evair e Rivaldo. Técnico: Luiz Felipe.